Dezessete - Rola, rola, rola

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*---------- quadro de avisos ----------*

Boa noite!

Sim, agora eu não estou mais alcoolizada, nem jogando uno. A propósito eu venci alguns.

Agora vou revisar direitinho. Obrigada a quem veio ler esses capítulos nesse dia. Vocês são muito queridos.

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Lauren

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Alguns diriam que temos um jeito muito estranho de incentivar o desenvolvimento de nossos filhos ou mesmo de cuidar deles, mas vamos fazer o que sobre isso? Nosso jeito dava certo.

Nossos pais tinham desistido de nos tornar o que eles chamavam de mães responsáveis depois que tiramos as fotos de quatro meses deles com uma garrafa de cachaça falsa e os dizeres "é quatchaça!". Acho que não entenderam a piada, mas os fãs de Camila foram a loucura.

Eles sim apreciavam a criatividade - o óbvio já que ela era famosa por ser escritora - e a foto de nossos filhos circulou pela internet mais do que consideramos ser saudável, mas não tinha o que fazer. Criamos um perfil privado para a família depois de dizerem que éramos loucas e que a assistência social devia conferir o que fazíamos.

Bom, surpresa para todos, mas a assistência social tinha olhos muito perto nos vigiando.

O desafio do momento, era que descobrimos que nossos filhos já deveriam ser capazes de rolar, mas nunca vimos acontecendo.

- Eles são tímidos! - Camila insistia, mas decidimos fazer um intensivão de curso de como rolar.

- Você primeiro - a instiguei.

Os meninos estavam de bruços no Tapetinho do Desenvolvimento, todos nos olhando e esperando a próxima presepada.

- Por que eu? - ela perguntou, uma mão na cintura.

- Porque você é mais nova, assim como sua coluna - apontei.

- Fala como se tivesse setenta e cinco anos - Camila criticou.

- Não tenho, mas estou mais perto disso que você. Vamos lá, ensina seus filhos a rolarem! - a cutuquei e ela bateu em minha mão para que parasse.

- Você abusa do fato de ter uma esposa jovem e dedicada - disse com a voz carregada de ironia, mas deitou de bruços no espaço a frente deles que arrumamos para nosso curso - olha, vocês estão assim, então é só jogar o corpo e... pronto!

Demonstrou com um giro desajeitado e sorri para isso.

- Com certeza eles entenderam - caçoei - veja os olhares de compreensão dos três.

Os meninos nos encaravam como se estivessem se perguntando se estávamos loucas, mas eles sempre fazem isso, então desconsideramos. Em seguida, eles olharam um para o outro em assembleia e decidiram que éramos mesmo muito malucas, Thomas dando o veredicto com um resmungo longo e cheio de críticas.

- Se está achando ruim, faz melhor - Camila retrucou o próprio filho, recebendo uma chamada de atenção da parte dele - vocês são muito exigentes. Sabiam que nós duas somos as mais qualificadas do mercado? E vocês não valorizam!

Daniel bateu as mãozinhas no tapete e resmungou também.

- Vocês são muito críticos - apontei.

- Vai, Lern. É sua vez de demonstrar - Camila falou e eu ri de nervoso.

Estava começando o temido...

- Ah, não, mulher! - ela negou com a cabeça - crise de riso uma hora dessas!

Mas foi aí que comecei a rir mesmo. Pelo menos nossos filhos gostaram, os três se encarando em nova assembleia para decidir se era engraçado. Não foi unânime. Thomas e Daniel acharam engraçado e riram. Oliver desaprovou, mas ele odiava tudo.

Camila me deu um copo de água e fui encher porque estava vazio, aproveitando para tomar um pouco e me acalmar.

- Vamos deixar a Juju mostrar primeiro - decretei e peguei a gata, a colocando na frente deles e pegando um brinquedo para incentivar Bichana - observem bem o mecanismo da coisa.

Mas Bichana Julieta arrancou o brinquedo de minhas mãos e foi embora me lançando um olhar de censura.

Camila riu.

- Nem tem graça - fiz bico.

- Lern...

- Cadê o Tempero? - interrompi - saudades do Tempero. Por onde anda Tempero?

Minha esposa girou os olhos, mas chamou comigo: Tempero!

E veio o bichinho todo animado. Pegamos um brinquedo mesmo sabendo que não ia dar certo porque jamais conseguimos ensinar coisa alguma a ele em todos esses anos.

- Você é o filho mais velho, Tempero. Precisa ajudar seus irmãozinhos a girar - falei ao cachorro, que apenas latiu para que Camila jogasse o brinquedo dele para ir pegar.

Ela o fez.

- Pronto, só falta você - foi o que disse e, me vendo sem saída, deitei a frente deles.

- Vocês só precisam virar assim, entenderam? - perguntei, mas pelas expressões em seus rostos deu para saber que não entenderam nada.

- Ok, agora que já viram as palestras, vamos fazer exercício - Camila decidiu, levantando e me ajudando a levantar - Vamos ajudar uma vez e depois vocês fazem igual.

Tive vontade de rir porque com ela falando pareceu mesmo ridículo que fizéssemos isso. Ainda assim, era nosso melhor plano.

Ajudamos Thomas a girar. Ele amou e riu.

Ajudamos Daniel. Ele achou divertido.

Ajudamos Oliver. Ele odiou e agarrou meu cabelo com uma mão e o de Camila com a outra e gritou em nossos ouvidos. Ele simplesmente odiava tudo mesmo. Era o do contra.

- Se você já sabe então é só fazer! - Camila protestou enquanto massageava a cabeça quando ficamos livres.

- Acho que precisamos de mais demonstrações - cogitei - vamos lá, duas é melhor que uma.

Camila suspirou, mas deitou comigo e começamos a rolar de um lado para o outro. Foi um desastre! Tempero pulou na barriga de Camila e Bichana sentou na minha cara.

Éramos uma piada!

Encaramos nossas três ferinhas mais novas.

- Vocês são duros na queda, hein? - Resmunguei - é só girar. Não é possível que não saibam fazer isso. Todo mundo sabe...

Minha esposa deixou um risinho escapar e negou com a cabeça.

- Olha a que ponto chegamos... - refletiu - vamos, carinhas... é só rolar! Não é tão difícil.

Eles se entreolharam e pelo que pareceu, nossa tentativa era tão ridícula que quiseram ir embora sozinhos. Thomas, que estava na ponta, se remexeu todo e rolou para o lado.

- Isso! - comemoramos, fazendo festa para ele, que riu feliz da vida.

Depois disso veio Daniel, mas acho que foi acidente porque ele parecia apenas querer atenção, porém, fizemos farra mesmo assim.

Encaramos Oliver. Ele tinha aquela cara brava no rosto e parecia dizer que não iria a lugar nenhum. Ele era um príncipe, se quiséssemos alguém rolando, que fosse nós mesmas.

Camila passou um braço pro meus ombros.

- Acho que vamos precisar de mais aulas - ela disse.

Concordei com a cabeça.

- Vou fazer uma licitação e chamar novas equipes de palestrantes - decidi e a encarei.

Camila sorria. Era por isso que eu fazia qualquer bobeira.

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Finalizamos aqui meu dia! Espero que tenham gostado.

Até mais!

Um, Dois, Três!Onde histórias criam vida. Descubra agora