— SE ABAIXE! - gritei antes de empurrar as portas com força para se fecharem novamente.
Os tiros começaram logo em seguida, transformando aquela fazenda no que parecia ser um tiroteio em filmes de faroeste.
Em poucos segundos fechei as trancas das portas e me afastei, só então pude prestar atenção em Ayla que já estava deitada no chão.
— Mais que merda! - falei me arrastando para ficar ao seu lado.
— O que é isso?
— Fazendeiros tentando lavar suas honras manchadas por um jovem navegante!
— São os homens de ontem? - ela elevou a voz para tentar superar o som dos disparos.
— Sim. - uma vasilha ao nosso lado foi acertada, transformando uma peça de barro em simples estilhaços - Exatamente.
— Como vamos sair daqui? - perguntou enquanto eu colocava balas na minha arma para começar o contra-ataque.
— Não faço a mínima ideia! - disse já me levantando e começando a atirar.
Não fiquei de pé para não me tornar um alvo fácil, apesar deles não conseguirem me ver, apenas fiquei de joelhos para ter mais equilíbrio. Comecei a atirar através da frecha, sempre atento a não errar a mira.
Eu estava sozinho, mas tinha a vantagem de conseguir vê-los através da frecha, enquanto os homens do lado de fora estavam apenas atirando para dentro do celeiro.
Olhei para trás rapidamente na intenção de conferir se Ayla estava bem, mas não a vi.
— Ayla? - chamei em voz alta - AYLA!
Que diabos, cadê essa mulher?
— AQUI!
— Onde você tá?
— Achando nossa saída. - escutei o som de madeira sendo quebrada - Vem!
Apanhei minha bolsa juntamente com a caixa de encomenda que havia pegado à alguns dias atrás, aproveitei para conferir a quantidade de balas que sobravam e fiquei preocupado.
Espero que ela realmente tenha achado uma saída.
Caminhei agachado no ritmo mais rápido que consegui entre as baias.
— Cadê você?
— AQUI!
Olhei para dentro de uma baia e vi a Ayla sentada no chão, chutando a parede. As baias com cavalos tinham baldes d'água abastecidos por um cano do lado de fora, a Ayla estava quebrando o resto da parede amadeirada na tentativa de abrir um buraco grande suficiente para passarmos.
— Vai ficar só olhando ou vai me ajudar? - falou brava enquanto eu já me adiantava para ficar ao seu lado.
Nós dois estávamos chutando a parede em um ritmo sincronizado enquanto, aos poucos, a madeira ia cedendo. Escutei um barulho nas portas do celeiro que me deixou atento.
— Agora eu te mato, seu desgraçado!
As correntes das portas começaram a balançar, o que significava que eles estavam tentando entrar.
Maldição.
Saí da baia rapidamente.
— O que você tá fazendo? - ela perguntou confusa - Me ajuda!
— Continua chutando, já volto.
Me direcionei às outras baias que ainda estavam com cavalos dentro e usei minha espada para quebrar as fechaduras. Os animais andaram assustados pelo local enquanto eu voltava para a baia que Ayla se encontrava.
— Licença. - pedi para ainda de pé.
Bastaram 3 chutes fortes para que o buraco na madeira fosse aberto por completo, mas assim que a madeira cedeu, as correntes das portas também.
— Vai, vai, vai. - sussurrei.
— Mas, e você? - ela perguntou sussurrando também.
— Cadê você, garoto? - um dos homens perguntou ao entrar no espaço - Vai se esconder feito um rato?
— Estou logo atrás de você, não se preocupe. Agora, vai!
Mesmo contrariada, ela fez o que pedi. Por um curto período pensei em revidar as ofensas com as balas da minha arma, mas pensei melhor e vi que agora não é momento para deixar a ignorância falar mais alto.
Havia cerca de 10 ou 12 homens dentro do celeiro andando de baia em baia procurando alguma pista, foi então que atirei no teto. Por conta do barulho alto, os cavalos se assustaram indo em direção à saída. Aproveitei a movimentação para pegar meus pertences, passar pelo buraco na parede que dava acesso aos fundos da fazenda e sair despercebido.
Assim que cheguei na parte externa, vi que Ayla estava me esperando.
— Espero não ter demorado muito. - falei sorrindo.
— Não é nenhum pouco educado deixar uma dama à sua espera, navegante.
— Aceita minhas desculpas? - ela olhou para a entrada da fazenda, começando a apressar os passos em seguida.
— Se sairmos vivos, posso pensar no seu caso. - disse sorrindo.
Deus, esse sorriso...
Em instantes, a caminhada se tornou uma corrida. Lado a lado, eu e Ayla fomos em direção ao porto da cidade.
Os olhares em volta eram muitos, mas pela nossa pressa, eles passaram quase despercebidos.
Quase.
Assim que chegamos ao porto, tivemos uma surpresa bem ruim. O barco já não estava atracado, ele não estava muito longe da costa, mas seria impossível alcançá-lo nadando.
— Droga.
— O que estão fazendo? - perguntou ofegante.
— Seguindo viagem, como mandei. – passei a mão pelo cabelo frustrado.
— Sem você?
— O sol já nasceu, as suspeitas estão altas. Não posso culpá-los por terem seguido o plano!
Normalmente nessas situações eu costumo ter um "plano B", mas fiquei tão preocupado com a Ayla que nem sequer pensei nessa possibilidade.
— Você corre rápido, garoto. - escutei uma voz masculina atrás de mim e me virei rapidamente, colocando a Ayla atrás de mim - Quase não consegui te alcançar.
Como esse velho chegou tão rápido aqui?
*Relevem os erros, por favor.*
VOCÊ ESTÁ LENDO
ALFORRIA
Romance"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...