*era pra ter ido quinta, mas não consegui publicar, então vai atrasado! ;p
Não preciso de mais de um minuto para perceber que meu pai não está em casa. Gasto menos tempo ainda imaginando onde possa estar. Cruzei a cidade tentando digerir a notícia de que Léo vai ser pai e me dá certo alívio saber que, mesmo sem Giro por perto, terei a quem contar a novidade. Só não imaginei que, de todas as pessoas do mundo, seria justamente ela a primeira a saber disso, além de mim. E de Léo. E Catarina. E, provavelmente, Marina, a amiga inseparável.
Marina.
Cedo ou tarde, vou acabar mandando uma mensagem.
Mas não foi para ela que prometi uma chamada de vídeo.
Alice atende de imediato. Sorri. Fico feliz por vê-la sorrindo, evento raro no último mês, e credito isso à curiosidade. Às vezes, deixar Alice curiosa é uma forma de distrair sua imaginação de números e teorias e coisas que eu nem saberia como começar a tecer explicações. Isso pode matar vários gatos, mas alimenta a alma da professora como nenhuma outra coisa. Quando ela está curiosa, não mede esforços para desvendar o mistério. Quebra coisas para ver o que tem dentro, liga as duas pontas do fio vermelho, abre relógios e bússolas e controles remotos e tudo o que a maioria de nós apenas usa, sem se perguntar como funciona. Quando está curiosa, Alice conversa. Ela adora se sentir inquieta porque sabe que, a qualquer momento, a verdade vai aparecer para ela – se não toda, pelo menos um pedaço.
Tudo que ela precisa para dar um passo à frente é uma pista. E, pelo que vejo pela tela do meu telefone, a semente que plantei conseguiu animá-la, pelo menos um pouquinho. Por ora, seu sorriso já é suficiente.
— Coque e camiseta velha... encerrou a segunda-feira, professora?
— Nem se eu quisesse. Ainda preciso fazer Emma feliz.
— Boa sorte.
Aguardar não é um atributo de Emma. Embora não seja, a própria, um exemplo de pontualidade, fazê-la esperar é cutucar a onça com o dedo mindinho. A deixa de Alice mostra que a chamada de vídeo vai ser curta.
— Não muda de assunto, irlandês. Conta aí. Qual é a novidade?
— Tá sentada? – pergunto, de novo.
Quando ela mexe o celular, mostrando impaciente que sim, está sentada, quase deitada, na realidade, e que eu posso começar a contar, percebo que ela está usando só uma camiseta. E, mesmo que ela esteja no bar de quinta a sábado, religiosamente, essa é a primeira vez em todos esses anos que vejo Alice com tão pouca roupa. Acho que nunca a vi de biquíni, nem em fotos. Ou ela está de calça ou short, mas nunca tão curto que mostre toda a perna. Sei disso porque, nesse relance, percebo que tem uma marca na coxa que parece uma pequena tatuagem. A imagem não é boa o suficiente para que eu possa concluir por conta própria. Mas é melhor nem perguntar, ou corro o risco de perder sua atenção – e paciência – pelos poucos minutos que nos restam.
— Léo vai ser pai.
— O que?!
Alice se endireita na cama, sentando-se com as costas retas na cabeceira. Eu sabia que ela teria essa reação, mas me surpreendo com sua feição de surpresa, que mais parece de alívio. Ela conhece Léo e sabe que ele não é, exatamente, a primeira pessoa que conhecemos que está pronta para ser pai.
— Exatamente o que você ouviu. A Catarina está grávida.
— Nossa... – um silêncio breve vem a milhas de distância. — Tomara que a criança puxe a ela!
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Teoria do Amor
RomanceLembra das aulas de física que te faziam pensar a razão pela qual era preciso saber o que aconteceria a um bloco de três quilos se você o empurrasse de uma altura de quinze metros a uma velocidade de seis quilômetros por hora - bem como a aplicação...