Vinte e Dois - Pernas e cercadinho, para que te quero?

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Camila

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Enjoei do meu nome. É sobre isso porque não estava nada bem. Quando você ouve seu nome sendo chamado milhares de vezes durante o dia tem uma tendência a se cansar dele. Quero dizer, isso aconteceu muito quando morava com meus pais e eles por algum motivo achavam que tudo o que eu fazia era absurdo, mas piorou quando me tornei mãe.

Eu esperava chegar nessa fase e ouvir muitos "mamãe" e me irritar com isso, mas tudo o que eu ouvia era "Camila!".

- Camila! - ela me chamou de novo e fui correndo - Camila, me ajuda aqui!

Era com os garotos, é claro. Eles estavam engatinhando e fugiam para todo lugar possível. Se fosse só isso, tudo bem, mas eles eram três e nós apenas duas para correr atrás deles em todas as direções.

Pegávamos um, outros dois fugiam. Ficávamos ocupadas com dois, o terceiro sumia.

O chão estava brilhando de tanto arrastar que sofria.

É irônico que Lauren e eu estivéssemos tentando voltar com nossas vidas profissionais bem quando os pestinhas estavam tocando o terror? Acho que não funcionávamos realmente bem. Eu estava trabalhando no esboço de um livro novo e Lauren em um projeto para um prédio residencial de luxo, mas quando estavam comigo, os garotos jogavam tudo o que encontravam pela casa e quando estavam com Lauren... bom, faziam a mesma coisa.

E do nada eles não queriam mais saber de dormir!

Quando cheguei na sala, Lauren estava com um deles debaixo do braço - e ele morria de rir - e corria atrás de outro enquanto o terceiro ia para onde seu trabalho a esperava.

- Parado aí, meliante! - peguei o menino e ele riu.

Estava de azul e tinha um machucadinho no queixo. Puxei pela memória.... Oliver! Olhei a pulseirinha e milagrosamente estava certa.

Lauren surgiu com os outros dois menores infratores da paz e ambos riam, um com quatro dentinhos e um com dois. Curiosamente, a não ser que eles tivessem trocado as pulseiras sorrateiramente, Thomas era o que tinha quatro dentes. Foi de zero a cem muito rápido. Daniel tinha dois dentinhos e Oliver dois e meio. Vai entender...

Thomas também era um pouquinho maior e mais gordinho, o que fazia sentido já que ele só não comia pedra porque evitávamos. O prato ele ainda tentava mastigar algumas vezes. E para nossa surpresa, era o mais bagunceiro. O problema era que a peste era silenciosa - talento aprendido enquanto se escondia na gestação - e algumas vezes só percebíamos algo quando era tarde.

Já Oliver continuava odiando tudo e tendo raiva do mundo. Não mudou muito, na verdade. Era um pouquinho mais magro e menor, mas afinal ele ainda fazia cara feia para qualquer alimento sólido.

Daniel era o manhoso, chorão e fofinho. Desde que ficasse bem vestido e não tentássemos limpar ele de alguma forma, ficava bem e grudado em uma de nós - até aí ok - ou em um dos irmãos, o que causava confusão porque ele os ajudava nos crimes.

Então sim, eles estavam ficando diferentes e estava sendo mais fácil saber quem era quem quando tínhamos tempo de analisar os dados que denunciavam suas identidades.

- Isso está sendo mais difícil que achei que seria - Lauren admitiu - não consigo controlar os três e não dá para fazer nada porque tenho que ficar correndo atrás deles.

Respirei fundo e assenti. Os trigêmeos faziam uma assembleia enquanto os segurávamos.

- Não sei o que fazer, amarramos eles no pé da mesa? - indaguei - claro que não estou pensando nisso de verdade, eu só estou... oh, meu Deus! Não acredito que vou dizer isso, mas estou sem criatividade.

Meu coração acelerou. Será que meu principal instrumento de vida tinha dado pane?

A porta foi aberta e três seres humanos surgiram. Dinah, Normani e Phabullo.

