Quinze - Três perguntas

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*não revisei, to jogando uno e perdendo*

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Camila

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Parecia que estávamos em uma ambulância com todo aquele choro, mas a verdade era que estávamos atrasadas no horário de amamentar.

Lauren estava com dor. Muita dor. Era só encostar em seus mamilos que parecia prestes a gritar.

Vinha sendo assim ultimamente, mas piorou muito. Algumas vezes chegava a sangrar, mas eles estavam ali, prontinhos, com bebês loucos de fome para sugar o que tinha a oferecer.

- Eu não tenho certeza se isso assim é certo... - eu disse.

Estava nervosa com sua dor e culpada. Muito culpada. Queria ter reagido bem ao tratamento para amamentar nossos filhos. Sabíamos os benefícios do leite materno e não queríamos abrir mão, mas era difícil ver ela chorar.

- Só me dê um segundo - pediu, respirando fundo e mordendo um pano antes de esticar os braços para que eu entregasse o bebê.

Peguei Thomas, que era mais calmo, e coloquei em seus braços. Assim que o bebê abocanhou seu seio, Lauren ficou rígida, soltando um gritinho longo, sofrido e abafado pelo tecido, os olhos enchendo de lágrimas que escorreram silenciosamente.

Neguei com a cabeça, apavorada com seu sofrimento. Seios cheios de leite também eram um problema.

- Vocês estão fazendo tudo errado - a voz de Clara soou e a vimos entrar junto a mamãe.

As duas estavam com uma intimidade gigante para entrar em nossa casa sem nem baterem na porta. Era um péssimo momento para pitacos.

- Mãe... - meu tom era de lamentos.

- Vocês estão sofrendo a toa - mamãe me ignorou - precisam dar fórmula a esses meninos, só leite de peito não é o suficiente.

- É o suficiente sim! - insisti no ponto que ela era contra - e vamos fazer isso.

- E ficar passando pela dor? Amamentar não é para todas! - Clara foi junto ao ponto de mamãe - eu amamentei Lauren até os dois anos de idade, mas eu não tinha três filhos de uma vez. Precisam ser racionais.

- Não vamos dar fórmula aos bebês - repeti.

- Dar fórmulas não é errado - mamãe bateu o pé - muitas mães não podem amamentar e a fórmula é feita justamente para suprir isso.

- Nós sabemos disso, mãe, mas Lauren e eu concordamos que se temos leite a disposição, então vamos fazer isso funcionar.

- Então você prefere ver ela com dor? - Clara indagou.

- Não!

- Mas sabe que amamentar a machuca.

- Sei, mãe, mas... - Clara me interrompeu, entretanto:

- E ainda assim, tendo uma forma segura de tirar sua dor você prefere apoiar esse ponto ridículo?

- Sim!... digo... Não! Eu... - massageei o cenho.

O choro dos bebês e elas em cima de nós me dava dor de cabeça. Olhei para Lauren sofrendo de olhos fechados e senti ainda mais culpa e dor por ela. Não devíamos estar passando por isso. Amamentar era para ser um elo de amor como todo mundo afirma ser.

- Eu... - não soube o que dizer.

Para ser sincera elas me deixaram confusa. E para ser injusto comigo ambas começaram a tagarelar em meu ouvido para darmos fórmula me deixando maluca.

Os meninos iam morrer de fome. Ficariam desnutridos. Lauren sentiria dor desnecessariamente. Isso afetaria o leite que afetaria os meninos que afetaria nosso casamento. Que o leite já devia estar fraco. Que não era o bastante. Que era inútil no meio de tudo aquilo. Estávamos sendo irresponsáveis...

- Parem! - Lauren praticamente gritou, protegendo apenas o bebê que estava em seus braços - vão embora, agora!

- Lauren... - Clara começou, mas ela sacudiu a cabeça negativamente com certa violência.

- Vão embora! - repetiu - vocês estão fazendo justamente o que quisemos evitar deixando todos longe.

Houve um estalo em minha mente ao notar a situação.

- Ela tem razão! - me senti com raiva - vão embora, vocês não têm que mudar isso ou decidir por nós. 

— Mas... — não deixei mamãe falar, pus as mãos sobre os ombros delas e guiando o mais gentilmente possível para fora.

— Muito obrigada. Até mais ver. Depois ligamos para agendar uma visita, tchau! Amamos vocês. Dois beijos.

Fechei a porta e respirei fundo. Ou era assim, ou não era.

Voltei ao quarto, mas ainda me sentia nervosa sobre a situação, ainda mais olhando Lauren, que já não chorava, mas tinha os olhos apertados e o cenho franzido.

— Três perguntas — ela murmurou.

Parece confuso?

Não é para nós. Quando tudo estava confuso, fazíamos três perguntas: por quê? Por quem? O que fazer sobre isso?

— Porque é importante para a saúde dos bebês e a sua — respondi a primeira.

— Por Daniel, Oliver e Thomas — ela respondeu a segunda.

— E você — acrescentei.

— E você —  ela adicionou.

Não questionei, porque estávamos juntas nessa. Era importante para mim também.

— Podemos pesquisar como fazer e... o que estamos fazendo errado — sugeri — mas não desistir.

— Nós não desistimos — Lauren me lembrou — Nunca.

— Sempre achamos nosso caminho — ela concordou com a cabeça.

— Pode tentar acalmar os bebês enquanto termino com Thomas? — pediu — é o que temos por agora...

Assenti.

— Claro, Lern — deixei um beijo sobre seus cabelos antes de pegar Daniel e Oliver.

Os deitei sobre meu peito e caminhei com eles pela casa enquanto fazia em voz alta uma lista de coisa que precisávamos comprar — estranho, mas isso dava certo.

Quando se acalmaram, deitei com eles no sofá e busquei meu celular, pesquisando mais sobre amamentação.

Minutos depois, Lauren desceu dando batidinhas nas costas de Thomas para que arrotasse.

— Nós damos mesmo conta sozinhas, uh? — seu tom era leve e quase bem humorado.

Sorri para ela.

— Com esses três anjinhos, somos incríveis. Arrasamos nessa coisa de maternidade — brinquei e ela sorriu para mim — inclusive, estou pensando em marcar com uma especialista em amamentação, você sabia que isso existe? Alguém só para orientar sobre amamentação...

Suas sobrancelhas se ergueram e ela negou com a cabeça.

— Nunca ouvi falar — ela disse — mas isso é bom.

— Mais que bom. Temos a chance de entender o que está acontecendo e como resolver.

— Eu nunca vou gostar tanto de resolver algo quanto isso. E olha que eu tive o delicioso prazer de solucionar um problema de maresia de um cliente que insistiu que queria uma casa metálica na beira da praia — seus olhos brilharam.

Essa mulher era louca pelo trabalho. A maior arquiteta de todas.

— Vai ser como encontrar a história de vida de um personagem que você quer muito incluir no enredo e não sabia como — comparei a encarando.

Lauren riu.

Ficamos em silêncio por um tempo.

Porque a amo. Por nós duas. O que eu posso fazer? Por ela? Ah... Qualquer coisa que fosse possível ou impossível.

Um, Dois, Três!Onde histórias criam vida. Descubra agora