Capítulo 24

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O sangue de Aurora deve ter ficado mais denso naquela noite, pois ela podia sentir a dor do líquido correndo pelo corpo dela. Quando viu o jeito que Gabriela estava depositando beijos no rosto de Dylan, algo se quebrou dentro dela e por mais que quisesse fingir que não sabia o que era, não podia negar.

Segundos antes de entrar por aquela porta, ela se permitiu pensar que talvez o moreno a agarrasse e a beijasse e ela fingiria não gostar, que talvez ele sorrisse para ela e a colocasse em cima da mesa e... e o devaneio nunca chegou ao fim, pois ele pretendia amar alguém ali e não era ela.

Ela se condenou a dor assim que permitiu imaginar, doeu como se tivessem a degolando.

Então veio a raiva, Aurora o culpou por outra coisa para poder descontar nele o ódio que causou a si mesma.

Depois de ensaiar suas palavras, ela despejou o veneno nele. Conhecer as fraquezas dele ajudou; ela insultou a masculinidade dele, o carácter, a moral, quebrou as coisas, pois sabia do medo que causaria, ela usou tudo que conseguia para o machucar tal qual ele havia feito com ela.

Mas aquele era Dylan e pelo jeito ele era bem melhor naquilo que ela; enquanto as palavras dela foram ensaiadas pra machucar, o moreno desenterrou o pior que sentia a respeito dela e atirou como facas certeiras, ela podia tê-lo machucado, mas ele, ele a fez preferir a morte, à tortura que as palavras ditas faziam entrando em sua mente.

Enquanto Dylan a insultava, sua beleza e inteligência, a mulher não se abalou, nada que ele dissesse seria mais pesado do que já havia ouvido de si mesma, porém quando a comparou com a irmã e disse que ela não era desejada por ele, as lagrimas caíram.

Então, como se ela já não tivesse sangrado o suficiente, ele perguntou o porquê de ela não ter se matado, jogou a covardia na cara dela, e aquilo a preparou; Aurora decidiu naquele momento que faria de tudo para provocá-lo até que ele tivesse coragem de fazer o que ela não tinha, seria um favor para ambos, ela pensou.

No entanto, ele parou, parou de brigar e isso foi como se acendessem uma luz, ela agradeceu, mesmo com raiva, agradeceu por ele parar de machucá-la.

Então ele saiu e Aurora desabou.

Os soluços vieram como um maremoto e só cessaram quando sentiu os bracinhos a rodeando. As crianças estavam chorando tanto que ela guardou a própria dor para acalmá-los.

Aurora fingiu estar bem e prometeu que no dia seguinte o moreno estaria ali, ela os colocou em sua cama e foi pra sala tentar se recuperar.

Saber que a culpa era dela não ajudava, a situação criada tinha tomado proporções além do reparo, Dylan nunca mais olharia na cara dela depois do que ela disse. "Criei um segundo grande trauma nos meus filhos." Depois da morte horrenda que eles tiveram que presenciar, aquela briga era o que eles menos precisavam.

Tudo isso porque ela não podia se contentar que Dylan precisava de alguém e escolheu Gabriela. Aurora sabia que ele nunca a escolheria, não que ela o quisesse, mas saber que ele não a queria doía tanto, de um jeito sem explicação.

"Eu odeio ele." Ela se lembrou, e ela se lembrou o motivo do sentimento. "Porque esse é o Dylan, ele te confunde, finge se importar, pra quando for te torturar doer mais."

Pela primeira vez na vida, sentir ódio dele não veio acompanhado de raiva, o sentimento carregou consigo a mais violenta tristeza.

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A noite acabou e Aurora não tinha dormido nada, as crianças não estavam bem e a culpa era dela. Falar com a amiga também não ajudou.

A mulher mandou áudios vagos aos tios de consideração se desculpando por ofendê-los numa briga, os mais velhos nem entenderiam, mas ela já se sentia culpada o suficiente para deixar isso pra lá.

O ódio tem seu tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora