De cabeça baixa, ele foi em direção a um móvel que ficava ao lado de sua enorme cama, depois se virou novamente e, ao encarar suas mãos, pude perceber uma planta sendo segurada.— Suas costas ainda precisam de cuidados. - falou com receio - E não queria que tirasse sua blusa na frente deles. - continuei encarando seus olhos, dessa vez com a expressão mais relaxada.
— Bom, obrigada. - falei tentando aliviar a tensão, mas era explícita minha vontade de sair dali.
— Posso encostar em você, Ayla?
Olhei para a planta outra vez me lembrando da noite que passei mal dentro daquele celeiro, a noite que ele permaneceu acordado para cuidar de mim, e resolvi ceder.
Virei de costas lentamente na intenção de que ele entendesse minha resposta positiva.
Em passos calmos, John veio até mim e começou a soltar o laço do meu corset. Depois de livrar a peça de meu corpo, com delicadeza, suas mãos percorreram a barra de minha blusa na intenção de tirá-la.
Mesmo com todo aquele cuidado, enquanto levantava a peça, os dedos de John encostaram na lateral das minhas costelas.
— Me desculpe, foi sem querer. - se apressou em dizer.
Eu até teria respondido se o arrepio causado por seu toque não tivesse me calado. A sensação foi diferente e o motivo dela me deixou confusa.
Eu gostei de ser tocada por um branco?
Deixei minha mente se afastar desse pensamento, não queria ao menos imaginar essa possibilidade.
Como não esbocei nenhuma reação muito explícita, John continuou cuidando dos cortes em minhas costas que, por sinal, já nem me incomodavam mais. Já havia sentido dores piores, essa não parece ser tão ruim.
Quando acabou dispensei a ajuda de John, vesti minha blusa com pressa e amarrei o corset sem dificuldade. Estava quase me virando para sair de seu quarto quando ele tocou em meu braço outra vez.
— Espera, tem mais uma coisa em você que preciso ver. - com sutileza e força ao mesmo tempo, ele puxou minha cintura na intenção de aproximar nossos corpos.
Que droga. Por que os toques dele estão me deixando inquieta?
Com a mão esquerda, John afastou meu cabelo e pousou-a na lateral do meu pescoço para ter mais visibilidade do meu rosto. Seus olhos percorreram cada mísero centímetro da mancha levemente arroxeada abaixo do meu olho, depois passou a analisar o corte em meus lábios.
— Finley me contou o que houve ontem. - voltou a se concentrar em meus olhos - Não achei que algum deles fosse capaz disso. Sinto muito, de verdade.
— O que fizeram com ele?
— Foi exonerado e banido. - sua mão deixou meu pescoço para segurar meu rosto - E qualquer outro homem dessa embarcação que tiver a ousadia de tocar em você terá o mesmo destino que ele. Ainda esta manhã deixei isso bem claro aos outros marujos.
— Obrigada mais uma vez. - um leve sorriso apareceu em seu rosto.
— Não precisa agradecer, Ayla. - nossos olhares ficaram sincronizados - Aquele dia, na porteira daquela fazenda, eu falei sério. Posso não saber o motivo ainda, mas anseio tanto por sua segurança que às vezes chego a ficar assustado.
— Assustado? - assentiu - Por que?
— Acho que seria capaz de fazer qualquer coisa pra te manter segura.
Confesso que sua declaração me deixou completamente sem palavras. O sentimento de John por mim é ainda mais forte do que imaginei.
"O capitão tem apreço por você." - me lembrei das palavras de Finley.
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ALFORRIA
Romansa"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...