Capítulo XXIX

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 Fechei os olhos, respirei fundo da mesma forma que fazia antes de disparar uma flecha e me preparei pra entrar no navio. Eva agarrou minha mão na tentativa de se sentir, minimamente, mais segura no meio daquela quantidade enorme de homens, já que nesse último mês John recrutou muitos marujos para aumentar a tripulação.

— Finley? - perguntei levemente mais animada.

— Ayla? - me olhou surpreso - O que faz aqui?

— Bom... - franzi o cenho - Eu faço parte dessa tripulação, esqueceu?

— Sim, mas eu achei que... - foi interrompido pelo último chamado aos marujos - Nada, conversamos depois.

 Entrei no convés do navio estranhando a atitude de Finley.

 Achei que ele ficaria feliz por me ver de novo.

 Não tive muito tempo para refletir sobre sua atitude, logo Adam e Joseff me recepcionaram da forma mais carinhosa possível e não me deixaram sozinha até o horário do jantar.

 Eva ficou o tempo todo grudada comigo, pois ainda não estava se sentindo confortável com a presença dos marujos, tanto que passei horas sem ouvir sua voz.

 Algo que, aos meus olhos, parecia impossível.

 Decidi ficar a sós com ela durante o jantar, sem os outros por perto para que não se sentisse tão pressionada. Enquanto comíamos, John se aproximou com calma e um sorriso caloroso no rosto.

— Em silêncio, Eva? - perguntou se sentando em minha frente - Que milagre.

— Não gosto de falar perto de quem não conheço!

— Sério? - me olhou - Parece alguém que eu conheço. - sorri de soslaio - Ayla...

— Sim? - perguntei colocando mais uma colherada de comida na boca.

— O que houve lá na venda? - encarei o chão - Parecia estar triste.

— Eu só... - cocei a garganta tentando afastar as lágrimas - Só me lembrei de uma coisa.

— E essa coisa é ruim? - tentou estender o assunto de forma preocupada - Alguém te machucou?

— Não. - sorri levemente - Na verdade, era uma lembrança muito boa.

— Então, qual o motivo do semblante abatido?

— Porque sei que nunca vou viver aquilo de novo.

— Era com o seu pai? - assenti deixando uma lágrima rolar e ele enxugou-a com o polegar - Sinto muito.

— Não precisa, você já me livrou do meu pesadelo por estar naquele leilão no dia e na hora exata. - tentei me recompor - Essas lembranças são detalhes que ainda prefiro manter vivos.

— Por que se te machucam tanto? - segurou minha mão.

— Eles me fazem lembrar de quem sou!

— Seu pai era um grande homem. - sorri ao senti-lo acariciar o dorso de minha mão - Percebo isso pela forma como ele criou você!

— Acho que ele iria gostar de te conhecer. - afirmei encarando seus olhos e ele sorriu.

— E eu me sentiria honrado por isso.

 Ficamos calados por um tempo, então vi uma oportunidade única.

— Já que estamos falando sobre passado, posso te fazer uma pergunta? - assenti - O que houve entre você e a Violet?

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