Teoria do Amor

Capítulo 77

DIA 11

Meu coração dá um pulo ansioso, o estômago se revira todo e sei que não é pela vodca do dia anterior, nem é jet lag. Borboletas. Que coisa mais... adolescente. É ótimo e péssimo ao mesmo tempo. A vergonha de ter dito tudo o que disse na tarde anterior começa a bater fundo, com a sensação esquisita de que a mensagem de Lucas com o endereço de casa é apenas um prêmio de consolação; a tentativa de salvar a amizade a qualquer custo, uma compensação por ter começado a namorar uma menina incrível. Pelo menos ele não faz ideia de que eu sei que, um dia, anos atrás, ele confessou à Erica ter sentimentos por mim. Mas isso não diminui o gosto amargo de perder o timing. Puta que pariu, Alice, pra que você foi abrir essa boca? Agora é tarde. Mais uma vez nós não estamos na mesma página e nada pode ser feito a respeito.

Me contento em tomar um banho, vestir uma roupa e ir para o endereço que Lucas enviou. "O que levo?", mando como resposta, tentando parecer casual. A resposta veio quase imediatamente, com "sua fome. Teremos surpresas".

Olho no relógio, só pra conferir: sete da manhã. Estou acordada desde às três, mas só agora respondi a mensagem. E ele? Para uma pessoa que fechou um bar às duas e responde uma mensagem às sete, Lucas também não deve ter dormido muito. Quero enviar outra mensagem, zombando dessa insônia, mas é melhor não fazer isso. Se ele estiver com a nova namorada, teria de se explicar sobre a razão de estar papeando com uma amiga tão cedo. Conheço essa frustração – precisei fazer isso com Rodrigo várias e várias vezes. Aprendi a lição. Não submeteria Lucas à mesma saia justa.

Depois de responder às meninas que cheguei bem, omitindo que já falei com Lucas, tomo banho e encaro o armário aberto por alguns minutos. Não sei o que vestir – e isso nunca foi um problema, até agora. O que usar no dia em que preciso pedir desculpas ao melhor amigo por ter ultrapassado os limites e, de quebra, conhecer sua namorada, no dia do aniversário de sua falecida mãe?

Acabo optando por um vestido azul marinho de bolinhas brancas, velho, mas conservado, que meu pai adorava. Bom, se vamos celebrar os mortos, façamos direito. E, afinal, é uma roupa que combina com o lugar para onde estou indo. Os italianos moram em um condomínio na beiradinha da cidade, um lugar no meio do mato, mas ao alcance da civilização. Diferentemente dos dias anteriores, essa é uma manhã quente de domingo. Parece que vai chover, eventualmente, mas está quente como o inferno. Ao me olhar no espelho pela última vez, antes de sair, respiro fundo e tento encontrar coragem para deixar a casa. Dou uma piscadinha para o espelho, digo para mim mesma "então vamos lá" e, finalmente, me sinto adequada – se não nos sentimentos, pelo menos na vestimenta.

Ao passar pela portaria, vazia, sinto novamente as borboletas no estômago. Resolvo não ir de mãos abanando; passo na padaria e compro uma garrafa de vinho. Vou à garagem, onde está meu carrinho velho, e torço para que ele não pegue. É uma excelente desculpa para não ir ao encontro do destino. Mas, claro, ele pega. Muito bem, aliás. Me resigno e coloco para tocar uma seleção de músicas que me fazem sentir bem. Eye of the tiger. You get what you give. Don't stop me now.

Faço todo o percurso cantando a plenos pulmões, em uma manhã de domingo, e mal percebo que chamo a atenção dos outros motoristas no sinal vermelho. Inclusive, quando um carro de polícia para do meu lado, não se faço de rogada: me sentindo a reencarnação de Freddie Mercury, batuco o volante ao ritmo da música e, pelo menos na minha cabeça, alcanço os tons com enorme precisão. Os policiais olham por algum tempo, desconfiados, mas percebem que não se trata de uma bêbada ao volante; apenas uma doidinha que, pelo visto, está tendo um excelente início de domingo.

Ah, como as aparências enganam...