Capítulo XXXXIV

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 Nunca pensei que me sentiria triste em voltar para Ekom, mas eu estava incompleta sem ele.

 Parece que voltar para minha terra só fazia sentido se aquele navegante insistente e abusado estivesse aqui comigo.

 Assim que adentrei os limites da minha tribo, visualizei uma cena que fez a minha tristeza se transformar em raiva num estalar de dedos.

— Eva, vá procurar Zuri ou Dara para se distrair um pouco. - falei ainda encarando o homem um pouco distante.

 Akin teria passado despercebido por mim mesmo estando acompanhado por mais dois guerreiros da tribo, mas foi o fato do arco do meu pai estar em suas mãos que o fez ter o mínimo de relevância para mim.

— O que pensa que está fazendo? - perguntei ao me aproximar.

 O rei deu ordem para que os guerreiros se afastassem e nos deixassem a sós.

— Não entendi.

— O arco do meu pai. Por que está com ele?

— É tradição, Ayla. Se esqueceu? - deu um sorriso mínimo - A arma de guerra do antigo rei passa para as mãos do próximo para demonstrar...

— Me dá ele agora. - falei convicta já sentindo as lágrimas surgirem de novo - Você não merece segurar o arco do meu pai.

— Olha, eu fiquei sabendo que o homem branco foi embora e imagino que esteja abalada, mas nós podemos conversar...

— NÃO TEM NADA A VER COM O JOHN! - interrompi sua fala aos gritos tomada pela raiva - MEU PAI FOI UM HOMEM HONRADO, UM REI COMO EKOM JAMAIS VIU. A ARMA QUE ELE EMPUNHOU NÃO DEVE SER SUJADA COM O TOQUE DE UM MENTIROSO, CRETINO E MANIPULADOR COMO VOCÊ!

— Ficou maluca? - perguntou perplexo - COMO OUSA FALAR DESSE JEITO COM SEU REI?

— VOCÊ NÃO É MEU REI, E EU JAMAIS ME CURVAREI PERANTE ALGUÉM TÃO PERVERSO COMO VOCÊ!

— Se esqueceu do seu lugar, Ayla?

— Não interessa qual lugar ocupo aqui. Meu pai mostrou bravamente que um rei de verdade não trai a própria esposa, não inventa mentiras para prejudicar outros e não usa sua autoridade para mandar pessoas debilitadas embora de Ekom! - sua feição mudou - Você traiu sua própria tribo, e isso é nojento.

— Cala a boca!

— Você vendeu habitantes de Ekom para mercadores de escravos em troca de território. - falei chorando ainda mais enquanto a raiva ia enchendo seus olhos.

— Eu mandei calar a boca.

— Entregou o marido da Ziza, nosso conselheiro mais antigo, NAS MÃOS DOS BRANCOS. - gritei - COMO VOCÊ PÔDE?

 O movimento de seu braço foi tão rápido que não consegui desviar. Recebi um tapa forte do homem que, a anos atrás, era o amor da minha vida e que eu sonhava em me casar.

 Assim que recuperei o equilíbrio, senti a gota de sangue entrar em contato com minha saliva enquanto encarava incrédula o rosto de Akin.

— Pelos guias, Ayla, me perdoa. - disse um pouco desesperado ao se aproximar lentamente de mim - E-eu perdi o controle, não quis fazer isso, eu juro. - estendeu os braços - Por favor, me perdoa.

— NÃO ENCOSTA EM MIM! - gritei afastando suas mãos - Mesmo que eu passe o resto dos meus dias aqui, não quero que dirija a palavra a mim outra vez, entendeu?

 Assim que terminei a frase, desviei do seu corpo e abaixei para pegar o arco de meu pai que, no calor do momento, Akin havia deixado cair.

— ELES IAM INVADIR NOSSA TRIBO DE NOVO, AYLA! - falou e eu parei de andar - O que queria que eu fizesse? Deixasse nosso povo cair nas mãos deles outra vez?

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