Capítulo VII

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A caminhada até o porto foi longa, mas não muito demorada. Quando cheguei pude avistar meu parceiro de navegação com braços cruzados, encarando o horizonte à sua frente.

Ele me viu e então me coloquei ao seu lado.

— Um dia em terra e já sinto falta do meu grande amor. - falei olhando a imensidão do mar e ele riu.

Cedric Finley é o mais antigo integrante da minha tripulação. Nossos caminhos se cruzaram a muito tempo atrás devido ao acaso, mas nos aproximamos de verdade depois dele cometer a loucura de concordar em descobrir os segredos dos mares ao meu lado.

Mesmo não tendo muito, Finley abandonou tudo que tinha para me acompanhar na minha nova jornada.

Ele é alguns anos mais velho que eu, por isso também desempenha o papel de melhor amigo e conselheiro.

— Pronto para embarcar? - respirei fundo e olhei para o chão levemente.

— Não partiremos hoje! - ele me encarou com dúvida.

Seus olhos começaram a analisar minhas condições físicas e não demorou para que sua cabeça se enchesse de perguntas. 

— O que houve com suas roupas? - olhei para minha camisa sem uma das mangas.

— Preciso comprar algumas coisas. Se me acompanhar, posso te explicar meu entrecho desde o início.

— Claro.

Lado a lado, eu e Finley começamos a caminhar, poucos metros à frente nos encontramos com mais 5 marujos da minha tripulação.

— Capitão, estamos prontos! - um deles disse.

— Não partiremos hoje, marujo. - respondi - Avise os outros e peça para que estejam prontos antes do amanhecer de amanhã!

— Sim, senhor.

O grupo de homens se afastou.

Contei detalhadamente para meu amigo tudo que aconteceu ontem. Desde a aquisição até minha admiração por Ana.

— Você comprou uma escrava? - perguntou surpreso enquanto eu olhava alguns produtos da feira - Achei que repudiasse a escravidão.

— Sigo repudiando! - encarei seus olhos rapidamente - Mas, não consegui deixá-la ser comprada pelos homens do leilão. Pareciam estar competindo para saber qual deles tinha o desejo imoral mais perverso. - peguei algumas frutas - Nenhuma mulher deveria passar por isso!

— Do ponto de vista das pessoas, as negras não são mulheres. - peguei o dinheiro na bolsa - As brancas lidam com a arrogância e superioridade dos homens, as escravas lidam com a parte animalesca que eles escondem dentro de si!

Finley é um sábio que nunca sequer aprendeu a ler. Sua sinceridade é ácida, mas nunca injusta.

Sua última fala me fez lembrar de todas as vezes que meu navio cruzou com os navios negreiros. O olhar dos escravos não transmitia nada além de um grande vazio intensificado pelo medo.

Em algumas vezes, pude presenciar os marujos arrastando as escravas para o convés na intenção de usá-las como meio de alívio. Eu sempre virava o rosto para não ver a brutalidade que se seguia, mas os gritos não me deixavam ter o privilégio de imaginar que aquilo não estava acontecendo.

— A sociedade está errada!

Paguei as frutas e comecei a caminhar até outra banca.

— Mesmo que a maioria esteja errada, ela ainda terá mais voz que a minoria. Somos humanos. No nosso mundo o poder não se baseia na justiça, e sim na influência!

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