Capítulo 41

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— Já vi tudo: você vai entrar e nunca mais vai sair. Quem não te conhece que te compre.

Estão todos no bar em frente ao hotel – que, na realidade, está mais para um bistrô. Emma, Erica, Meghan, Adrian, James. Até Michelle e Josh. Bebem vinho e comem algo que não vou saber descrever o que é, mas que não me dá nenhum arrependimento de já ter comido.

— Emma, calma! Eu só vou trocar de roupa e carregar meu celular. É rapidinho.

Conheço a dúvida no olhar das minhas amigas, e não posso culpá-las: está nos primeiros lugares da lista das coisas que sei fazer de melhor o item "dizer que vai fazer alguma coisa rapidinho e não ter mais disposição de voltar para o lugar onde estava anteriormente". Fui assim nos carnavais, quando éramos solteiras e os blocos passavam pela rua onde moro. Em dado momento, dizia que ia só fazer xixi, ou tomar água, ou qualquer outra coisa bem rápida no apartamento e, quando elas chegavam a ele, três ou quatro horas depois, nem se desgastavam em me dar um esporro. Emma e Erica sabem, desde sempre, que tenho esses rompantes – e não se importam muito, já que, na maioria das vezes, estão alegres demais para notar que sumi de vista. O único lugar para o qual nunca dei esse tipo de desculpa é o Irlandês. Ao contrário: elas é que me dizem, de vez em quando, que precisam ir lá em casa dar um telefonema, ou trocar de roupa, ou qualquer outra coisa desnecessária no momento, ou que seriam capazes de fazer ali mesmo, quando já estão fartas de ficar no balcão e percebem que ainda tenho energia para render. Esse acabou virando um código de saída para todas nós.

Mas, hoje, não é o caso.

— É sério, Emma. Prometo que volto. Eu só preciso trocar de roupa. Olha só – aponto para a barra da minha calça —, estou ensopada.

— Tá bom. Você tem quinze minutos.

— Trinta? – Quem não chora não mama.

— Vinte e não se fala mais nisso. Se você não estiver aqui em vinte minutos, vai se arrepender. Coloca um alarme aí pra não esquecer.

Mostro que a tela desligada do celular me impossibilita de seguir sua sugestão. A americana me olha com cara de quem não liga nem um pouco para esse tipo de problema, já que não é dela. Erica fala em português:

— Corre. Meghan vai tirar o tarô pra gente.

Tarô? Meghan tem um baralho de tarô? O que raios está acontecendo – e por que Erica está me falando isso? Ela sabe que, quando se trata de astrologia e seus agregados, é mais fácil eu correr para o hotel e, de fato, nunca mais sair, do que me apressar para o retorno ao bistrô.

— Você não quer saber seu futuro? – pergunta, cheia de mistério. Erica costumava ser mais cética do que isso.

— Se eu quiser saber o que o futuro me reserva, eu espero pra ver. Essa é a forma mais eficiente de decifrar o futuro.

— Mas, por esse ponto de vista, ele nunca vai chegar. Se esperarmos, estaremos sempre no presente – Michelle diz, me lembrando que entende português. E entende de outras coisas, também. Sua afirmação ganha uma estrelinha no meu hall das excelentes conclusões.

— Essa é a vibe, Michelle – pisco para ela. — Se eu esperar pelo incerto, e vivê-lo quando ele chegar, quem pode dizer que li incorretamente o futuro? Ou corretamente?

— Achei que você ia trocar de roupa, e não ficar falando coisas que ninguém entende ou se importa – Emma diz, em inglês, meio brava.

Em seu rosto brilha a expressão "leve isso a sério senão você vai se ver comigo". Percebo que ela quer que eu não tire sarro da leitura das cartas de Meghan, mas não sei se consigo fingir sobre algo tão pseudocientífico.

Por outro lado, para me pedir tal coisa, ela deve estar desesperada para deixar a australiana feliz. Ela me conhece e sabe, com conhecimento de causa, que eu não consigo levar essas coisas a sério. Não está no meu sangue acreditar em coisas que simplificam muito os melhores mistérios da vida – como o futuro, por exemplo.

— Sorry – digo, voltando ao inglês. — Desculpa. Vamos ler o tarô! Mal posso esperar. Já volto!

Teoria do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora