Capítulo XV

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 Finley ficou responsável por me mostrar o navio por completo, já que John sumiu momentos depois de falar comigo e não apareceu mais.

Visitei todas as partes do navio, desde a popa até a proa do mesmo.

— Bom, e por último, essa é a cabine de navegação. - Finley disse ao destrancar a fechadura de uma porta pesada - É onde ficam os mapas, bússolas e etc. Normalmente, apenas o capitão entra aqui dentro, já que só ele consegue ler, criar e decifrar as rotas.

 Por algum motivo, a sala de navegação despertou minha atenção. Os mapas eram interessantes devido aos desenhos, pontilhados, e linhas que ligavam as ilhas e os mares.

— Gostou? - Finley disse ao ficar ao meu lado - Tem uma coisa aqui que eu quero te mostrar. Vem!

 Por ser o imediato, Cedric estava abaixo apenas do capitão em termos de comando, então ele tinha acesso a todos os cantos do navio, exceto o quarto de John.

 Com uma chave pequena que claramente passaria despercebida no meio das outras, Finley destrancou o cadeado de um baú que estava no canto da sala. Assim que foi aberto, fiquei abismada.

 Haviam peças diferentes, como enfeites, que não pareciam ter sido feitos em um mesmo lugar.

— Essas coisas representam lembranças. - o homem ao meu lado disse se sentando no chão e eu fiz o mesmo - Desde nossa primeira viagem, John coleciona esses objetos como forma de guardar recordações. Diferentes peças feitas em diferentes lugares do mundo não nos deixam esquecer cada aventura que passamos navegando por esses 7 mares. - sorriu pegando dentro do baú um cantil coberto de ouro e com algumas pedras de diamante em volta - Ele ganhou isso em Tortuga, uma ilha famosa para os navegantes, provavelmente passaremos por lá antes de deixarmos você em sua terra natal.

 Já ouvi falar algumas vezes em Tortuga, uma ilha localizada no mar do Caribe, mais precisamente em Port Royal. Não é o lugar mais apropriado para famílias levarem suas crianças e fazer um passeio, na verdade, apenas navegantes costumam frequentá-la.

 Finley pegou um colar simples com pingente de leão na ponta não muito grande.

— Esse é de Singapura. - sorriu - Pode parecer insignificante, mas tem um valor memorável para essa tripulação.

 Eram peças tão valiosas que não me atrevi a tocar, me limitei a cortejá-las com os olhos. Cada uma mais bonita que a outra, mais brilhante, mais chamativa e mais delicada.

— Tortuga, Singapura, "Isla de Muerta", Bahia da Espuma... - disse maravilhado - Foram tantos lugares que às vezes até esqueço a quanto tempo já estou nessa jornada!

— O que fazem aqui? - uma voz grossa disse fazendo nós dois nos virarmos ao mesmo tempo.

 John estava de pé, atrás de nós, com braços cruzados e expressão não muito amigável.

— Estávamos vendo as recordações. - Finley disse sorrindo.

— Sozinhos? - perguntou desconfiado.

— Foi o senhor quem me pediu para mostrar o navio a ela!

 Sem chance de resposta, John apenas deu o assunto por encerrado, mas sua feição ainda continuava não muito agradável.

— O jantar está sendo servido lá fora. Tranquem o baú e as portas ao saírem, depois disso, quero que vá se deitar Finley. Precisarei de você ao amanhecer!

— Sim, capitão.

John nem se deu o trabalho de olhar em meus olhos, concentrou sua atenção apenas em Finley.

— Vamos. - o homem ao meu lado disse um pouco cabisbaixo - Acho que já ficamos tempo demais aqui.

 Cedric se levantou estendendo uma das mãos para me ajudar e eu acabei aceitando a gentileza. Depois de fazer o que John havia mandado, saímos da sala juntos.

 Todos os marujos estavam no convés, comendo e bebendo juntos, mas ficaram em silêncio absoluto assim que chegamos ao local. Toda a atenção da tripulação se voltou para mim e Finley, mas algo me dizia que isso não era uma coisa boa.

— Vem, eu sirvo você. - Cedric sugeriu e eu apenas o segui em silêncio.

 Com a vasilha em mãos, ele serviu uma quantidade generosa de sopa e um pedaço grande de pão antes de me entregá-la. Cedric se juntou aos outros homens, enquanto eu preferi ficar sozinha na proa, enacarando a escuridão.

 Comi sozinha durante um bom tempo, até ouvir a movimentação no convés diminuindo aos poucos. Os marujos foram se retirando lentamente até o lugar ficar vazio e em completo silêncio.

— Sou o último a sair. - Finley perguntou pegando a tigela vazia de minhas mãos - Você vai ficar?

 Respirei fundo e fechei os olhos por um tempo, escutando o som calmo das ondas e o balanço da embarcação. Assenti com a cabeça apenas para não deixá-lo com dúvida.

—Tudo bem. Você já sabe em qual lugar irá dormir, então acho que não terá dúvidas, mas caso tenha, pode me chamar. - assenti de novo - Boa noite, Ayla.

 Finley se afastou indo para o dormitório e eu continuei ali, olhando o horizonte completamente escuro durante horas. Por incrível que pareça, minha mente descansou enquanto eu estava ali, só consegui me concentrar no barulho calmo vindo do mar e da paz que o mesmo me trazia.

 Quando me levantei, fui direto para o dormitório.

 Por ficar abaixo do convés, o lugar era escuro, abafado e possuía um odor desagradável. As lamparinas faziam com que o local não ficasse em completa escuridão, mas não deixava de limitar a visão.

 Caminhei em meio a muitas redes até chegar a minha. O ronco dos homens me deixou incomodada, mas como meu lugar de descanso ficava nos limites do navio, me concentrei no som das ondas até pegar no sono.

 Enquanto dormia, tive a sensação de algo tão pesado estar sobre meu corpo que era capaz de me causar falta de ar, mas estava cansada demais para verificar, meus olhos estavam pesados e meu corpo mole.

 Num breve instante senti um vento frio atingir minha barriga me causando arrepios.

 Que estranho, não me lembro de ter dormido com a barriga descoberta.

 O cansaço me fez desistir desse pensamento até sentir algo diferente no cós da minha calça.

 Eram... dedos?

 Desconfiada e com dúvida, abri os olhos devagar, mas a visão desfocada e a pouca luz me fez ter a impressão de que havia uma sombra em cima de mim. Pisquei algumas vezes antes de abrir os olhos de novo e tive a confirmação.

 Havia uma pessoa em cima de mim.

 Quando pensei em jogá-lo para o lado, sua mão tapou minha boca e a outra segurou meus braços no alto da cabeça.

— Shiu... Quietinha. - o homem sussurrou - Vai acabar mais rápido se você cooperar. 




*Relevem os erros, por favor.*

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