Trinta e Dois - O raio caiu duas vezes no mesmo lugar

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Lauren

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Não sabíamos exatamente como prosseguir, então fizemos o melhor possível, que foi deixar nossos filhos simplesmente como sempre foram. Não contamos para ninguém ainda tanto porque tínhamos muito o que resolver quanto por não ser da conta de ninguém, mas não estávamos sozinhas, e foi por isso que chamamos Dinah para uma tarde com a gente.

- Tia! - Noreen e Neo exclamaram quando nos viram.

Eles estavam um absurdo de grandes, mas Noreen já era praticamente uma adolescente e Neo tinha seus oito anos. Dener estava ficando cada vez mais parecido com Dinah, mas Darla era Normani até na postura.

Duas fofoqueiras metidas.

- Como estamos? - Normani perguntou. Seus olhos brilhavam procurando fofoca no fundo de minha alma.

- Estamos ótimos - garanti antes de abraçar Dinah.

Elas entraram e foram para o sofá.

- Crianças! - chamei e três pestes chegaram correndo para as tias.

- Oh, então é oficial? - Dinah perguntou, olhando atentamente para Dan, que pareceu muito mais confortável em usar acessórios ditos femininos nos cabelos, e usava uma tiara rosa que nada combinava com seu blusão verde e shorts de estampa militar - como estão vocês?

Eles tagarelaram suas respostas de que estavam bem, emendando com fatos aleatórios de seus dias.

- Crianças, sentem ali, vamos conversar - pedi, então olhei para Dinah - acho que a Tia Dinah concorda que está na hora de vocês ouvirem uma história.

- Que história? - Thomas perguntou, mas os três se sentaram.

Estavam ficando bons em serem obedientes.

Olhei para Dinah, que sorriu amavelmente.

- A minha - ela disse, concordando em ser mais direta em assumir a própria história em vez de criar um personagem ou história de conhecidos - eu não sei se vocês sabem, mas quando eu nasci, todo mundo achou que eu fosse um menino!

- Não! - se admirou Oliver com sua palavra favorita.

- Por quê? - Thomas questionou.

- Porque eu tinha um piupiu - ela disse com bom humor.

- Pênis - a corrigi - falamos os nomes nessa casa.

Ela deu de ombros.

- Que seja - disse ao balançar os ombros - o fato é que eu nasci com um pênis.

- Eu também! - Dan exclamou.

Dinah assentiu.

- Então você sabe - ela falava com casualidade - as pessoas normalmente esperam que você seja um menino se você tem um pênis.

Mas Dan gargalhou.

- Mas por quê? - perguntou - a gente é menina, não é mamãe?

Ele olhou para mim, que assenti, então para Camila que sorriu.

- Pois é! - Dinah disse em tom de concordância - mas só foram descobrir que eu sou uma menina muito tempo depois, quando eu contei que tinha sido um engano. Até ali, me chamavam de Daniel, igual a você.

Dan a encarou de boca aberta e olhinhos esbugalhados.

- Mas tia - contestou o do contra, vulgo Oliver - seu nome é Tia Dinah, não Daniel!

Dinah riu, mas assentiu com a cabeça.

- Para você ver - ela falou - eu tive que escolher um novo nome, um nome de menina.

- Mas... - Oliver começou a contestar, mas franziu o cenho como se não soubesse bem o que dizer.

- Por quê Dan se chama Daniel se ela é uma menina, então? - Thomas perguntou.

- Daniel não é nome de menina? - agora Dan pareceu confusa, afastando os cabelos do rosto - por que não é nome de menina? Eu sou uma menina!

- Eu só não gostava porque as pessoas achavam que eu era um menino por ter esse nome, então eu mudei. Sua mamãe Camila ajudou a escolher meu nome de verdade.

- Uaaau! - Dan se admirou - mas eu tenho que escolher um nome? Porque eu gosto de Dan.

- Só se você quiser - Dinah contou - não precisa pensar nisso agora. Querem saber um segredo?

- Sim!!! - os três praticamente gritaram.

- A gente não precisa agradar ninguém. Você não precisa de coisas que não gosta, nem deixar para lá coisas que gosta porque outras pessoas vão achar estranho. Olhem para as mamães de vocês, que são estranhas. Elas também são legais mesmo assim. Algumas pessoas vão achar que você é um menino, como foi quando você nasceu, mas isso só interessa para você, quem você ama e quem você quer que saiba quem você é.

- Espere! - Thomas pediu, o cenho franzido - pensaram que Dan era menino?

Dan, Oliver e Thomas pareceram tão sinceramente confusos que mesmo eu me perguntei como a gente cometeu tamanha gafe. Era tão claro para eles assim que nunca viram de outra forma?

- É porque a mamãe está velha e caduca e eu sou míope, amores - Camila se manifestou - então a gente não viu muito bem até vocês começarem a crescer.

Girei os olhos para o "velha e caduca". Eu só tinha quarenta anos, fala sério! Na flor da idade. A maior gostosa que o mundo já viu.

- Estamos tendo essa conversa quase a toa - Dinah percebeu, rindo - é óbvio que Daniel sempre foi uma menina, todo mundo é que é cego.

- Um bando de gente boba - Normani concordou.

- Vão brincar, crianças - disse a eles, que escorregaram de seus lugares e foram brincar com Neo e Noreen.

- Parece que o raio caiu mesmo duas vezes no mesmo lugar - Dinah disse em tom de brincadeira - eles são tão tranquilos, mas esperem até Dan passar pela crise do pênis.

Camila fez uma careta.

- Um passo de cada vez - ela disse - agora que estamos entrando melhor na cabeça dessa criatura. Dan sempre foi muito fechado... bom, fechada.

- Achamos muito recentemente uma solução que funcionasse sobre fazer Dan tomar banho, não coloque problemas futuros em nossa cabeça - pedi, embora ainda me sentisse bem humorada sobre o momento.

Dinah deu de ombros.

- Ah, vocês vão conseguir - ela disse - são ótimas mães. Estão procurando tudo para agir do jeito certo, isso é legal.

Normani franziu o cenho, olhando além de nós com sua super visão de fofoqueira.

- Quanto a ser ótimas mães eu não sei, aquilo é um quadro de apostas sobre seus filhos? - ela perguntou.

- Então, olhe as crianças, que lindas! - desviei a atenção.

- Elas são tão incríveis brincando, não é mesmo? - Camila me ajudou.

- Sim, olhe Noreen ajudando a pentear os cabelos dos outros - continuei.

- Neo está tão grande, não é...

- Ai, calem a boca - Dinah girou os olhos - sabemos que são estranhas.

Camila e eu nos entreolhamos e sorrimos. Era por isso que funcionávamos bem. Era a essência de nossa família.

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Eu amo uma família.

E amo meus leitores também. Vocês são incríveis. Obrigada.

Um, Dois, Três!Onde histórias criam vida. Descubra agora