Capítulo XXXII

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— Diga-me você. - falei usando a colher para mexer a comida - Por que não contou que foi Finley que lhe instruiu a me levar para Olympus? - encarei seus olhos - E que sua vontade era que me deixasse lá?

— Não achei relevante lhe contar isso, Ayla. - sorri cinicamente.

— Finley foi o primeiro dessa tripulação em que confiei, e não achou relevante me contar que ele tinha a intenção de se livrar de mim?

— Não pensei dessa forma.

— E de que forma pensou, John?

— Refleti sobre a mulher que havia acabado de voltar de Olympus depois de horas ininterruptas de trabalho, juntamente com ameaças e humilhações contínuas. - me encarou - Imaginei que precisaria de tempo para se recuperar.

— Faz dias que voltamos. Já deu tempo de me recuperar, não acha?

— Assim que embarcamos, Finley disse que lhe contaria, e decidi não interferir. - olhou para o chão - Apesar de achar que ele demorou demais.

Suspirei antes de colocar uma colherada da comida dentro da boca, mas interrompi o silêncio assim que o último pedaço fora engolido.

— Tinha intenções de me deixar lá? - perguntei olhando os detalhes da madeira no chão.

— Nunca tive. - respondeu com certeza - Te levei porque realmente achei que seria mais seguro pra você estar perto de mim. Se alguma autoridade te pegasse andando sozinha com a tripulação, sem um dono, com certeza a levariam para uma feira de escravos no mesmo instante e eu nunca mais a veria. - encarei-o - Acredite, desde o momento que meus olhos cruzaram com os seus naquela feira, minha maior vontade foi te manter em segurança e todos meus atos desde então foram em prol disso.

Como não encontrei nenhuma frase que pudesse ser uma resposta a altura de sua fala, voltei minha atenção para o resto da tripulação que, por sua vez, estava indo embora, somente Eva e Adam ficaram sentados.

— Onde estão indo? - perguntei.

— Se deitar. - explicou - Foi um dia cheio e cansativo, eles precisam descansar. 

— E você não vai se deitar também?

— Já terminou de comer? - franzi o cenho.

— Sim, por que?

— Levante-se! - depois de alguns segundos em dúvida, fiz o que pediu - Passamos uma invasão inesperada hoje. Queria poder dizer que isso não acontece com certa frequência, mas estaria mentindo, e não quero que esteja despreparada caso aconteça de novo.

— Como assim?

— Essa é minha arma. - tirou a pistola da cintura - Sei que já sabe como usar, mas quero ter certeza que, quando formos invadidos de novo, você saiba o que fazer.

— "Quando"? - perguntei ao vê-lo se afastar com um objeto nas mãos - Então sofreremos outro ataque em breve?

— Está vendo essa garrafa? - mudou de assunto colocando o objeto em cima das bordas do navio, e eu assenti - Quero que dê dez passos para trás e atire até atingi-la. Sabe como carregá-la antes de disparar, não sabe? - assenti - Então, faça.

— Está de noite, John. Não consigo enxergar bem a esta distância no meio dessa escuridão!

— Ótimo, então terá uma boa vantagem com a luz do dia.

— Mas...

— Não pare até acertar. - falou enquanto caminhava - Já volto!

Olhei para Eva que prestava atenção a cada segundo daquela situação, poderia até dizer que ela estava empolgada. 

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