Capítulo III

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Depois de conseguir um lugar para atracar o navio, olhei para Jonas e falei o mais baixo possível para que ninguém ao redor ouvisse.

— Partiremos ao amanhecer. Avise os outros!

— A tripulação precisa descansar, capitão. Acredito que possamos nos divertir um pouco, não?

— Desde que sejam discretos e voltem vivos, fiquem à vontade.

— Os homens vão a um lugar famoso daqui, já que estamos há um tempo sem cerveja. O senhor vem?

— Não, preciso resolver alguns assuntos antes de partir. Encontro vocês amanhã!

Segui o caminho contrário do meu parceiro de navegação e fui em direção ao cartório.

No caminho, vi vários leilões de escravos acontecendo pela cidade. Nunca aceitei a ideia da escravidão, nem engolia as justificativas dos padres de "conversão". Mas, como eu ainda não posso ir contra a Igreja, deixo minha opinião clara apenas por não comprar escravos.

Pouco antes de chegar ao meu destino, um tumulto em uma praça chamou minha atenção. Me aproximei e vi homens gritando diferentes valores. No primeiro momento pensei que fosse por algum escravo, mas olhei para o "palco" e vi que se tratava de uma mulher.

Céus, que mulher.

Sua pele era tão escura que chegava a brilhar com o reflexo do sol e, mesmo coberta por uma camisa gasta, percebi a perfeição instalada em suas curvas que pareciam ter sido esculpidas nos mínimos detalhes pelos deuses.

A máscara de Flandres me impedia de ver seu rosto por completo, mas tinha certeza que o mesmo era tão impecável quanto seu corpo.

— 62$000 (62 mil réis). - um homem gritou me tirando dos meus pensamentos.

— 70$000. - outro senhor gritou.

— Dou 80$000 pela criola!

A cada instante, os lances pela mulher iam aumentando. Meu estômago revirava só de imaginar os desejos perversos daqueles homens.

— Dou 95$000.

— 95$000 é o lance do senhor ali na frente. Muito bem senhores, quem vai aumentar os lances? - o homem responsável pelo leilão disse - Dou -lhe uma, dou -lhe duas...

— Dou 110$000. - eu disse levantando a mão.

Perdeu a cabeça, homem?

— 110$000 foi o preço oferecido pelo jovem. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. - o lugar ficou em silêncio - Vendida para o jovem navegante!

A moça desceu da pequena estrutura sendo puxada brutalmente pelas correntes. Enquanto caminhava, seus olhos se fixaram nos meus.

— Bom investimento, senhor...

— Carper. - disse sem desviar os olhos dela - John Carper. - lhe entreguei a quantia em dinheiro e ele me deu um papel com informações sobre a moça - Tire essa coisa do rosto dela.

— Isso foi um castigo do último dono, senhor. Essa negrinha é meio fujona então é melhor...

— O dono dela agora sou eu. - encarei o vendedor - Eu decido o que fazer!

  Assim que a peça de metal foi tirada de seu rosto, consegui enxergar seus lábios fartos machucados.

Minhas expectativas sobre seu rosto foram mais que superadas.

Tudo nela parecia ter sido desenhado.

Segure a corrente que ligava suas mãos aos seus pés, e comecei a puxá-la lentamente, mostrando que iríamos começar a andar.

Meu objetivo era ir direto para o cartório, mas resolvi passar em um rio que havia naquela região.

— Se lave, mas não demore. - falei calmamente enquanto desatava as correntes - Creio que não queira que outras pessoas a vejam nua.

Ela continuou olhando dentro dos meus olhos sem medo de ser castigada por isso, tal ato me fez engolir seco. Mesmo em silêncio, sua coragem era evidente!

Me virei de costas para lhe dar o mínimo de privacidade possível. Um tempo depois olhei para trás para verificar o que ela estava fazendo e acabei ficando surpreso.

A moça já havia livrado seu corpo daquela camisa e entrado parcialmente na água, então tive a visão completa de suas costas. Algumas cicatrizes das diversas chicotadas haviam se fechado completamente, outras ainda estavam abertas, comprovando que além de corajosa, ela era forte. Muito forte!

Quando percebi seu olhar se direcionando levemente para mim, me virei de costas rapidamente.

Por que meu coração está batendo nesse ritmo tão acelerado?

Pisquei algumas vezes e me concentrei em outra coisa.

Um bom tempo depois, ouvi seus passos atrás de mim e esperei mais alguns segundos até que ela se vestisse.

Me virei novamente e me deparei com seu cabelo encharcado, sua camisa colada em seu corpo, as gotas de água deslizando por suas pernas longas e grossas.

Deus!

Percebi quão indelicado estava sendo ao analisar seu corpo daquela forma descarada quando a mesma deu um passo para trás.

Cocei a garganta e peguei as correntes novamente, mas fiquei com dó de colocá-las em seu corpo outra vez, pois seus pulsos e tornozelos estavam feridos por conta dos ferros.

Tomei todo o cuidado para não feri-la ainda mais, só que era quase impossível devido ao peso das correntes e o nível de profundidade dos cortes. 

Depois de prender os fechos, voltamos a andar calmamente.



*Relevem os erros, por favor.*

Uma escrava e um navegante?
Acho que isso vai ser interessante.

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