- Aí, não disse? - Phabullo riu - elas estão ficando loucas. Olhem a expressão de desespero no fundo dos olhos.

- Ahn - foi o que disse de mais inteligente.

- Vocês parecem mesmo desesperadas - Normani apontou.

Dinah esticou as mãos para Daniel.

- Vem, meu pãozinho cru - ela chamou e ele praticamente se jogou em seu colo.

Daniel gostava de seu silicone. Não era querendo mamar, só parecia achar bonito e legal de amassar.

- O que estão fazendo aqui? Onde estão as crianças? - Lauren perguntou.

- Viemos socorrer vocês - Dinah falou com um sorriso direcionado a Daniel - e as crianças estão na escola, é claro.

- É claro... - Lauren murmurou.

- Tem vaga para três? - perguntei - eles podem fazer parte do time de atletismo, são os maiores engatinhadores que o mundo já viu.

- E é por isso que recrutei as duas - Phabullo contou.

- Trouxemos a solução de seus problemas - Normani contou e Phabullo se juntou a ela para puxar uma engenhoca - o cercadinho! Colírio para os olhos de papais e mamães ocupados.

Lauren fez uma careta e eu concordei.

- Colocar nossos filhos em um cercado como se fossem bichos? - ela questionou, meio incerta sobre se isso seria legal.

- Sim, porque nessa idade são todos bichinhos curiosos e precisam de um espaço limitado para brincarem - Normani explicou.

Certo, aí eu concordei com Normani.

- Tudo bem, vamos em frente - já me adiantei, empurrando o bebê que eu segurava para Lauren, que só esticou o pescoço para olhar com curiosidade.

- Sabemos que eles são três, mas pensamos que talvez fosse melhor ficarem juntos de qualquer forma - Dinah explicou enquanto arrumávamos o cercadinho e colocávamos algumas das coisas que eles gostavam.

Ela foi a primeira a depositar um bebê, então Lauren e eu colocamos os outros dois. Eles se sentaram e escolheram um brinquedo, então respiramos fundo de alívio. Eram mesmo bichinhos em desenvolvimento.

- Aceitam um café? - Lauren perguntou por educação enquanto íamos todos para os sofás.

- Só água, por favor - Dinah negou com gentileza, mas Normani soltou um risinho anasalado.

- Dinah ainda não se recuperou do café salgado que tomou aqui - ela contou, rindo, enquanto Lauren corava.

- Foi um acidente e foi só uma vez - ela se defendeu.

- O suficiente para causar traumas - Normani sorriu para ela, mas de uma forma mais gentil.

- A gente prefere evitar alimentos que venham dessa casa, de qualquer forma - Phabullo zombou de nossas habilidades culinárias.

Não posso dizer que o culpo. Outro dia uma amiga de trabalho da Lauren - Larissa o nome dela, dona da empresa de engenharia Anitta, que tem parceria com a Jaguar Empire, empresa de arquitetura de Lauren -, veio fazer não lembro o que e pegou uma intoxicação alimentar que a deixou de cama por três dias. Estava tudo na validade e feito com higiene, mas foi algo relacionado com o que a gente fez com a comida. Sei lá, coisa estranha.

- Vocês são cruéis. Nossos filhos amam nossa comida - nos defendi.

- Isso porque eles não conhecem outra coisa e porque não tem tempero como para comida normal - Normani falou.

- Má - Lauren apontou um dedo para ela - vocês todos são maus.

De repente, barulho de algo capotando e bebês chorando. Olhamos para o lado. O cercadinho tinha virado porque aparentemente eles decidiram tentar escapar.

Levantamos e corremos para eles mais uma vez. É isso, voltamos aos exercícios físicos na modalidade Corrida Atrás de Bebês.

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Sim eu dei um jeito de enfiar até a Anitta na história.

Sim nosso casal é péssimo na cozinha. Nenhuma salva.

Abraços!

Um, Dois, Três!Onde histórias criam vida. Descubra agora