Capítulo 67

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DIA 8

O céu estava escuro enquanto eu voltava para o hotel após chegar à rodoviária de Paris. Quando estava quase na porta, a tempestade que se anunciava o caminho inteirou finalmente começou a cair, impiedosa. Precisei apertar o passo. Estava sem guarda-chuva e o sobretudo que peguei emprestado de Meghan é impermeável, surpreendentemente impermeável, nunca vi algo tão eficaz nesse departamento quanto esse casaco, mas não tem capuz. Meu corpo ficou seco, mas minha cabeça estava encharcada, os cabelos grudando no rosto, a chuva gelada cortando minhas bochechas. Só me restava andar o mais rápido possível. Faltavam apenas alguns quarteirões.

Na recepção, Pierre estava sorridente, como sempre, mas ficou preocupado ao me ver. Veio rapidamente em minha direção, sussurrando palavras em francês que eu não faço a menor ideia do que eram. Chamou um colega da recepção, disse algo em francês e, um pouco mais tranquilo, falou comigo na língua que eu entendia:

— Mademoiselle! Por que não nos ligou? Poderíamos te levar uma sombrinha em algum ponto da cidade.

Nem passou pela minha cabeça que isso era possível; mas, em minha defesa, com tudo o que estava se passando pela minha cabeça, não havia espaço parar pensar em mais nada.

— Estou bem, Pierre, não se preocupe. Estava aqui perto.

O colega da recepção chegou com uma toalha gigantesca e a colocou sobre meus ombros. Nisso, Pierre já estava com uma xícara na mão para me oferecer. "Café com conhaque", ele disse, e eu sorri com imensa gratidão. Tudo bem que o hotel é caríssimo e estou basicamente em uma suíte presidencial, mas algo na cordialidade das pessoas ali me faz sentir que não é apenas pelo dinheiro. Por algum motivo, gostaram de mim.

— Suas amigas acabaram de sair, não tem nem meia-hora – disse, lendo meus pensamentos; eu estava prestes a perguntar sobre elas.

Pedi que, quando chegassem, alguém as avisasse que eu estaria no quarto. Pierre prometeu que ele mesmo daria o recado, sem perguntar se eu não também não ia sair, porque é óbvio que eu não ia sair, com o dilúvio que roubava a cena do lado de fora.

— Ah, você pode dar a elas uma chave extra? Caso eu esteja dormindo quando elas chegarem.

Embora tenha dormido no ônibus, ainda me sentia muito cansada, com uma dorzinha de cabeça daquelas que aparecem quando estamos com o sono atrasado.

— A mademoiselle Emma já tem uma! – Pierre respondeu, sorridente, mas apreensivo por admitir que deu uma cópia da chave do meu quarto "a terceiros".

Até Pierre já descobriu que Emma consegue o que quer, quando quer e onde quer, mesmo que a política de privacidade de um estabelecimento esteja contra suas vontades. "Excelente!", respondi, com um sorriso desanimado. Acho que entreguei meu completo cansaço nessa rápida expressão, pois o simpático recepcionista me abordou com ainda mais ternura:

— Posso ajudar em algo, mademoiselle?

Estava prestes a dizer "mais do que você já ajudou?" quando as luzes da recepção piscaram e meus pensamentos mudaram de lugar. A porta giratória do hotel vibrou de um jeito barulhento e vi que mais gente entrava buscando abrigo. Quando dei por mim, a cidade do lado de fora estava envolta em uma manta branca e densa, como a neblina da manhã na estrada. Foi aí que percebi que aquilo não era chuva. Era neve.

E, de alguma forma, isso melhorou meu humor. Sorri e respondi ao meu amigo da recepção:

— Pode me ajudar, sim, Pierre. Vocês têm carta de vinhos?

 Vocês têm carta de vinhos?

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