Quarenta e Seis - Sorteio, como gente normal

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*----------- quadro de avisos -----------*

Demorei, mas cheguei. Concluí que não dava para esperar mais.

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Lauren

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A emancipação de Olivia chegou mais rápido que aqueles espirros que parecem brincar com nossa disposição.

Ela chorou por um longo tempo e durante todo o momento Oliver esteve com ela. Camila não queria admitir, ainda relutava em não fazer careta para o nome dela, mas tínhamos que reconhecer o que eram.

Era muito estranho se fosse guiar pela lógica. Eles eram tão jovens.

— Então, agora eu não tenho nada — Olivia fungou em seu choro contido — tenho um bebê na barriga, estou morrendo de enjoo, não tenho plano de saúde, para um pré-natal decente, não sei onde e como vou terminar a escola...

Ela respirou fundo, completamente assustada com o rumo da própria vida. Não era para menos. Era uma das poucas vezes que ficava separada de Oliver enquanto chorava, mas seus hormônios sensíveis — junte gestação com adolescência e veja a explosão acontecer — a irritaram sobre o grude e ela pediu espaço

Ele estava sendo absolutamente solícito e compreensível, realizou seu desejo. Não é que não desse para ver a pitada de desespero em seus olhos também, mas talvez ser acostumado desde pequeno a respirar fundo tenha ajudado o garoto a manter o controle.

— Seu tio já disse que vai assumir essas duas últimas partes, não foi? — perguntei a Olivia — nos oferecemos para suprir isso, mas ele disse que queria manter algo da família.

Ela piscou rápido, apertando os lábios fechados antes de desabafar a pergunta que provavelmente a atormentava em meio a bagunça de sua vida:

— E você acha certo que eu aceite?

— É claro que sim — Camila respondeu rápido por mim — você ainda vai aprender isso, mas tem algumas coisas que precisamos aceitar como ajuda. Ele é seu tio e mostrou muito carinho por você, aceite que cuide um pouco de ti.

Estávamos mesmo virando nossos pais com essa percepção de que ajuda não era de todo ruim? Agora tínhamos que passar a informação adiante, certo?

Olivia assentiu. Ela riu exaustivamente.

— É irônico porque pedi para meus pais meus documentos, até para marcar consultas, e recebi um texto sendo chamada de burra e que não queriam contato comigo, que não sou mais filha deles, mas quando falei com meu tio ele apenas disse que iria buscar para mim.

Não consegui conter uma careta, mas ela deu de ombros.

— Isso é triste, mas estou feliz, entende? Bom, estou assustada e triste para falar a verdade, mas sinto algo muito maluco que nem consigo entender — fungou — porque de uma forma estranha eu amo esse monte de células que está assustadoramente se tornando um ser humano e sei que tenho pessoas que me amam e que gostam de mim o bastante para me dar abrigo.

Ela abriu um sorrisinho para Camila e eu e pude ver minha esposa ciumenta se desarmando.

— Falando em bebê, você acha que é menino ou menina? — mudei de assunto, porque se ela disse que ele a fazia feliz, então que sorrisse um pouco.

Estava precisando. Era muito doloroso pelo que estava passando. Uma luz em sua vida, mesmo que seja a mais transformadora possível, tinha que ser mantida em evidência. Ela mal comia tamanho enjoo e deu para ter vertigem e cólicas.

— Lembrando que Oliver é trigêmeos, viu — os olhos de Camila faiscaram com a brincadeira que fez — cuidado aí.

— Eu acho que é um menino — ela disse, sorrindo logo depois de jeito maroto — só um.

Um, Dois, Três!Onde histórias criam vida. Descubra agora