Acordei com a cabeça doendo em um nível surreal, tanto que demorei para abrir os olhos completamente. Estranhei a luminosidade já que o dormitório costuma ser bem escuro, o silêncio e a falta de movimento da rede também não passaram despercebidos.
Virei para o lado e senti um colchão super macio sob meu corpo; ainda com os olhos entreabertos, franzi o cenho.
Será que Finley me levou para seu quarto enquanto estava dormindo?
Abri os olhos e, de imediato, estranhei a decoração do cômodo, mesmo assim me sentei na cama com a mão na testa devido a dor insuportável.
Conheço esse lugar. É o quarto do...
— Bom dia. - ouvi a voz de John um pouco distante - Dormiu bem?
Ele estava de costas para mim, ocupado demais mexendo em algo em cima de uma mesa no canto do quarto.
— O que aconteceu? - olhei para meus pés e percebi que estava descalça - Nós dois...?
— Não, nós não fizemos isso. - se virou vindo em direção a cama - Se tivéssemos feito, nenhum de nós estaria vestido ou acordado a essa hora. - estendeu um copo para mim.
Sua sinceridade teve um impacto diferente em mim, mas fiz o máximo para não transparecer.
— Que isso?
— Chá. Vai aliviar sua dor de cabeça.
— Obrigada. - peguei o copo - O aconteceu ontem?
— Até onde você lembra?
— Estava na festa, depois entrei na sala de navegação, bati a cabeça, cortei a mão, você me ajudou... - forcei minha mente - Depois disso não me lembro de mais nada.
— Foi basicamente isso que aconteceu mesmo.
— Basicamente? - perguntei - Então teve mais coisa?
— Nada tão relevante que precise ser lembrado.
— Eu falei muita besteira? - fiz uma expressão que demonstrava minha vergonha por algo que nem sequer lembrava - Se tiver falado, por favor, desconsidere. Eu nunca fiquei bêbada, então é uma experiência nova demais pro meu corpo. - sorriu de canto.
— Já estava determinado a fazer isto.
Comecei a tomar o chá quente e olhar ao redor.
— Por que me trouxe pra cá?
— Você estava vulnerável. Não quis te deixar daquele jeito perto dos outros marujos!
Assenti mesmo ainda estando um pouco desconfiada de sua "bondade voluntária".
— Vamos atracar daqui 3 horas, esteja pronta para me acompanhar em meus compromissos.
— Te acompanhar? - franzi o cenho - Me disseram que eu ficaria com os outros.
— Mudança de planos. Quero você do meu lado enquanto estiver pisando em terra! - continuei sentada com cara de dúvida - Acredito que ainda tenha muito trabalho a fazer então, quando sair, feche a porta e pode levar o copo.
Já entendi o aviso de despejo.
Me levantei com agilidade, calcei minhas botas e deixei o copo em cima da mesinha. Me retirei de seu quarto sem nem mesmo esperar mais uma palavra de sua parte.
Assim que sai, avistei Finley a uma distância considerável.
— Finley! - me olhou e veio com pressa até mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ALFORRIA
Romance"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...