Eu já devia ter me acostumado com o óbvio, porque ele é óbvio.
É óbvio: a vida não é nada mais que idas e vindas que ninguém pode explicar ou prever, e é justamente isso que a faz tão excitante, pelo menos quando os ventos estão a nosso favor. Se estamos com sorte, queremos mais. Adoramos o privilégio de sermos tão aleatórios, palpavelmente aleatórios, quando tudo parece dar certo. Mas, quando é o azar que bate à porta, ficamos chateados e não vemos problema em negar a beleza dessa aleatoriedade para perguntar, com uma saudade que a gente não sabe bem do que, o que fizemos de errado.
Por que não dá para ser feliz todos os dias?
A gente esquece tão facilmente a resposta, tão simples e direta quanto a própria existência da vida: dias são pêndulos. Sua sequência faz com que a vida atinja o ponto alto, mergulhe ao mais baixo e se prepare para alcançar o alto novamente, e novamente, e novamente. A vida não é o ponto alto ou o ponto baixo, mas a trajetória entre esses pontos, e o grande problema é que, justamente por serem menos extremos, são pontos subestimados. Não achamos que esses são os momentos que valem a pena, porque queremos o ponto mais alto, ou fugir o suficiente do ponto mais baixo, mas um pêndulo é um pêndulo e terá que passar por todos os pontos de sua trajetória para que seu movimento esteja completo.
Tudo seria mais simples se eu conseguisse prestar verdadeira atenção aos dias normais, aqueles que não são nem felizes e nem tristes, que apenas... são. O hoje – e não importa sobre qual hoje estejamos falando – é isso aí: nem super no alto nem super embaixo. É o fluxo. A vida que temos agora, passando diante dos nossos olhos sem que a gente consiga apreciar seu belo momento, ainda que nos pareça medíocre, é o que mais temo perder.
Essa necessidade idiota de olhar para o passado ou para o futuro com tanta agonia me tira o prumo, fazendo com que o agora me fuja e me dando a impressão de que, no fim da linha, quando eu estiver pronta para desligar meu sistema e cair na escuridão da inconsciência, são esses os momentos que mais me farão falta. Os pontos do pêndulo que não eram os tão altos, nem os tão baixos, mas os que me levavam de um a outro. Talvez seja bem nesse momento final da vida que eu consiga, finalmente, ver o quanto cada movimento é rápido. Podia demorar um pouquinho! Mas um pêndulo é um pêndulo, e tem sua própria velocidade até aceitar as forças que o fazem parar.
Hoje podia ser um desses dias, normais, medíocres e cheios de apreciação, mas, mesmo quando digo essas coisas todas em voz alta, e mesmo sabendo que tenho razão, ainda não sei aceitar um dia comum apenas pelo que ele é. Não depois de ter conhecido o desconfortável conforto do fundo do poço. Anseio por voltar ao ponto mais alto, sentando-me no mais baixo e sentindo uma enorme falta do outro extremo, enquanto estava no topo, pronta para tomar o mundo de assalto, e me sinto ridícula. Eu devia, eu precisava, seguir as regras do que ensino todos os dias a pessoas que ainda não têm minha experiência de vida.
É minha obrigação aprender a interpretar a metáfora.
A vida é a porra de um pêndulo.
Tenho certeza que, algum dia, estarei novamente no alto. Mas, fazendo as malas e me sentindo em um dos pontos mais baixos da trajetória, o Louboutin foi a primeira coisa que coloquei na bagagem.
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Teoria do Amor
RomansaLembra das aulas de física que te faziam pensar a razão pela qual era preciso saber o que aconteceria a um bloco de três quilos se você o empurrasse de uma altura de quinze metros a uma velocidade de seis quilômetros por hora - bem como a aplicação...