Meghan não estava errada: a balada ainda estava vazia. A música não estava tão alta quanto poderia e umas trinta pessoas dividiam o espaço entre o bar e a pista de dança. Ela, Michelle e Josh foram direto para o centro. Adrian e James desapareceram. Fiquei imaginando se teriam ido embora e nos deixado lá.
Tinha uma mesa alta bem perto do bar, com vista para a pista, e eu, Emma e Erica fomos para lá. Nos preparávamos para comprar bebidas quando o casal vinte reapareceu na nossa frente, com três long necks pouco geladas. Agradecemos a gentileza e Emma garantiu que todos estaríamos reunidos na pista em pouco tempo, suposição rapidamente acatada por eles. Foram se juntar aos australianos e nos deram uma visão panorâmica da situação: eles e mais quatro pessoas estavam dançando. Essa era a balada.
Emma saiu da mesa e voltou, minutos depois, com três doses de tequila. Percebi que estávamos prestes a ter uma reunião extraordinária das bebuns. Ela queria me animar ou me derrubar e provavelmente conseguiria as duas coisas, não necessariamente nessa ordem, mas pagou para ver. Enquanto isso, Meghan, Adrian e James dançavam sensualmente na pista, destoando dos passos bem-comportados de Michelle e Josh.
— Tô apaixonada! – Emma chegou suspirando.
— Eu sei... – Erica suspirou também. — Ele é lindo.
Eu só conseguia mexer a cabeça em concordância eterna, como aqueles cachorros de cabeça solta que pessoas ousadas colocam no painel de seus carros.
— Quê? – Emma parecia confusa. — Ah! Eu não tô falando do James. Tô falando da Meghan.
Suspirou de novo.
Eu e Erica desviamos nossa atenção da pista de dança para a cara uma da outra. Sinais de aprovação. Meghan também era linda e parecia legal.
— Vai fundo – eu disse.
— Não posso. Não sei se ela... você sabe... – olhávamos para ela com cara de "não, não sei". Era proposital. Aproveitávamos cada oportunidade para fazê-la se explicar, só porque era divertido. — Ah, que se dane. Se ela gosta de mulher.
— Você não tem, tipo, um radar para esse tipo de coisa? – Erica perguntou.
Emma ficou ofendida.
— Meu radar é tão impreciso quanto o seu, que namorou um gay por dois anos.
Essa informação é correta.
Erica ficou com um cara chamado Michel dos 16 aos 18 anos. Quando perguntei a ela sobre a primeira transa, coisa que ainda não tinha rolado comigo, ela usou apenas uma palavra como descrição: "péssima". Mas, depois, percebeu que tinha uma razão para ser péssima: Michel era gay. Só para constar, hoje em dia ela não usa mais essa palavra. Erica adora transar. Ou finge muito bem. É casada há seis anos e já tem dois filhos, gêmeos, de cinco. Fui babá várias vezes enquanto ela e Conrado davam escapadinhas. Os meninos não são quietinhos, mas nada como um telescópio e quatorze filmes da Disney para entreter crianças.
— Se vale de alguma coisa, eu acho que eu transformei o Michel em gay. Naquela época, eu odiava transar.
— Ca, você odiava transar porque ele não sabia o que fazer com você – Emma estava sem paciência. — E ninguém transforma ninguém em gay. Que absurdo. Depois o problema sou eu xingando Hitler.
Um homem que passava na frente pareceu assustado ao captar a palavra. Talvez fosse ilegal falar dele por aqui, afinal. Mas não vinha ao caso; elas estavam perdendo o foco e eu não aguentaria aquele assunto de novo.
— Não sei se ela gosta de mulheres no geral, Ems, mas certamente vai gostar de você.
— Descobre pra mim?
Tentei ser legal, já me arrependi.
— E você espera que eu faça isso como?
Emma sabia que eu jamais abordaria alguém com uma pergunta tão pessoal. "Oi, você gosta de mulher?" era algo que não sairia da minha boca nem se eu tomasse todo o estoque de álcool da Escócia e voltasse à França só para finalizar o questionamento. Não entendi porque a tarefa seria minha... até entender. Estava escrito na cara dela.
— Você sabe que o tiro pode sair pela culatra, não sabe?
— Por que? Você vai pegar a Meghan, por acaso?
Emma é rápida no gatilho. Eu não fazia ideia de como o tiro sairia pela culatra, a menos que a situação viável fosse eu acabar dizendo para a australiana que tinha sido abandonada e ela se solidarizar com a situação e chorar comigo pelas ruas de Paris. De resto, não haveria nenhum efeito colateral. Sou do time que nunca diz nunca, mas, até essa etapa da minha vida, não me interessei por mulheres e, abandonada por Rodrigo e mesmerizada por James, não acho que uma coisa dessas estava para acontecer logo ali.
— Eu não saberia nem por onde começar a fazer isso.
— Foi o que pensei – Emma disse. — Então vá lá, dê o seu melhor e traga o amor da minha vida para mim.
Virei o resto da cerveja e, na sequência, brindei com as meninas o shot de tequila. Eu estava enferrujada. Precisaria de toda ajuda com que pudesse contar. Tentei encontrar a australiana na pista de dança, mas o número musical sensual já tinha terminado. Ela estava escorada em uma mesa alta, tipo a nossa, do outro lado, conversando com James. Adrian fez um sinal para que ele o acompanhasse para não sei onde bem no momento em que coloquei os olhos nela. Quando atravessei o salão, ela estava sozinha.
E lá fui eu, no dia do meu não-casamento, flertar (de novo).
Com Meghan.
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Teoria do Amor
Roman d'amourLembra das aulas de física que te faziam pensar a razão pela qual era preciso saber o que aconteceria a um bloco de três quilos se você o empurrasse de uma altura de quinze metros a uma velocidade de seis quilômetros por hora - bem como a aplicação...