*e esse era o capítulo de ontem! Foi mal, galera! Vou tentar postar nos dias certos! ;)
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Apenas Erica, Emma e Meghan continuam no bar quando eu chego. Os outros, dizem, foram para uma balada. Sim, em plena segunda-feira. Elas perguntam se quero ir também; digo que não, obrigada, preciso me levantar cedo. Minhas duas amigas fazem aquela expressão de "para de ser tão nerd" com a qual já estou acostumada, mas Meghan não entende o contexto.
— Vim por causa do congresso – explico.
— Achei que fosse pelo sapato – diz Erica.
— Isso também.
— Que sapato?
A pergunta de Meghan dá brecha para o assunto da noite. Se ela lê o tarô, e se o tarô funciona, ela vai saber de que sapato estamos falando, certo? Não está "escrito nas estrelas", ou algo do tipo?
Talvez a coisa toda não seja tão literal assim, mesmo porque não há regras de literalidade em situações condicionadas. Afinal, o que é esse papo todo sobre signos, mapas astrais, cartas de baralho vendo a sorte ou o revés no futuro senão algo absolutamente generalizável?
Uma mulher largada no altar, cheia de mágoa, rancor, raiva e todos os sentimentos ruins que essa situação traz, está saindo de uma grande tragédia na vida, certo? Mas todo mundo está, em algum nível, saindo de alguma tragédia: um fora, uma perda na família, a perda do emprego ou o time que não vence no campeonato. Quando alguém diz "há algo ruim em seu passado", essa pessoa não está fazendo uma leitura do seu passado. Está lendo o passado de toda a humanidade. Sem ofensas, mas você não é tão interessante a ponto de ser a única pessoa no mundo que pode chorar por algo ruim do passado. E, sem querer cortar a sua alegria, algo ruim invariavelmente te espera no futuro, porque a vida é assim, uma sequência de coisas boas e ruins em nenhuma ordem pré-estabelecida. É assim desde o primeiro ser humano, que provavelmente morreu devorado por algum animal porque, justamente por ser o primeiro, não sabia que o animal era uma ameaça à sua existência. Mas aí o segundo ou terceiro ser humano aprendeu a fazer essa distinção, a se comunicar, a proteger a prole, a caçar, a identificar perigos e a ler estrelas – aqueles pontos brilhantes que, de forma recorrente, pareciam lhes mandar um sinal.
Sim, um sinal. Um localizador. Uma bússola. Algo que ajudou nossa raça a entender onde estava e para onde poderia ir quando, no meio do mar, qualquer direção possível parecia levar ao mesmo lugar. Ajudou nossa raça a saber quando plantar, colher, criar calendários. E ainda tinha a lua, aquela bolota brilhante que, estando cheia, minguante, nova ou crescente, deixava a água do mar mais revolta, ou calma, ou impraticável para nado, pesca e navegação. O que a gente vê no céu salvou muitas vidas e trouxe tanto progresso que, hoje, somos capazes de ir muito além do olhar rudimentar e da intepretação pela sobrevivência. Enxergamos as constelações, sim, mas também enviamos satélites e foguetes ao espaço, buscamos respostas e criamos novas perguntas.
O que as estrelas nos disseram, ao longo dos anos, e continuam nos dizendo, é incrível. Mas é de uma cara de pau imensa que existam pessoas entre nós que ainda acreditem que as estrelas estão falando delas. Delas! Que o universo esteja mandando sinais específicos para cada um de nós, só porque pode e quer. "Não mude de emprego antes do dia 27, período em que Mercúrio estará retrógrado, impossibilitando o sucesso de novas empreitadas". Mercúrio retrógrado não é nem verdade, caramba! É uma ilusão de ótica. Dá uma voltinha em Marte para ver se Mercúrio está retrógrado, depois volta para me contar se valeu a pena esperar até o dia 27 para tomar alguma atitude sobre seu chefe idiota.
Enfim.
Minhas amigas sabem como me sinto acerca de temas afrontosos à racionalidade. Falar de pseudociência é uma das poucas coisas que me tiram do sério. E, se vou ouvir Meghan, em toda sua bondade, tirar o tarô para mim, só para deixar Emma feliz, precisarei de, no mínimo, uma bebida muito forte.
Penso em pedir uma limonada rosa batizada, mas não sei nem por onde começar a explicar isso em francês. Taí: já que Lucas é tão espertinho e sabe falar francês, essa vai ser a primeira frase que vai me ensinar. Até lá, peço apenas uma vodca mesmo, pura, apontando o nome no cardápio. Me preparo para o que vem a seguir.
Se nada correr bem, estou em apuros com a americana; mas, se tudo der certo, é melhor que alguém me dê o Oscar de melhor atriz coadjuvante em conversa fiada.
NOTAS FINAIS:
Provavelmente esse é o capítulo em que perco metade da minha audiência... ;p
Mas, em minha defesa, eu já fui leitora voraz dos guias de horóscopo da Capricho, até encontrar a palavra de Carl Sagan - como Alice fez. ;)
Você acredita em signos? Deixa aí nos comentários qual é o seu!
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Teoria do Amor
RomanceLembra das aulas de física que te faziam pensar a razão pela qual era preciso saber o que aconteceria a um bloco de três quilos se você o empurrasse de uma altura de quinze metros a uma velocidade de seis quilômetros por hora - bem como a aplicação...