Capítulo 36

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"Como se eu fosse reforçar alguma coisa com esse babaca", era o que queria dizer, mas... melhor não a atingir dessa forma no dia seguinte ao que seria seu casamento. Ela pode ler a mensagem como "uma menina que se diz tão inteligente e não percebeu que escolheu um babaca, no fim das contas"? Por outro lado, não que ele não mereça ser tratado como o idiota que é. Não ter casamento é culpa dele. Me resigno em dizer apenas que "não é por causa disso", esperar ela perguntar o porquê e ganhar tempo para formular uma boa desculpa.

É exatamente o que acontece: ela pergunta "por que?" e eu digo, alguns minutos depois: "porque ele sempre está muito ocupado consigo mesmo para pensar em manter múltiplos relacionamentos ao mesmo tempo".

Isso não deixa de ser verdade, embora não tenha a etiqueta de "babaca" que eu queria ter colado junto a seu nome no primeiro dia em que ele pisou no nosso bar. Rezo para que a conversa termine nessa frase, porque, qualquer que seja o próximo passo, vou ter que me esforçar muito para não mostrar para Alice que ela é uma mulher muito inteligente que não soube reconhecer que o Cara Certo era o Homem Errado.

 Rezo para que a conversa termine nessa frase, porque, qualquer que seja o próximo passo, vou ter que me esforçar muito para não mostrar para Alice que ela é uma mulher muito inteligente que não soube reconhecer que o Cara Certo era o Homem Errado

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Respeitar as mulheres não foi um processo; eu já sabia que isso era o mínimo a se fazer desde que me entendo por gente. Minha mãe viveu só seis anos ao meu lado, mas não me recordo de nenhuma vez em que eu tenha faltado ao respeito com ela, e não me recordo de ver meu pai fazer isso. Também não tenho lembrança de nenhuma discussão que ela não tenha ganhado. Uma memória que trouxe da infância e não me abandonou até hoje é a de um falatório sem pé nem cabeça, aparentemente tão importante que Girolamo falava em italiano e Molly retrucava em inglês. Lembro de ouvi-lo levantar a voz um pouco – e, por ser italiano, acho que ela nem notou a diferença –, enquanto Molly não falou nem um decibel acima de seu tom convencional. Minha mãe disse algo em inglês e meu pai pediu desculpas, abaixou a cabeça e saiu da sala. Ao longo do dia tudo foi ficando mais ou menos bem e, à noite, eles já estavam se falando normalmente.

Muito tempo se passou e não posso dizer exatamente o motivo da briga, porque eu nem me lembro do que eles estavam falando, mas algo desse dia ficou gravado em mim para sempre. Depois do jantar, quando Molly saiu da mesa, meu pai me disse, em italiano:

— Nunca perca tempo discutindo com sua mãe.

— Por que?

— Porque vai fazer papel de bobo se tentar.

— Mas por que?

— Ela sempre tem razão.

Não havia rancor ou ironia em sua voz quando ele me ensinou essa lição importante. Estava sendo sincero: ela tinha razão. Ponto. Imagino que o modo como ela encerrou a discussão deve ter sido uma amostra de que ele estava sendo ridículo. Meu pai é um homem orgulhoso, que não suporta ser feito – ou se fazer – de bobo. Depois daquele dia, Girolamo nunca repetiu o feito, o que quer que tenha sido. Até porque não teve tempo.

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