— Então, Meghan, o que você vê aí pra mim? – pergunto, fingindo interesse.
Ela abre um deck de cartas com desenhos que não consigo entender. Alguns parecem ser indicativos de coisas boas, outros de coisas ruins, mas, no fim, dá tudo na mesma: nenhuma dessas cartas significa nada. Mas preciso ser simpática. É só imaginar uma lei da física que destrói cada argumento daquele baralho e guardar a informação para as próximas aulas. Adolescentes não gostam quando cancelo a astrologia para eles, mas pelo menos é um assunto que gera interesse o suficiente para que guardem o conceito.
— Leitura completa? – pergunta.
— O que seria isso?
— Passado, presente e futuro – Emma responde.
— Quer saber, Meghan? – digo, e Emma me encara, tensa. Isso é mesmo importante para ela. — Apenas futuro. O passado é terrível e o presente já está acontecendo. Vamos ver o que vem por aí.
Emma suspira, relaxada, enquanto a australiana junta o deck novamente e o embaralha. Pede que eu escolha uma carta e a coloque com a ilustração virada para a mesa. Faço isso. Em seguida, Meghan pede que eu repita a operação mais duas vezes. Quando as três cartas são deitadas à nossa frente, diz:
— O tarô tem arcanos maiores e menores, cada um com significado próprio.
Ela gasta um tempo considerável me explicando o que tudo isso quer dizer, mas minha mente já tinha se desligado do discurso assim que ouvi a palavra "arcanos". De onde eu venho, arcano quer dizer secreto, indecifrável, incompreensível. Se, de onde ela vem, arcano também é isso, logo todos os desenhos de suas cartas são passíveis de interpretações pessoais, pois a verdade não pode ser dita, por pura e simples limitação do método. Arcanos não se desvendam. É um desperdício de espaço de memória guardar informações como as que Meghan tenta me passar.
— Entendeu? – ela conclui.
— Tudinho! Vamos lá!
As meninas parecem mais tranquilas; acho que estou convencendo.
— Vamos lá. Essa aqui é a sua carta do trabalho e finanças. Posso tirar?
Balanço a cabeça em afirmação e, quando Meghan se depara com a face da carta, sua expressão é de mistério. Claro.
— O Mago. Essa carta diz que o maior recurso para grandes mudanças no seu trabalho é seu talento. Você é muito inteligente e vai usar isso em benefício próprio.
Mas não é isso que eu já faço, sendo professora e coisa e tal? A pergunta seria essa, mas é mais polido adotar a feição simpaticamente confusa de quem quer saber mais sobre o assunto. Afinal, até agora, ela não disse nenhuma novidade – exceto o que significa a carta do mago. Essa eu não sabia. Se fosse chutar, diria que o mago é um aviso de que Paulo Coelho está chegando a qualquer momento para tomar um Chardonnay ou outra bebida francesa que escritores ricos tomam.
— Existem algumas mudanças para você, Alice. Talvez você não fique muito tempo no seu emprego.
Tem como ser mais específica, florzinha?
—Mas você vai continuar fazendo o que gosta. Só que em outro lugar.
Óbvio. Se eu sair de um emprego, vou fazer a única coisa que sei fazer, só que em outro. Viu como esse negócio de condicionamento funciona? Até agora ela não falou nada que prove que estou errada. Não deu uma data e não citou o nome das escolas onde trabalho ou de onde vou trabalhar.
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Teoria do Amor
RomantizmLembra das aulas de física que te faziam pensar a razão pela qual era preciso saber o que aconteceria a um bloco de três quilos se você o empurrasse de uma altura de quinze metros a uma velocidade de seis quilômetros por hora - bem como a aplicação...