Dezesseis - 03/03

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*um pouco alcoolizada depois de perder o último uno e por isso não to revisando, mas é o terceiro se eu não perdi as contas*

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Lauren

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Deixei Camila na cama esse dia. Era o dia dela, então eu queria aprontar tanto quanto deixá-la descansar um pouco mais.

Estávamos mais acostumadas com a rotina, o que não significava que fosse menos cansativo, mas que dava para sobreviver. Eles dormiam melhor e mamavam melhor. Devo admitir que procurar por uma especialista em amamentação trouxe um impacto positivo muito grande sobre como fazíamos as coisas.

Os meninos acordaram cedo e eu com eles como sempre, arrumei os três e fiz o café da manhã. O café mesmo saiu horrível e tive que fazer outro. Era complicado quando Camila e eu não éramos as melhores cozinheiras do mundo, mas cada uma tinha sua especialidade. A minha certamente não era o café, no entanto, eu queria tudo como tinha que ser e me esforcei com isso.

- Lern? - ouvi me chamar com a voz sonolenta.

- Aqui, Camz - respondi, dando os ajustes finais em nossos filhos. Ela surgiu coçando os olhos e sorri - feliz vinte e nove!

Seus ombros caíram enquanto olhava o que fiz e ela sorriu enquanto vinha me abraçar.

- Puxa, você fez tudo isso sozinha? - perguntou.

Fiquei pensando o que era o "tudo isso". O café da manhã? Sim. Os bebês? Mais ou menos. Produção independente era algo complicado.

Eu havia feito café, torradas e ovos mexidos, além de manga e banana picadas. A manga foi por minha causa, é claro.

- Você gostou?

Camila beijou minha bochecha.

- Eu amei - disse - principalmente o que fez com os meninos.

Ela soltou um risinho olhando para todos.

Bichana Julieta e Tempero usavam chapeis de festa. Ela estava em péssimo humor e ele queria comer o dele. Já Daniel tinha um body com um dois, Oliver com um nove e Thomas com uma velinha e a frase: mamãe está quase caducando!

Eu sabia que ela amaria isso. Acendi uma velinha em meio ao café da manhã e sussurrei:

- Faça um pedido, Camz.

A vi fechar os olhos e depois soprar. Ela sorriu e me olhou com aquela paixão que apenas Camila era capaz de sentir.

- Eu não sei nem o que dizer - sua voz tremeu com um riso nervoso.

- Mas eu sei o que te dizer - beijei sua bochecha antes de prosseguir - obrigada por estar comigo por todo esse tempo e ter comigo esses bebês feios, fedidos e chorões que não nos deixam dormir. Obrigada por cada palavra escrita para mim e por me incentivar a liberar a arte que vive dentro de meu coração para ver o que tem de lindo no mundo. Obrigada por acordar de madrugada para trocar fralda e me deixar descansar um minuto a mais antes do choro se tornar coletivo. Obrigada por cozinhar melhor que eu e por perder sempre as apostas. Obrigada por me segurar e me abraçar tão firme quando não consigo ficar em pé parindo, ou bêbada, ou por morrer de amores. Obrigada por cada gesto de amor que me preenche. Obrigada por ter a mim e por ser minha. Obrigada por gostar de mim mesmo quando eu tenho uma crise de riso inapropriada. Obrigada por ser quem é e, por fim, obrigada por estar fazendo vinte e nove e que em breve não me deixará mais sozinha da faixa dos trinta pra me chamar de idosa a cada duas horas.

Parei de falar para observar a boba emocionada chorando e rindo.

Ela me abraçou.

- Eu te amo muito, mas você ainda é uma idosa de quase trinta e seis anos - sussurrou em meu ouvido.

Girei os olhos.

- Eu te odeio - resmunguei.

- Não - senti ela balançar a cabeça negativamente.

- Não mesmo... - sussurrei - eu te amo mais do que sou capaz de dizer.

