Chego tão atrasada ao evento que as pessoas do balcão de recepção, que sempre nos acenam amigáveis, nem estão mais por aqui. Depois da conversa do café da manhã, da mensagem de áudio que Adrian apagou – e do dilema moral entre mandar ou não uma mensagem a Lucas, para sair dessa angústia curiosa na qual me encontro –, ainda houve a parte do metrô tão lotado que tive que esperar dois ou três para conseguir entrar no vagão.
Não estou reclamando; a culpa é minha. Eu não devia dar ouvidos a ninguém nesse país, já que, toda vez que faço isso, algo inesperado acontece. Para ser honesta, não sou muito fã do inesperado: prefiro aquilo que eu saiba como começa e onde termina, como as músicas do Sugar Ray. Sem elementos-surpresa; apenas a boa e velha balada previsível que os ricos devem escutar aos fins de semana em seus iates.
Ok. Talvez os ricos não escutem música dos anos noventa em iates luxuosos. Eles não são descolados o suficiente para isso.
Quando chego ao auditório, cheia de pensamentos aleatórios que não fariam nenhum sentido para a audiência local, preciso esperar o painel terminar e as pessoas se exaltarem um pouco para tentar encontrar um lugar, preferencialmente perto de Larissa. Ela tem se tornado uma excelente companhia nessa lua de mel maluca. Olho o relógio para disfarçar o desconforto de ser uma das únicas pessoas em pé em um salão chique, mas também para calcular que horas são no Brasil. O painel está em seus minutos finais. Penso em qual seria a desculpa perfeita para puxar conversa com Lucas e perguntar o que ele disse no áudio que Adrian apagou. Concluo que não há desculpa perfeita; não existe nenhuma forma de falar sobre isso sem trazer à tona a verdade inconveniente: que estávamos falando dele. Que Emma disse a seu compatriota que havia um irlandês me esperando no Brasil. E que, presumivelmente, ele é o irlandês; mesmo porque não conhecemos nenhum outro, na vida real, e não acho que Collin Farrell esteja em algum lugar de Belo Horizonte esperando por mim. Então, só conseguiria introduzir a conversa se trouxesse o assunto à tona, e não há a menor chance de eu fazer uma coisa dessas.
Meu celular vibra: "ei, não vem hoje?". É Larissa. Respondo que "estou nos fundos, cheguei atrasada", e ela se vira e levanta a mão para que eu possa vê-la. Já sei onde vou me sentar, o que é um alívio. É sempre bom ter alguma certeza na vida, qualquer que seja ela.
Já passam das onze quando consigo me sentar perto da minha nova amiga.
— Pela sua cara, a noite foi boa!
Larissa está sendo gentil. Tenho perfeita consciência de que minha cara se assemelha muito ao rosto de alguém que é atropelada por um foguete da NASA. Ainda estou de ressaca, não se esqueça; eu não me esqueci.
— Nem queira saber...
— Seu professor está atrás de você. Ele me perguntou três vezes se você já estava chegando. Acho que é urgente.
— Não é urgente, ele está sendo dramático.
— Certeza?
— Absoluta. Ele só quer falar sobre ideias de projetos de doutorado. Nada que não possa esperar.
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Teoria do Amor
RomanceLembra das aulas de física que te faziam pensar a razão pela qual era preciso saber o que aconteceria a um bloco de três quilos se você o empurrasse de uma altura de quinze metros a uma velocidade de seis quilômetros por hora - bem como a aplicação...