Capítulo 68

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— Cara, você está horrível!

Igor não tem muito tato para falar verdade; ele só as joga em cima da gente e pronto. Eu concordo com a cabeça: estou realmente horrível, com a cara bem inchada, em tons de roxo e verde, e meu olho esquerdo está completamente fechado, ainda que eu faça força para deixá-lo aberto. Dra. Cora acertou nos remédios, que fizeram minha cabeça parar de doer, e a única coisa que ainda incomoda é quando eu coloco a mão no rosto. Minha bochecha parece uma almofada, mas é só encostar o dedo para sentir uma faca penetrando pelo lado de trás do meu crânio e atingindo meu olho.

— É, eu sei... será que isso sai até sábado?

— Cara, acho que não. Um parceiro meu já se meteu em briga e ficou com a cara inchada por uns meses, viu? Deu uns caroços muito esquisitos aqui – ele diz, apontando para a própria testa.

Ou Igor está exagerando muito ou o amigo dele tinha outros problemas de saúde além de ter se metido em uma briga, mas, como não sou médico, não cabe a mim dizer.

— Mas qual é pressa? – Ele prontamente se empertiga, perguntando: — Alguém importante vem aqui sábado?

— Não. Vou encontrar alguém, na festa do Léo. A Marina. Lembra?

— Olha, amigo, você sabe que eu sou muito fã da sua pessoa, você é boa pinta e tudo o mais, mas com essa cara aí, melhor não, viu? Você não quer assustar a menina.

— Aí é que você se engana, meu chapa. Você nunca ouviu dizer que as mulheres não resistem a um homem precisando de cuidados?

— Quem foi que disse isso?

Ele é a segunda pessoa que me pergunta a mesma coisa e começo a acreditar que, onde quer que eu tenha ouvido isso, não deve ter sido sério.

— De qualquer forma – Igor continua –, me conta sobre a sortuda da vez! Que, com você todo atropelado desse jeito, tá mais pra azarada. Cara, eu não sabia que esse Rodrigo era tão forte.

Ele não é, quero dizer, e quero também ressaltar que a própria médica falou que ele não sabe dar um soco, mas acho melhor não render esse tipo de conversa. Eu já tenho sinais de Rodrigo por todo o rosto, não preciso externar sua presença irritante também nos meus pensamentos. Em vez disso, abro o telefone e mostro para Igor a conversa com Marina.

— Você tem certeza absoluta que quer encontrar essa gata com essa cara? Ei, seu Giro, você viu isso aqui?

Meu pai ainda não tinha visto e, quando Igor mostra a tela do celular, Girolamo apenas fala "interessante", sem muita animação. Igor também quer mostrar para Chris, mas ela se diz "muito ocupada para suas baboseiras, Igor", então ele mesmo segura o telefone e faz perguntas sobre ela. De repente, me devolve o celular em um sobressalto, virando a cabeça para trás.

— Opa, chegou mensagem aí. Juro que não li.

Achei que tinha era uma nova mensagem de Marina. Me enganei. É outra coisa. De um número desconhecido, apenas quatro ou cinco dígitos, que começa com "Prezado Luca" e me causa um frio enorme na espinha. Estou há dias esperando aquela mensagem, mas, por algum motivo, me esqueci completamente dela. Quando termino de lê-la, fico com o estômago meio embolado, mas mais de excitação do que de nervoso. Olho para o bar, por um instante, sem saber direito porque faço isso – e me lembro: estou procurando por Alice. Ela é a pessoa para quem eu gostaria de contar a novidade em primeira mão.

Mexo no telefone, decidindo se devo ou não mandar uma mensagem para ela, contando o que acabei de saber, e decido que não. Não tenho certeza se serei capaz de contar algo a ela como se nada tivesse acontecido e tenho ainda menos certeza sobre deixá-la saber da briga quando ainda estiver em viagem. Como ela também não mandou mensagem alguma depois das ligações, nutri a esperança de que ela não esteja sabendo de nada, ainda, o que faz sentido; afinal, Rodrigo opera de modo covarde e, por mais que possa se vangloriar de ter me dado um soco, certamente não contaria a ela o que tinha me dito.

Teoria do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora