Capítulo XXVIII

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 Não sei o que deu em mim para fazer o que fiz. Eu podia muito bem ter dormido e deixado John ficar de guarda, mas não consegui sabendo que o frio estava lhe incomodando.

Me arrependi de ter sido tão ousada no momento em que ele ficou imóvel, já que provavelmente não estava confortável com a situação, até pensei em me levantar e voltar a dormir longe dele, mas desisti quando senti seus braços me apertarem contra seu peito.

A forma como ele entrelaçou nossos dedos e acariciou o cabelo da Eva durante a noite me transmitiu um sentimento de segurança que nunca havia sentido, nem quando ainda estava em minha tribo.

Juro que estou tentando desatar os laços que criei com esse navegante, mas a noite passada só dificultou as coisas.

Acordei com a Eva se remexendo em meu colo e, ao abrir os olhos, percebi que ela havia acabado de acordar também. Levantei a cabeça e me deparei com a atenção de John totalmente voltada para nós duas.

— Bom dia. - sorriu.

— Bom dia. - sorri de volta.

 Distanciei meu corpo do dele já sentindo falta daquele calor, me alonguei e me levantei logo em seguida.

— Ficou acordado a noite toda? - perguntei e ele assentiu - Acha que consegue continuar caminhando mesmo estando cansado?

— Acredite, isso não é nada comparado às noites em claro que passei no navio quando estávamos sob ameaça de ataque. - disse se levantando e se alongando.

— Então, isso é um sim?

— Por que a pressa, Ayla? - franziu o cenho.

— Porque... - pensei por alguns segundos - Você mesmo disse que, provavelmente, os feitores estão atrás de nós. Acredito que quanto mais rápido chegarmos ao porto, melhor.

— Entendi. - disse pegando seu casaco do chão - Então, vamos!

 John manteve uma distância considerável de mim enquanto estávamos caminhando na mata, mas a Eva fez questão de andar grudada nele.

 Não consegui evitar o riso quando percebi que até mesmo uma simples folha com formato diferente era motivo de pergunta ou comentário. Cheguei a me surpreender com a paciência de John em manter a conversa com Eva, já que muitos teriam se irritado com sua curiosidade.

 Caminhamos a passos lentos e paramos muitas vezes para descansar, já que não estávamos com pressa.

 Quando nos aproximamos do porto, John me esperou e começou a desabotoar a própria camisa.

— O que está fazendo? - perguntei.

— Me sinto lisonjeado por poder vislumbrar suas costas, mas não é uma boa ideia deixar que os fazendeiros daqui vejam isso. - disse retirando a peça de seu corpo - Estamos cansados e arrumar outra briga não está na lista de coisas que quero fazer antes de embarcarmos.

— E... - engoli seco ao analisar seu corpo de forma totalmente involuntária.

— "E"? - perguntou com um leve sorriso.

— O-o que você vai vestir? - me forcei para voltar a encarar seus olhos - Vai andar por aí assim?

 Por que meus olhos não desviam a atenção de seu corpo? E por que estou com tanto calor? Se controle, mulher!

— Algum problema? - sugeriu com uma das sobrancelhas arqueadas.

— Achei que o intuito era não chamar atenção.

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