Camila se afastou e me olhou muito de perto. Coloquei seus cabelos castanhos desgrenhados atrás da orelho e aproximei meu rosto, a beijando com calma.

Beijar Camila era sempre um ato de devoção. Ela era uma deusa deslizando por meus lábios e transmitia uma sensação de êxtase incomparável a qualquer coisa no mundo. Estar com ela era como ajoelhar e ser abençoada com sentimentos fervorosos e lindos. Eu me perdia ali, mas Camila me achava e guardava em seu peito.

Ela era um lugar de onde eu nunca precisava ir embora.

Nos afastamos e Camila cutucou as torradas.

- Olha, estão um pouquinho queimadas, hein, dona - brincou.

- Do jeito que você gosta - apontei e ela assentiu.

- Estão perfeitas.

Camila tinha um estranho apreço por coisas queimadas. Antes eu me perguntava se era por ser descuidada e distraída, mas depois eu percebi que ela deixava as coisas queimarem de propósito. Se eu quisesse comer algo no ponto, tinha que tirar antes de transformar a refeição em carvão.

Era por isso que se eu quisesse fazer algo para agradar, só precisava esquecer as coisas no fogo e só lembrar quando sentisse o cheiro de queimado.

Tão maluquinha, mas eu a amo.

- Termine de comer, alguém aqui precisa mudar a fralda, meus olhos estão lacrimejando - soltei uma risada que ela acompanhou.

- Vá antes que o cheiro azede minha refeição - brincou.

Olhei um por um até descobrir a origem do cheiro e ir trocar a fralda. Quando voltei tinha sobrado apenas a manga, o que me fez sorrir.

- Eu sei que parte da gentileza não é para mim - ela disse com aquele sorriso divertido pulando de seus lábios.

- Somos casadas, me servir é te servir - argumentei e Camila riu - nada mais justo.

Ela assentiu, me observando comer a manga como uma maluca. Essa parte fica livre a interpretação.

Esse ano nossa família se ofereceu para ficar com os bebês enquanto fazíamos alguma programação de casal, como sair com as amigas ou ir para um motel fazer as brincadeiras olhando nós mesmas no espelho, porque era o tipo de comportamento que esperavam de nós, mas negamos.

Primeiro porque eles eram muito pequenos e não estávamos prontos para uma separação. Segundo porque sabíamos que fariam com os três algo que reprovamos. É bizarro não confiar nos próprios pais? Eu diria que não, porque também não os culpamos por agirem fazendo o que acreditam quando nós também estávamos agindo segundo o que acreditávamos.

Por isso apenas almoçamos com nossos pais e amigas e tiramos o resto do dia para nós duas, começando por uma leite fresquinho para os pequenos e ser colocados para dormir.

Quando ficamos sozinhas, aconteceu aquilo. A explosão. O monte de sentidos que estávamos ocupadas demais para sentir. Depois de passar a gestação toda com repulsa, havia um fogo de três cristãos que decidiram esperar e um peregrino que ficou perdido no deserto por cinco anos.

Esqueci até o estado de flacidez atual de minha barriga - o que foi? Eu não me culpo, tive trigêmeos e uma barriga gigantesca! -, sei que apenas a empurrei e beijei antes mesmo que dissesse alguma bobagem que me fizesse rir. Eu não queria rir ali, queria perder o ar e ficar com os nervos doloridos de tanto exercício.

Sempre tivemos disputas por poder, mas deixamos de lado porque depois de tanto tempo só raciocinamos o suficiente para ficar longe dos bebês enquanto a vontade nos tomava. Ela era um furacão, eu era fogo. Nos consumimos até perdermos a força e virarmos uma só.

Quando achei que tinha cansado, Camila juntou meu cabelo em uma mão e puxou.

- Agora é comigo - o sorriso que acompanhou sua fala me deixou bamba.

Agora e sempre, quis dizer, mas mostrar sempre falava melhor que as palavras.

Um, Dois, Três!Onde histórias criam vida. Descubra agora