A caminhada até o porto foi longa, mas não muito demorada. Quando cheguei pude avistar meu parceiro de navegação com braços cruzados, encarando o horizonte à sua frente.Ele me viu e então me coloquei ao seu lado.
— Um dia em terra e já sinto falta do meu grande amor. - falei olhando a imensidão do mar e ele riu.Cedric Finley é o mais antigo integrante da minha tripulação. Nossos caminhos se cruzaram a muito tempo atrás devido ao acaso, mas nos aproximamos de verdade depois dele cometer a loucura de concordar em descobrir os segredos dos mares ao meu lado.
Mesmo não tendo muito, Finley abandonou tudo que tinha para me acompanhar na minha nova jornada.
Ele é alguns anos mais velho que eu, por isso também desempenha o papel de melhor amigo e conselheiro.
— Pronto para embarcar? - respirei fundo e olhei para o chão levemente.
— Não partiremos hoje! - ele me encarou com dúvida.
Seus olhos começaram a analisar minhas condições físicas e não demorou para que sua cabeça se enchesse de perguntas.
— O que houve com suas roupas? - olhei para minha camisa sem uma das mangas.
— Preciso comprar algumas coisas. Se me acompanhar, posso te explicar meu entrecho desde o início.
— Claro.
Lado a lado, eu e Finley começamos a caminhar, poucos metros à frente nos encontramos com mais 5 marujos da minha tripulação.
— Capitão, estamos prontos! - um deles disse.
— Não partiremos hoje, marujo. - respondi - Avise os outros e peça para que estejam prontos antes do amanhecer de amanhã!
— Sim, senhor.
O grupo de homens se afastou.
Contei detalhadamente para meu amigo tudo que aconteceu ontem. Desde a aquisição até minha admiração por Ana.
— Você comprou uma escrava? - perguntou surpreso enquanto eu olhava alguns produtos da feira - Achei que repudiasse a escravidão.
— Sigo repudiando! - encarei seus olhos rapidamente - Mas, não consegui deixá-la ser comprada pelos homens do leilão. Pareciam estar competindo para saber qual deles tinha o desejo imoral mais perverso. - peguei algumas frutas - Nenhuma mulher deveria passar por isso!
— Do ponto de vista das pessoas, as negras não são mulheres. - peguei o dinheiro na bolsa - As brancas lidam com a arrogância e superioridade dos homens, as escravas lidam com a parte animalesca que eles escondem dentro de si!
Finley é um sábio que nunca sequer aprendeu a ler. Sua sinceridade é ácida, mas nunca injusta.
Sua última fala me fez lembrar de todas as vezes que meu navio cruzou com os navios negreiros. O olhar dos escravos não transmitia nada além de um grande vazio intensificado pelo medo.
Em algumas vezes, pude presenciar os marujos arrastando as escravas para o convés na intenção de usá-las como meio de alívio. Eu sempre virava o rosto para não ver a brutalidade que se seguia, mas os gritos não me deixavam ter o privilégio de imaginar que aquilo não estava acontecendo.
— A sociedade está errada!
Paguei as frutas e comecei a caminhar até outra banca.
— Mesmo que a maioria esteja errada, ela ainda terá mais voz que a minoria. Somos humanos. No nosso mundo o poder não se baseia na justiça, e sim na influência!
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ALFORRIA
Romansa"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...