Enquanto dormia, ouvi o som de algo que parecia ser um gemido de dor, mas como estava muito cansado achei que fosse um delírio.A chuva diminuiu, o vento se estabilizou e novamente voltei a ouvir o tal som. Abri os olhos para saber se não era sonho e tive a comprovação quando tornei a ouvir o som de dor.
Me levantei calmamente, peguei uma lamparina e comecei a andar pelo celeiro. O vento havia apagado algumas lamparinas, minha visão estava limitada, mas me esforcei para ser guiado pelo som.
Me surpreendi ao perceber que os gemidos vinham da baia que eu havia pedido para a Ana dormir.
Me aproximei e senti um choque inicial com a cena.
Ela estava deitada de bruços, parecia estar dormindo, mas o fato que chamou minha atenção foram suas vestes. A camiseta gasta estava coberta de sangue na parte de trás.
Sem pensar, deixei a lamparina no chão e me ajoelhei ao seu lado. Ainda com os olhos fechados, percebi sua testa pingando suor.
— Ei. - chamei e ela abriu os olhos - O que houve?
Como não recebi uma resposta, levei minha mão até suas costas e ela se esquivou levemente.
— Eu preciso ver, pode ser algo sério.
Depois de alguns instantes me encarando, ela relaxou os músculos em forma de permissão.
O sangue na camisa estava começando a secar, então tive uma ideia, mas com absoluta certeza que ela não iria concordar inicialmente.
— Tenho que rasgar sua roupa! - ela arregalou os olhos e voltou a ficar inquieta - O sangue está começando a secar e, se for um ferimento exposto, o tecido pode grudar e causar ainda mais dor. - ela encostou a testa no chão com os olhos fechados - Eu só quero te ajudar, por fav...
— Faça. - olhei em seu rosto - Rápido!
Eu não só me surpreendi ao ouvir sua voz, também fiquei feliz por poder escutá-la.
Era um tom levemente mais grave que o das mulheres que já conheci. Por estar carregado de dor, os suspiros vieram junto com sua fala, algo que me deixou preocupado e, ao mesmo tempo, "tentado".
Fui tirado dos meus pensamentos ao ouvir novamente o som agoniante que Ana fazia por estar sentindo tanta dor.
— Licença! - falei antes de rasgar o tecido de sua camisa.
Mantive toda a minha concentração para não rasgar abaixo de suas costas e expor seu corpo ainda mais aos meus olhos.
Assim que o tecido se partiu, fiquei ainda mais chocado.
Alguns dos cortes em suas costas abriram e começaram a sangrar. Provavelmente foram feitos a partir das chicotadas utilizadas como castigo pelos fazendeiros, mas o nível de profundidade dos mesmos estava muito acima do que era recomendado nas leis.
— Deus. - exclamei ao analisar todo o cumprimento de suas costas - Eu preciso lavar. - ainda com a testa encostada no chão, ela assentiu - Já volto!
Me levantei com pressa, peguei o primeiro pote que vi e fui em direção a parte externa do celeiro. Abri as enormes portas agradecendo por ainda estar chovendo, então usei os pingos da chuva para colocar água no recipiente.
Depois de cheio, entrei no celeiro fechando as portas, fui até minha bolsa para pegar uma garrafa de rum e voltei com pressa para a baia.
Me ajoelhei ao lado dela novamente e não demorei para derramar metade da água em suas costas. Obviamente, ela se remexeu bastante por causa da dor, mas achei que ela suportou bem.
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ALFORRIA
Roman d'amour"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...