Capítulo 18

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Covarde, era como Dylan se sentia. O homem queria não se importar e focar sua atenção aos inúmeros problemas que tinha, porém não conseguia deixar de pensar em si mesmo.

A dor que sentia dentro de si era ridícula, descobrir o que a mãe tinha feito não fez ele pensar menos dela, na verdade o que o machucava era que a razão pela qual ele sofreu a infância toda foi um egoísmo descarado.

Dias, o menino ás vezes ficava dias sozinho, a mãe e o pai saiam para trabalhar e não voltavam, o irmão só Deus sabia por onde andava e ele ficava lá naquela casa fria e gigante sozinho.

Isso sem contar as brigas, Dylan ainda conseguia se ver tampando as orelhas e cantarolando em sua mente enquanto o pai quebrava as coisas e a mãe gritava e jogava tudo que podia no chão. Alguns dias ele até preferia ficar desacompanhado, e em outros ele chorava alto para imaginar que não estava.

Porém o menino não era mais um menino e ele teria de lidar com isso como adulto agora, mesmo sabendo disso, ele fugiu.

O terreno afastado que precisava ser construído foi uma bela desculpa. Dylan focou nos cálculos do futuro edifício e pensou em talvez cimentar boa parte da área externa só pra ver Aurora puta com o projeto na mão, a mulher ia bater o pé no chão e xingaria muito ele. "E as plantas, vai enfiar onde? Não vamos fazer essa merda!" Ela diria e ele colocaria algum empecilho técnico só para ela gastar horas pesquisando para poder refutar.

Ele sentia falta de brigar com ela.

"Aurora, Aurora..." Desde que decidiu ir para o apartamento da mulher, eles estão sendo civilizados um com o outro e para Dylan isso estava sendo pior que o inferno.

A culpa podia não ser da mulher, e ele sabia disso, mas culpá-la era muito mais logico para ele. Aurora estava fazendo algumas coisas que eram ridiculamente atraentes.

O jeito que ela mexia no cabelo, o jeito que ela revirava os olhos quando contrariada, até o enjoativo cheiro do sabonete dela causava arrepios nele. "Quem usa sabão com cheiro de maçã, uma fruta tão sem graça que nem gosto tem direito?" De todas as frutas do mundo, aquela se tornou sua menos favorita nas últimas semanas.

"Preciso sair com alguém e preciso logo." O moreno pensou que surtaria se não dormisse com alguém o mais cedo possível, e ele sabia que dificilmente conseguiria afinal ele tinha três capetinhas pra vigiar e não tinha nem tempo para ir ao banheiro sem que algo desmoronasse sobre ele.

Dylan respirou fundo e resolveu voltar para o escritório e acabar com aquilo. Era um homem, não uma criança, tinha que enfrentar de frente as confusões que a vida trazia.

Quando entrou no prédio viu Michele zanzando pelo lugar, era invejável como ela tinha tanto tempo pra passear.

— Michele, me diz que o projeto de invocação do mal sem maquiagem está na sala dela e não passeando por aí, por favor. — Ele riu, mas a mulher não respondeu o sorriso.

— Ela tá lá. — Quando já ia saindo Michele segurou o braço dele o fazendo parar. — Sei que não é tão mau assim, e sei que mesmo sem demonstrar deve gostar um pouco da Aure. Ela acredita Dylan, não seja babaca de dizer essas coisas pra ela sabendo disso, ela realmente acredita.

Dylan sabia que não era burro, mas ele realmente odiava o fato das mulheres falarem sem serem claras, se havia entendido um pouco do que Michele quis dizer o seu cérebro não o contou, resumindo ele não fazia ideia do que tinha acabado de acontecer, como um completo idiota.

Ainda tentando decifrar as palavras que ouviu horas atrás o moreno se sentou no sofá da sala de Aurora e esperou o som do chuveiro parar, então ela saiu, o vestido ficava muito marcante nela, ele pensou.

O ódio tem seu tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora