Capítulo 33

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— Se as coisas tivessem dado certo, uma hora dessas a gente estaria no maior festão.

— Igor! – Chris o reprime. — Não seja tão insensível.

— Que foi? A Alice nem está aqui pra se ofender...

— Mas o Luca está.

Desde que Alice viajou, Chris está tentada a me provocar, me citando quando o assunto é ela. É irritante sua facilidade descomunal para fazer isso. Consigo ver daqui as engrenagens de Igor funcionando para entender o que ela está dizendo, mas o que ele diz me faz pensar. Se as coisas tivessem saído como o planejado por Alice, o bar estaria fechado por causa de um casamento.

— Não me coloque nesse meio – digo.

— No meio de que?

Girolamo se aproxima do balcão, curioso. Sua pontualidade não poderia ser mais inoportuna. Ele gosta muito de Alice e, assim como eu, muito pouco, ou quase nada, de Rodrigo. Em outras palavras, caso a situação demandasse, ele jogaria no meu time. O que, claramente, não é o caso.

— Seu Giro, você acha que Luca e Ali seriam um bom casal? – Chris pergunta.

Pronto.

Estava demorando.

— Hmmm... – pensa. Coça a cabeça. Mau sinal. — Nunca parei para pensar nisso. – Mentira. Ele já pensou, sim. — Mas eu acho que eles seriam o melhor casal.

— Vocês podem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui?

— Só se você mandar uma mensagem para ela e contar tudo – Chris desafia.

— Tudo o que? – embora não esteja entendendo absolutamente nada, Igor se mantém curioso e bastante interessado.

— Eu também queria saber – respondo.

— Não se faça de bobo, Acconciaioco.

A maioria das pessoas não sabe falar meu sobrenome, mas não Chris. Chris tem uma facilidade enorme de falar coisas difíceis. Em todos os sentidos.

— Se você tem algo pra contar a ela, Chris, pode contar. Eu estou bem.

— Conto mesmo – diz, pegando o celular. — "Oi, Ali! Estamos aqui falando de você e...".

Um frio percorre minha espinha porque sei que Chris realmente faria isso. Ela não desafia à toa. Mas eu não dou o braço a torcer, nem agora, nem nunca.

— ... mas acho que não é uma boa ideia, né? E se ela estiver na fossa? – Chris pondera.

Aprovo com a cabeça esse pensamento, porque realmente aprovo qualquer demonstração de bom senso. Na verdade, estou disposto a dar razão a qualquer coisa que faça Chris largar o telefone.

— Alice? Na fossa? Na França? Não duvido nada que ela esteja se atracando com um gringo agora mesmo. – quando Igor fala, todo mundo olha para ele. — Que foi, gente? Vocês não se lembram de quando ela e Rodrigo se conheceram? Ela estava triste porque tinha levado um fora na semana anterior e, na outra sexta-feira, já estava com ele nesse bar, sentada ali naquela mesinha. Bem ali.

Repetiu o "ali" para deixar claro que se lembra de onde Alice se sentou com Rodrigo e em qual dia da semana. Igor sempre pleiteia saber tudo sobre os clientes frequentes, embora seja Chris quem lhes forneça apoio psicológico para as questões obscuras da vida. Para ser honesto, não me lembro desse cara de antes, de quem Igor fala, mas tenho vaga recordação de Alice e Rodrigo sentados na mesa para a qual ele está apontando.

— Se tem uma coisa que Alice não perde é tempo. Pode escrever aí: ela vai voltar contando que pegou geral na Europa. Não vai nem lembrar que era pra ter casado hoje.

— Nossa, que exagero! Agora você foi longe demais, garçom – Chris diz. — Vou mandar mensagem pra Emma. Perguntar como estão as coisas.

— Está de madrugada lá – digo. — Elas devem estar dormindo. Melhor não.

— Já mandei – Chris responde e me mostra a tela com "Emma, comé que tá aí?".

Por aqui são dez da noite. O bar está cheio. Pessoas entram, pessoas saem e nós quatro estamos unidos, naquela pequena janela de oportunidade de um papo, coisa rara aos sábados no bar, querendo falar alguma coisa sobre o casamento que teria sido e não foi. Imagino em quais outros lugares as pessoas também estão falando sobre Alice e Rodrigo, se contorcendo de pena, alívio ou tristeza por ter perdido uma festa.

— Ih... – Chris está ligeiramente preocupada. — Acho que Igor tem razão. Olha a resposta da Emma.

Emma mandou uma foto em que estão as três que conhecemos e um monte de gente que nunca vimos. Um cara muito alto abraça Alice pelo pescoço.

— E que razão! – Igor adora estar certo. — Não sou de dizer isso, mas que cara gato!

— Bonito é apelido, meu bem. Isso aqui é um deus grego – Chris completa.

Girolamo se esgueira para olhar para a foto e sua expressão é de pura surpresa. É unânime: o homem dependurado em Alice é, realmente, muito bonito. Tento ficar feliz por ela e quase não ouço meu pai cochichando perto de mim enquanto aqueles dois ainda estão embasbacados pela foto.

— Manda uma mensagem – ele diz.

— Até você, pai?

— Só estou dizendo que você pode mandar uma mensagem. Perguntar se está tudo bem. Ela está acordada.

— Você não viu a foto? Está tudo bem. Elas estão se divertindo.

— Você quem sabe...

Ele parece desapontado, como uma criança que é avisada que chegou a hora de ir embora do parquinho. É aí que percebo que ele realmente tem uma boa visão de eu e ela sermos um casal. Como essa não é uma possibilidade, melhor cortar logo o mal pela raiz, destruir as expectativas e fazê-lo se dar conta de que, mais dia ou menos dia, ele terá outra pessoa para aprovar como minha namorada.

Só não sei se nos daria o título de "o melhor casal".

— Aliás, vou sair com a Bruna amanhã.

Ele olha para mim, balança os ombros e repete:

— Como disse, você quem sabe.

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