Coloco o telefone na tomada enquanto tiro todas as camadas de roupa que coloquei de manhã. Nem todas estão úmidas, mas resolvo que todas devem sair – mesmo porque é melhor reutilizá-las no bistrô à frente do que gastar as roupas de amanhã. Pelo olhar do professor Ricardo, preciso me vestir melhor.
Coloco-as perto do aquecedor na parede, abaixo da janela. Enquanto espero as calças e meias secarem, tiro as três blusas que ainda visto, já que o aquecedor faz parecer que estou no verão do Maranhão. Visto uma camiseta gigantesca, que tem um furo embaixo do braço, e que veio na mala para servir de pijama. Eu até ganhei camisolas lindas nas festinhas que as meninas organizaram para que eu ganhasse presentes sensuais, com o objetivo de usar todos eles na lua de mel. Mas, para isso, a lua de mel deveria durar uns sete meses. E, como ela acabou durando um total de zero dias, decidi trazer para cá o completo oposto de sexy, e esse conceito acabou sendo perfeitamente traduzido em uma camisa velha cuja origem é desconhecida, mas que é bem maior que eu e tampa minha bunda de forma adequada.
Quando o celular se mostra um pouquinho carregado, vou direto ao aplicativo de mensagens. Nenhuma nova.
— Ok, já pode me contar a novidade.
Lucas demora alguns minutos para responder, mas sei que não é porque está atendendo ninguém no bar, já que é segunda e o bar está fechado. Segunda-feira é o dia em que ele menos demora a responder, porque está em casa vendo TV com Giro e não larga o telefone. Sei disso porque costumamos conversar bastante às segundas-feiras, sobre nada.
A demora me incomoda, e esse é um sentimento novo. Não sou muito curiosa com a vida das pessoas, mas também não gosto de estar curiosa. Parece que tudo se resume à importância que as pessoas dão ao que estão fazendo quando não estão com você, e não tenho paciência para depender emocionalmente do desconhecido. Nem mesmo com Rodrigo eu tinha esse tipo de atitude, e as demoras dele para responder aos meus chamados nunca me pareceram alarmantes.
Bom, olhando em retrospectiva, talvez eu devesse ter me alarmado.
A tela ainda não mostra a resposta de Lucas.
Onde será que ele está?
Fazendo o que?
Por que será que quero saber?
Perceber novamente minha impaciência é, de certo modo, chocante.
O que diabos está acontecendo comigo?
— Está sentada? Você vai cair pra trás.
Meu coração dá um pulo quando a resposta finalmente chega. E, como não sei se ele pula porque estou curiosa, porque é Lucas ou porque estou mais curiosa para saber porque Lucas demorou a responder do que a novidade em si, prefiro não trazer à tona todas as perguntas que já se afundam em meu cérebro.
Em vez disso, faço o que faço de pior quando não entendo o que estou sentindo: me torno impulsiva e inconsequente – dentro dos limites de uma pessoa introvertida, é claro.
— Chamada de vídeo? – sugiro.
Ele manda um áudio.
— Me dá um minuto. Tô entrando em casa.
Ah! Então é isso, ele estava dirigindo.
Para onde?
De onde ele está vindo?
Eu vou cair pra trás por que?
Alguém me situa?
Sinto uma fincada gelada passando pela espinha e se depositando em algo que julgo ser meu estômago. Nauseada, me dou conta do que me espera – eu, que não acredito em prever o futuro.
Sinto que essa segunda-feira diferente na França guarda, lá no Brasil, uma história interessante; mas talvez ela não seja interessante para mim...
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Teoria do Amor
RomanceLembra das aulas de física que te faziam pensar a razão pela qual era preciso saber o que aconteceria a um bloco de três quilos se você o empurrasse de uma altura de quinze metros a uma velocidade de seis quilômetros por hora - bem como a aplicação...