Capítulo 25

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— Agora vai ser assim: você vai flertar com todo mundo. Vai sair flertando! Achou o cara bonito? Vai dar seu jeito e falar isso pra ele. Você sabe como fazer. Se ele te achar bonita de volta, ou alguma coisa nesse sentido, beija ele. Entendeu? Essa vai ser sua vida nos próximos dias. Finja que temos 21 anos de novo, loucas em algum boteco ou dançando em cima de carros no meio da rua. Vai ser sua despedida de solteira ao contrário. Uma viagem de "bem-vinda, solteirice"! Se você jogar pelas minhas regras, tudo vai dar certo.

Tudo isso sai em perfeito português, então Emma está relaxada, ainda que nada disso faça o menor sentido, mas é tarde demais para mim. Ela viu uma oportunidade de me dobrar, ainda no avião, e ditar as tais regras do jogo, e agora não vai largar a sensação de controle. Confesso que, às vezes, tenho medo de sua segurança, sempre em níveis muito mais altos do que a de reles mortais como eu. Para Emma, tudo sempre tem solução. Sempre. No metrô, rumo ao hotel, ela faz parecer como se, ao sair do Brasil, todos os meus problemas amorosos tivessem ficado para trás; como se fosse fácil flertar, beijar, me relacionar com vários outros homens. Ela só se esquece que, originalmente, eu estaria aqui, nessa viagem, com o cara que escolhi como marido. Por mais que a ame e queira fazer o que estiver ao meu alcance para retribuir esse gesto de ter vindo comigo, não consigo virar a chave tão fácil assim. Acho que ninguém consegue. Mas Emma é Emma, e a americana está firme no propósito de não me deixar lembrar de contextos alternativos à viagem de "bem-vinda, solteirice" que ela acaba de inventar.

— Só tem um detalhe, Ems: eu tô bem enferrujada. Não sei mais flertar.

— Qual é, Ali! – diz Erica – Esse tipo de coisa é como andar de bicicleta. Não se esquece. E você sempre teve um talento natural para isso.

Talvez Ca esteja certa, mas não tenho mais como saber. A última vez em que flertei e deu certo foi com Rodrigo, há seis anos, depois de uma de suas palestras de astrofísica. Ele estava concluindo sua linha de raciocínio com um homem mais velho, e parecia entediado, quando o abordei do único jeito que eu saberia fazer: com a verdade, nua e crua.

 Ele estava concluindo sua linha de raciocínio com um homem mais velho, e parecia entediado, quando o abordei do único jeito que eu saberia fazer: com a verdade, nua e crua

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— Você realmente acredita no que disse?

— Perdão?

O bonitão ruivo na minha frente parecia assustado, como se não estivesse acostumado a receber esse tipo de pergunta.

— No que disse ali em cima. Sobre a possibilidade de todas as partículas do universo serem formadas por cordas.

— Você não acredita?

Me respondendo com uma pergunta, se aprumou todo. Um perfeito pavão. Ganhei sua atenção; ótimo. Não esperava que ele se rendesse facilmente, contudo. Fez uma apresentação convincente, elegante, inspiradora – embora não tivesse nada a ver com o tema proposto pelo evento, que versava sobre os rumos da educação e os desafios da didática docente. Isso pouco me importou: fiquei de queixo caído desde o início, mas não daria essa informação a ele de bandeja.

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