— Posso saber que tumulto é esse na minha fazenda?
— Seu feitor está ameaçando açoitar a minha escrava!
— Não estou ameaçando, eu vou açoitá-la. - franzi o cenho e encarei William com ódio.
— O que você disse?
— Calma, senhores. - Sr.Jones me parou quando dei um passo em direção ao feitor - O que houve William?
— Essas duas estão descumprindo regras, senhor. Peguei a garota roubando ovos do galinheiro para alimentar o escravo que está sendo castigado na senzala.
— E o que a Ayla tem a ver com isso? - perguntei.
— Meu trabalho é educar esses pretos e ela tentou me impedir.
— Se encostar um dedo nela, eu juro que...
— Tarde demais, John. - Sr.Jones disse agachado ao analisar o corpo de Ayla.
Ao ouvir suas palavras me aproximei do tronco com pressa e, assim que me abaixei, já pude ver o rosto dela ensanguentado. Seu olhar coberto de lágrimas, e até mesmo o suor acumulado na testa devido ao medo, fez o ódio me invadir de um jeito tão intenso que me deixou completamente cego.
Ninguém conseguiu impedir quando soquei a cara de William, muito menos quando continuei a sequência de golpes mesmo depois dele ter caído no chão.
— JOHN, PARE! - ouvi Violet gritar e já senti dois escravos me tirando de cima de William.
— Desgraçado, eu vou matar você. - falei me debatendo.
— Pra quê toda essa raiva? Ela é só uma escrava! - William perguntou.
— E isso dá o direito de qualquer um colocar as mãos nela? - me direcionei para o Sr.Jones - Desamarre-a. Agora!
— Ela está em minhas terras e descumpriu minhas ordens, John.
— Quando cheguei, eu disse que qualquer atentado contra ela seria visto como um atentado contra mim, e você concordou. Cumpra com sua palavra!
A essa altura os escravos já haviam me soltado, William já havia se levantado e todos em volta me olhavam com dúvida.
— Você está certo.
— O que? - a moça perguntou indignada - Mas, papai...
— Ainda não terminei, Violet. - Sr.Jones disse indo em direção à William - Não é certo que outra pessoa corrija um escravo.
— Muito obrigada. - agradeci quando todos olharam para o fazendeiro perplexos por sua atitude.
Achei que a discussão tivesse se encerrado, mas o Sr.Jones se aproximou de mim novamente. Sua mão se estendeu em minha direção e, ao olhar para baixo, vi-o me entregando o chicote.
— Os escravos têm dono por um motivo. - olhou em meu olhos - Você é quem deve fazer, John!
— O que? - perguntei.
— Ela é sua escrava, não é?! - engoli seco - Então não vejo problemas, já que as leis permitem. - vi outro feitor rasgar a camisa de Ayla, deixando suas costas totalmente à mostra - Acredito que dez chibatas estejam de bom tamanho.
Ayla virou o rosto para me encarar por cima do ombro e senti meu coração quase parar em tristeza por vê-la daquela forma.
— Faça, John. - Violet impulsionou - Acabe logo com isso.
Ainda distante, analisei os cortes nas costas de Ayla, os mesmos que eu havia ajudado a curar. O peso daquele chicote em minhas mãos era quase surreal, só de me imaginar punindo-a daquela forma, meu coração caía por terra.
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ALFORRIA
Romance"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...