Dezenove - O prato do vizinho é sempre mais bonito

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*---------- quadro de avisos ----------*

Não tem avisos. É só pra introduzir e manter o costume.

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Camila
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Três cadeirinhas preparadas. Bebês equipados com babadores. Todos em seus lugares. 

Era assim que começaríamos o combo de introdução alimentar tripla. Eles sentavam direito, sustentavam a cabeça e seguravam e levavam as coisas a boca. Estavam prontos. Tínhamos dois olhares desconfiados e um que estava mais interessado no babador. Acho que dá para saber de quem estou falando.

Preparamos pratos idênticos, já que eles eram idênticos, partiríamos dessa premissa e depois descobririamos seus gostos. Sentamos todos nós em torno da mesa com pratos com banana e manga para o café da manhã. Aplicaríamos o método blw em que eles simplesmente se viram com a comida. Estávamos nervosas com isso, mas nos certificamos de garantir que era seguro e achamos interessante a ideia de comermos todos juntos a sua maneira.

A manga estava fatiada e a banana inteira com a casca apenas no meio para eles segurarem. Era só o começo e nos preparamos muito para isso.

Observamos os três quando colocamos os pratinhos a sua frente e ocupamos nossos lugares. O primeiro curioso foi Thomas. Ele pegou a banana e observou bem antes de levar a boca. Pareceu ter gostado, ainda que ele nem tivesse dente, o que não era um problema.

O segundo corajoso foi Daniel, que pegou a manga e brincou, amassando antes de levar a mão a boca e avaliar o gosto. Depois disso, comeu a meleca que fez. Era ali que menininhos começavam a ser nojentos? Se bem que ele já tinha esse pendor, não gostando de ser higienizado.

Quanto a Oliver... ele odiava tudo, inclusive o prato de comida a sua frente. O garoto olhou para a comida e fez cara feia. Nem tentou comer.

De repente, Thomas se inclinou e e roubou a manga do irmão (e ele nem tinha terminado a dele!). Bravo do jeito que era, Oliver não gostou de ter seus pedaços roubados e gritou, começando a chorar e brigar com Thomas.

— Eita — foi minha reação.

Lauren tinha uma expressão semelhante a minha: olhos arregalados, sem saber o que fazer exatamente, impressionada que as coisas não tenham dado nem certo nem errado.

Os dois se seguraram com seus dedinhos e gritaram um com o outro. Thomas era sempre muito quietinho, mas pelo visto descobrimos seu defeito: a gula.

— Calma, garoto — coloquei mais fruta em seu prato.

Ele deixou o prato de Oliver, que não queria comer, mas não queria que comessem o que era dele.

Olhando para o outro lado, Daniel tinha se transformado num bebê manga. Tinha manga na rouba, no cabelo, na cara, nos braços e provavelmente era o que tinha na boca também.

Me voltei para Lauren, que deu de ombros.

— Ei, Oli! — ela chamou — é de comer, olhe. É bom... hmmm!

Ela pegou o próprio café da manhã e começou a comer, mastigando bem devagar.

Quem disse que Oliver se sentiu incentivado? Ele gritou e chorou, esperneando na cadeirinha.

— Ai, meu Deus! — soltei quando Thomas voltou a pegar a comida do irmão.

Deu briga.

— Calma! Calma! Calma! — Lauren repetia para ela mesma.

De repente tínhamos três bebês brigando, porque Daniel tentou pegar a manga do prato de Oliver também, deixando ele com mais raiva ainda.

A disputa passou a ser pelo prato. Rinha de bebês!

— Camila! — Lauren exclamou e levantei no automático, pegando Oliver e o tirando da cadeira enquanto ela pegava o prato.

Três bebês choravam. O caos estava instalado.

— Vamos... vamos... vamos...? — não soube o que sugerir.

Lauren respirou fundo. Não me olhava, mas seus olhos corriam pelo ambiente como fazia quando estava pensando.

— Fique com Oliver, vou pegar mais comida para esses dois — disse.

Sentei com o garoto enquanto Lauren distribuía mais fruta para Daniel e Thomas, sentando ao lado do caçula guloso.

Soltei o ar que tinha prendido quando os dois voltaram a comer e me virei para a própria comida, pegando a banana e descascando. Quando fui morder, acabei sendo interceptada por mãos minúsculas. Mostrei o que estava comendo e Oliver simplesmente caiu de boca na minha banana.

— Garoto??? — olhei para Lauren, que voltou a comer e também foi interceptada por mãozinhas se esticando em sua direção.

— Filho, a comida do mundo não vai acabar! — Lauren o alertou, tão chocada quanto eu.

Os olhos claros de Thomas estavam arregalados. Daniel virou o bebê fruta. Oliver só queria o que eu estava comendo, ainda que fosse a mesma coisa que tínhamos oferecido a ele anteriormente.

Minha esposa e eu trocamos olhares assustados.

— Não sei como achei que seria, mas não foi isso — ri de puro nervosismo e ela me acompanhou.

Ela levantou um dedo e disse muito séria:

— Já diziam os sábios: o prato do vizinho é sempre mais bonito.

— E gostoso — acrescentei.

Rimos. Os meninos olharam para a gente como se fôssemos loucas.

Thomas terminou o próprio café e o de Lauren e bocejou, os olhinhos piscando de sono depois de ter se fartado em comida.

Daniel cansou de brincar e chupar a comida em seu próprio corpo logo depois.

Oliver só provou um pedaço de manga e banana e, assim como a maioria das coisas, não gostou. Apelou para o choro por Lauren. Claramente leite era melhor que aquelas coisas estranhas que queríamos que comesse.

Lauren suspirou e o pegou.

— Eu tenho peitinho e você duas missões, mamãe — brincou.

Encarei os dois bebês.

— Quem quer ser o primeiro? — perguntei, mas nenhum se manifestou.

Comecei pelo mais fácil, limpando o corpo e as gengivas pela falta de dentes. Dormiu logo depois.

Daniel começou a chiar assim que percebeu que era o próximo, gritando quando comecei a tirar sua roupa.

— Filho, eu não posso deixar você igual ao monstro do pântano! — exclamei para ele, que não se importou — a água é legal, olha. Quentinha, molhadinha...

Tentei distrair ele, mas como sempre, nada que fiz resolveu e a saída foi ser o mais breve possível. Daniel se agarrou em mim assim que acabou. Parecia ter passado por uma tortura enorme.

Eu o ninava quando Lauren surgiu com Oliver adormecido para limpar sua gengiva e os dois dentinhos inferiores.

O garoto que tinha dentes não queria comer. O que não tinha era um guloso. Daniel estava bem no meio com um dentinho apontando, então aparentemente não sabia o que fazer com aquilo.

— Acha que vai ser sempre assim? — Lauren perguntou.

Um risinho anasalado me escapou.

— São seus filhos. Não tem um pingo de juízo e bom comportamento correndo nas veias deles — brinquei e Lauren girou os olhos.

— Depois que acidentes acontecem não sabe dizer o que houve — sua ameaça podia ser séria ou não.

Colocamos os bebês em seus berços.

— Será que agora podemos comer de verdade? — ela perguntou em sussurro.

— Cuidado — alertei — vai que o número três não está dormindo!

Lauren prendeu o riso e saímos. No fim fiquei me perguntando: tinha sido um fracasso ou um sucesso no fim das contas?

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Então, foi um fracasso ou sucesso a introdução alimentar tripla?

Até mais!

Um, Dois, Três!Onde histórias criam vida. Descubra agora