Capítulo XVI

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 Tentei gritar, mas sua mão abafou o som. Aproveitei um momento de distração para morder sua mão com a maior força que consegui, até sentir seu sangue se misturar com a minha saliva.

 Ele gemeu de dor, depois socou meu rosto com tanta força que a rede desamarrou e nós dois caímos ao chão. Assim que ele saiu de cima de mim, rolei para o lado e me levantei com pressa, minha primeira reação foi gritar.

 Tentei correr para algum lugar que fosse minimamente conhecido, mas não tive muito sucesso, então recorri a minha última alternativa.

— FINLEY! - chamei em voz alta - FINLEY!

 Olhei para os lados na esperança de achar a rede dele, mas eram rostos demais para pouco espaço.

 Senti uma mão agarrar meu cabelo com força e puxar meu corpo para trás. Caí pelo susto e comecei a ser arrastada, mas poucos centímetros depois, o homem parou de andar.

— Se não quiser ver seu sangue escorrer por essa madeira imunda sob seus pés, é melhor soltá-la.

 Imediatamente, meu cabelo ficou livre e eu me levantei.

 A arma de Finley estava apontada para a cabeça do homem, cujo estava com as mãos para cima em rendição.

 Rapidamente me coloquei atrás do imediato, enquanto ele analisava meu rosto rapidamente.

— Vá se deitar, marujo. - disse firmemente - Amanhã decidimos o que faremos com você!

 Com medo, o homem assentiu concordando e se afastou de cabeça baixa. Assim que ele se retirou, Finley direcionou toda sua atenção para mim.

— Desgraçado. - disse ao afastar uma mecha do meu cabelo - Olha o que ele fez com seu rosto. - encarei seus olhos - Vem, vou dar um jeito nisso.

 Segui Finley até o convés, lá ele colocou um cobertor sobre meus ombros quando me sentei, depois molhou um pedaço de pano qualquer e se sentou em minha frente.

 Ele analisou meu rosto por alguns instantes, depois passou o pano no meu lábio inferior, tirando o excesso de sangue.

— Sinto muito. Eu sabia que isso ia acontecer, avisei ao John dos perigos de te deixar no meio deles. - disse meio triste.

— Tá tudo bem. - me olhou surpreso - Você me ajudou, isso já basta.

— Então, você sabe falar? - perguntou ironicamente.

— Por que eu não saberia? - ficou um bom tempo em silêncio.

— Sua voz é bonita, me sinto lisonjeado por poder ouvi-la. - sorriu - Apesar de ter achado que demoraria um pouco mais para usufruir de tal honra.

— Eu falo apenas na presença daqueles que são confiáveis.

— E eu sou confiável aos seus olhos?

— Você é um homem bom, Finley. Transparece isso a cada movimento do seu corpo!

— Não sei se concordo plenamente com isso, mas fico feliz em saber que é assim que me enxerga. - analisou meu rosto - Seu olho vai ficar com uma marca bem feia.

 Respirei fundo e me encolhi dentro do cobertor.

— É só um hematoma, com o tempo sai. O pior foi evitado. - encarei seus olhos com dúvida - O que farão com ele?

—  Não sei ao certo, isso nunca aconteceu antes. Cabe ao John decidir, mas ele não vai encarar muito bem.

— Por que acha isso?

— O capitão tem apreço por você.

— Ele te disse isso?

— Algumas coisas não precisam ser ditas, apenas observadas.

— Espero que suas observações estejam equivocadas!

— Agora sou eu quem está com dúvida. Por que?

— Não quero esse tipo de sentimento vindo de um branco. Isso já aconteceu antes e, com o tempo, a admiração virou obsessão.

— E o que aconteceu depois? - suspirei.

— Um inocente foi morto e minhas costas foram marcadas para a eternidade como um lembrete de que eu sempre pertenceria a um único dono. Já faz muito tempo, mas a culpa que carrego ainda é mais viva que minhas cicatrizes.

— A culpa não foi sua!

— Me fizeram acreditar que foi, e agora é tarde para reverter isso.

—Ei. - ele segurou minha mão - Não precisa remoer essa dor, já passou. Tudo de ruim que você viveu, já acabou, as coisas vão ser diferentes aqui.

— Espero que esteja certo. - afastei minha mão.

 Ficamos em silêncio por um tempo, depois decidimos voltar para o dormitório, mas Finley me guiou para a direção contrária da minha rede.

— Acredito que ainda esteja assustada, então pode dormir aqui, se quiser. - ele abriu uma porta que dava acesso para um quarto não muito grande com uma cama, uma poltrona e um baú.

 Ele retirou outro cobertor do baú e se sentou na poltrona.

— Vou deixar a porta aberta para não pensar que estou com más intenções. - sorriu de leve.

 Em passos curtos e um pouco receosos, me aproximei da cama esperando algum tipo de repressão, mas como ela não veio, minha tensão diminuiu levemente ao me sentar na mesma.

— Finley. - chamei e ele abriu os olhos para me encarar - Obrigada!

— Seu dia foi muito longo, precisa descansar. - disse depois de sorrir e fazer um leve aceno de cabeça - Boa noite, Ayla.

— Boa noite. 



*Relevem os erros, por favor.*

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