Capítulo 31

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A primeira parada, o restaurante, não ficava muito longe. Fomos a pé, papeando sobre o quanto James tinha arrasado no desfile, embora não tivéssemos ideia disso. Não conseguimos ver muita coisa, mas confiamos no potencial do inglês.

Duas meninas e um cara estavam na mesa para a qual James nos encaminhou. Meghan, Michelle e Josh. Três supermodelos agrupados em nossa panelinha improvável. Minha ideia de ir a Paris e, eventualmente, fazer amigos era mais crível quando a comunidade de cientistas de todo o mundo estava na foto. Mas, supermodelos? Comigo? Jamais pensei ser possível.

O trio era australiano, tão legal quando James e Adrian, e eu e Erica ficamos perdidas em meio a tantos sotaques em inglês para assimilar. Às vezes não entendíamos o que estava sendo dito e começamos, nós duas, uma conversa muito animada em português sobre como somos incapazes de entender o sotaque de Portugal. Emma sabia que não era nada de mais, mas nos reprimiu.

— Vocês querem parar de ser mal-educadas e conversar em uma língua que todo mundo fala?

Pedi desculpas, jogando um "sorry" na mesa, e fiquei calada por vários minutos. Erica também, porque não pegamos aquela conversa do início. Demoramos a descobrir do que se tratava e, quando o fizemos, não era nada do que a gente gostaria de falar ou saberia opinar sobre: vida de modelo. Emma se divertiu com todos os casos contados. Normal. Ela poderia ser modelo, se não fosse advogada. Tem altura, é linda, estilosa e despachada. Até demais. Pensando bem, não sei se o mundo da moda estaria preparado para Emma. Acho que apenas uma profissão muito, muito tradicional e conservadora, como o direito, consegue lhe impor algum limite.

O papo fluiu até que os gringos perceberam que eu e Erica estávamos só acenando com a cabeça. Ficaram todos ligeiramente sem graça – ao mesmo tempo. Meghan tentou nos trazer para a conversa, perguntando o que a gente faz da vida.

— Eu sou professora e a Erica é economista.

— Que legal! Professora de que?

— Física.

— Deve ser difícil!

Não tanto quanto andar de salto em uma passarela, pensei. Mas não falei nada. Só dei de ombros como quem diz: "que nada, é muito fácil, posso te ensinar qualquer dia desses".

— Elas estão sendo modestas. Erica praticamente trouxe a gente para Paris com sua perspicácia financeira e Alice é um gênio, tipo Einstein, sabe? Ela veio participar de um congresso.

— Sério? Eu pensei que a gente ia ter tempo para passear muito e fazer compras – Adrian ficou desolado quando confirmei que iria participar do congresso em vez de sair em novas tardes de compras. Não sei quanto eles pagam na Inglaterra, mas meu dinheiro já está acabando.

"Mas não vamos falar sobre o meu trabalho", eu disse, e Meghan foi simpática ao perguntar qual seria um tópico interessante para mim. Os australianos estavam atentos, o que me fez pensar se eles sabiam do meu não-casamento. Talvez Adrian os tivesse brifado para que não dissessem algo que me fizesse chorar, mas eu estava surpreendentemente longe desse drama ontem à noite. Se Meghan tivesse me feito aquela mesma pergunta há duas semanas, eu teria dito que queria desabafar sobre Rodrigo, sobre o quanto ele era um canalha, me deixando antes do casamento, que, a propósito, seria hoje, e que aquele era meu jantar de não-casamento. Mas, para falar a verdade, eu ando meio cansada desse sofrimento todo. De ser a vítima das circunstâncias. Me acostumei a transitar entre dois mundos: um dia, cansada de ser vítima, no outro, imaginando se ficaremos juntos novamente. Se eu entrasse nessa espiral, passaríamos o ano inteiro dentro daquele restaurante e eu não chegaria a uma conclusão.

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