Capítulo 22

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Em paz, era assim que Aurora podia definir seu sono, a mulher estava tão aconchegada no calor da sua cama e tão protegida ali que até estranhou. Foram alguns cochichos infantis que a trouxeram de volta a lucidez.

Tudo parecia normal tirando o fato de sentir algo se mover sobre ela, então ela escutou pezinhos correndo que ficaram distantes, nada a incomodaria se não fosse pela pressão em seu pulso.

O corpo dela travou quando se deu conta. A sensação antes vivenciada disparou uma carga de adrenalina e terror nela.

Aurora abriu os olhos e tentou focar em seu pulso, um pedaço de barbante a amarrava a alguém, o pressentimento de que morreria cercou a mente dela.

"Vai acontecer! Eu sabia!" Ela tentou levantar, porém, o braço que não pertencia a ela, não deixou que se movesse.

— Me solta! Por favor. — Ela implorava enquanto os soluços escalavam a garganta dela.

— Aurora, calma.

— Me deixa ir! — A necessidade de fechar os olhos para desembaçar a vista era enorme, mas o medo da sua própria escuridão era maior.

Dylan se levantou e caminhou a arrastando até a porta, quando ele fechou a porta algo dentro de Aurora sabia que ela nunca sairia dali. O pânico a venceu.

— O que você está fazendo? Me solta! Tira isso! Tira! — As unhas dela já haviam perfurado a carne na esperança de romper o material que a ligava a ele. — Por favor, abre a porta...

— Aurora, eu fechei porque você não quer que essas crianças te vejam assim, fica calma. Não vou te machucar, sou só eu. — Dylan a abraçou com a mão livre e continuou sussurrando. — Sou só eu e não vou te machucar, podemos cortar isso a hora que quisermos, tudo bem, já passou.

O jeito como ele a embalava e a segurava como se tivessem dançando a valsa mais minimalista do mundo, aquilo era canela e chocolate para Aurora, era calma e segurança, era tudo que ela sempre quis em uma crise, que alguém a segurasse.

— Sou só eu, e ninguém vai machucar você, eu não vou deixar, prometo que não vou minha maçã. — Conforme ele continuava cochichando, Aurora foi se acalmando ao ponto de conseguir compreender as frases ditas. — Quando você quiser nós vamos ao banheiro e cortamos, mas está tudo bem, juro que está...

— Eu quero cortar. — Ela conseguiu falar e Dylan a soltou para poder olhar nos olhos dela.

A vergonha fez com que a mulher desse passos apressados até a tesoura que ficava na primeira gaveta da pia. E quando enfim cortou o barbante, empurrou o moreno porta afora com a desculpa de precisar de um banho.

"Merda! Eu não fiz isso. AAAAAAA." Enquanto a água caia, a chamada de vídeo com Michele estava em aguardo.

— Cruzes, amiga, tá chorando? — Michele comia um pedaço de bolo enquanto se sentava numa mesa pouco familiar para a amiga.

— Michele... estou tão louca, doida, prestes a ter uma síncope; o mundo está desabando e tudo na minha cabeça. — A cara da amiga de pouco caso irritou Aurora. — Não estou fazendo drama.

— Não disse que estava, mas o que tanto houve pra você estar aí só o pó?

— Além de descobrir que minha irmã vai morrer, descobri que Dylan era apaixonado por mim, que ele tem trauma como os meus, deixei ele dormir na minha cama, gostei de ter um cara gostoso na minha cama, descobri um gatilho novo, ainda... descobri que Dylan consegue me fazer sair de uma crise com um abraço. — Michele estava com o bolo parado no ar e a boca aberta.

— Cristo. Não pensou em me contar?... A paz de Jesus, obrigada. — Michele disse a última frase a alguém sorrindo e pegou uma xícara nas mãos.

— Tá aonde?

O ódio tem seu tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora