Quarenta e Oito - Outra Camila

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*------------ quadro de avisos -----------*

Se eu bem calculei. Faltam 10 para o final.

Boa noite.

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Camila

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Estiquei o pescoço tentando ver melhor, mas Lauren me acotovelou. Quando a olhei, ela me lançou um gesto de censura.

Gesticulei perguntando o que foi, mas não olhei para ver a resposta porque aconteceu de novo.

O que? Eram os risinhos.

Daniel estava no sofá, digitava rapidamente em seu celular e soltava risinhos vez ou outra. Eu estava muito curiosa, mas mais do que isso, eu não sabia explicar a outra coisa que estava sentindo.

É meio óbvio a essa altura que todos sabem que sou a mamãe ciumenta, mas depois de Olivia carregando nossa netinha para lá e para cá no buchinho dentro de nossa casa, era um pouco difícil odiar quem faz nossos filhos felizes.

E Dan era muito rígida sobre namoros e seu corpo físico. Não achava justo que se trancasse. Ela era nova, mas os dois irmãos dela também e tinham história (não gostei da tal da Cíntia com quem Thomas saiu outro dia e muito menos da tal Tania, mas me forcei a engolir isso), então se eles namoravam, ficavam ou sei lá o que, era justo que gostasse de alguém.

Ela não engravidando ninguém igual ao irmão dela já estava bom.

Olhei para meus dois filhos quando minha filha soltou outra risadinha. Eles também estavam atentos e eram tão ciumentos quanto eu, mas também entendiam a situação no mesmo ponto de vista que eu.

Ok, Lauren tinha conversado com a gente em um belo dia em que Dan não estava por perto, pois tinha saído com Olivia para ver coisinhas de bebê.

- Eu sei que estão me vigiando - ouvi Daniel dizer e ela desviou o olhar do celular para nos encarar - vocês não vão me barrar.

Lauren não conseguiu prender um riso. Olivia, que estava perto lendo algum material escolar, fez o tratamento de praxe e entregou para minha esposa um copo vazio sem nem olhar bem o que estava fazendo. Tinha se habituado muito bem a nós.

E sim, tínhamos copos vazios em determinados lugares para caso de emergência. Dávamos a melhor qualidade de vida possível para a doida com crise de riso inapropriado.

- Do que está falando? - perguntei a Dan quando Lauren se afastou - por que te barraríamos?

Daniel torceu o nariz.

- Vocês são muito ciumentos - acusou - eu nunca gostei de ninguém, não são vocês que vão atrapalhar ficando de ciuminhos quando eu encontrei alguém que gosta de mim e me entende e que eu goste também.

Cruzei os braços tentando conter meus ciúmes.

- Dan, não temos a menor intenção de barrar algo. Não impedi seus irmãos de namorarem e não vou fazer isso com você - disse a ela - nós só nos preocupamos e sentimos ciúmes porque te amamos.

Dan girou os olhos, mas sorriu.

- Se algum de vocês encherem o saco de Tony... ou melhor, encherem minha paciência sobre isso, vamos ter uma conversa séria.

Sua fala me fez sorrir. Pareceu a mãe todinha quando dava para fazer sermão.

- Tony? - Oliver fez uma careta ao se ouvir falar o nome - Não gostei.

Ouvi Lauren voltando a rir. Nosso filho tinha feito igualzinho a mim, mas eu agora era outra Camila.

- Também não gostei - Thomas concordou - nome de gente suspeita. Você não vê um Thomas e um Oliver como alguém suspeito, mas pensa só se "foi o Tony" não combina?

Ok, ele tinha razão.

Espera, eu não devia concordar com isso. Era outra Camila agora.

- Você está inventando isso só para ser chato como a mamãe - Daniel acusou - vocês três são iguaizinhos. Tony é um cara legal, não é, Olivia?

Olivia ergueu o rosto do livro.

- É verdade. E muito bonito - ela ainda balançou a cabeça em aprovação.

- Ei! - Oliver protestou - isso é traição! Não pode aprovar os namoradinhos da minha irmã assim, onde está o apoio?

- Chutando minha barriga, para ser mais precisa. Acho que isso é estar ao seu lado o suficiente - Olivia respondeu com uma careta - mas a bebê gostou do Tony, acho que vai ser um bom tio se as coisas ficarem mais sérias.

- Mais sérias?! - perguntei.

Thomas e Oliver se voltaram totalmente para Dan de forma desconfiada.

- Isso é sério? - Thomas perguntou.

- É tão sério que estou me dando ao trabalho de falar sobre isso com vocês - Daniel falou, as sobrancelhas se erguendo - Tony me pediu em namoro e eu aceitei.

- O quê? Quando foi isso? - perguntei.

- Ontem - disse curta e diretamente - foi muito romântico, na verdade. Disse que quer passar nossas transições juntos e todos os momentos de felicidade e surto.

Suas bochechas ficaram coradas.

- Isso foi doce - Lauren disse.

Girei os olhos. Estava sendo muito espertinho esse tal de Tony, tocando nesse ponto sensível que minha filhinha tinha tanta ansiedade.

- Quero dizer, eu sou maravilhosa, certo? - era uma reflexão, algo vindo do super ego de Lauren - mas esse momento é uma grande coisa. Gosto de estar com alguém que entende o que é isso e que queira me beijar, é claro.

- Ew! - Thomas e Oliver fizeram.

- Não fale de beijos, você é nossa irmã! - Oliver protestou.

Daniel lançou seu Olhar Lauren para ele.

- Garoto, nós crescemos segurando nossas mãos na hora de cagar no penico e tentando descobrir pra que servia o pênis e o que era punheta sem perguntar para a mamãe pra evitar constrangimento, não seja nojento sobre algo tão simples quanto beijos - ela retrucou, fazendo os irmãos torcerem o rosto em uma careta.

- O que foi isso? - Olivia perguntou - que tipo de reuniões são essas?

Os três fizeram caretas.

- Ser trigêmeos coloca você em uma situação delicada, é melhor não perguntar - Oliver disse para a namoradinha - finge que não ouviu.

- Dan não devia sair contando esse tipo de coisa - Thomas reclamou - onde está nosso sigilo?

- Então posso continuar falando sobre como Tony beija gostoso? - a garota foi ousada - e as mãos firmes que tem... oh, nossa! O jeito como ele segura e aperta e...

- Daniel, cale a boca! - os dois garotos jogaram uma almofada na irmã, que riu.

Eu fiquei simplesmente pasma. Dan estava simplesmente caçoando de nossos ciúmes. Quem tinha criado esse monstrinho que dizia esse tipo de coisa para mães e irmãos sem o menor pudor?

Olhei para Lauren, que abriu um sorrisinho de lado e piscou um olho, entregando o próprio jogo.

Ah, safada!

Daniel voltou a mexer no celular. Não tive coragem de tentar olhar, nem de perguntar alguma coisa porque eu sabia que depois de aprender a tática era capaz de a gente falar "Tony" e ela já começar dizendo coisas inapropriadas que nem quero imaginar.

Acho que eu não tinha mesmo outra saída. Não dava para ser ciumenta e ser atacada desse jeito. Dan era uma filha da mãe e eu obrigatoriamente uma outra Camila.

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Camila: não vou ter mais ciúmes (fonte: confia)

É isso aí, até mais!

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