Exausta e culpada, assim que Aurora soltou a frase, ela se chutou mentalmente; a mulher tinha sofrido de inseguranças a vida toda e por mais que Dylan a irritasse como nenhum ser no mundo era capaz, ela não tinha o direito de fazer aquilo com ele.
O rosto de dor quando ela falou do peso dele, fez o arrependimento socá-la com força. Agora ela se sentia muito culpada.
Quando pensou que pararia por aí, o destino disse que não seria bem assim.
Ver Dylan enfrentando a mãe, a fez entender o porquê o assunto era tão delicado pra ele.
"Eu invejei tanto a família dele". Desde que se lembra, ela queria que a casa dela fosse como a de Dylan, ele sempre tinha os melhores brinquedos, sempre podia sair para onde queria, o irmão era legal, mas claramente vendo de fora era outra história.
A mulher nunca havia presenciado briga entre seus pais, mesmo nos piores dias eles estavam lá, do jeito deles, mas estavam. Aurora odiava quando os pais puxavam o saco de Dylan nas apresentações do colégio, porém, lembrando bem, os pais do menino nunca estavam lá, os dela sempre iam assistir às apresentações dos dois.
"Vou fazer macarrão a bolonhesa amanhã para o jantar". Foi o que ela disse saindo da sala da tia, Aurora sabia que Dylan gostava e mesmo não suportando ele, a culpa de ter dito o que disse a consumia.
Ela ia fazer macarrão pra ele, afinal era uma das coisas que ela sabia fazer muito bem.
Então ali estava todos eles, sentados em círculo depois do maior confronto pai e filho que Aurora já presenciou. Ninguém sabia o que dizer e só depois de Mi falar algum absurdo eles começaram a ser racionais sobre a situação.
"Acho que tem algo de errado com eles." A frase da amiga reverberava na mente dela, o que os pais estariam aprontando?
O barulho da caixa de entrada da mulher fez com que ela se focasse no seu computador. O e-mail que chegou continha três nomes apenas.
— Os nomes chegaram.
"José Apuama; Emílio Florença; Túlio Maciel".
Aurora leu e releu e parecia ter algo errado que não conseguia identificar.
— O primeiro nome é o nome do irmão da Carmen, o nosso antigo jardineiro. — "É isso", a constatação iluminou a mente dela.
O primeiro nome, na verdade, o sobrenome Apuama.
Apuama vinha da língua nativa, a língua dos antepassados. Mesmo sendo um sobrenome comum, o fato de estar relacionado ao senhor Blackwood o tornava interessante.
Aurora pesquisou um pouco sobre isso assim que saíram do hotel, a Bisa havia contado os sacrifícios que fizeram para manter o dom em segredo e para a mais velha o que doeu em sua alma foi ter que mudar o sobrenome.
Depois que os nativos se misturaram com os povos dos outros continentes, as lendas foram se espalhando e então as famílias nativas começaram a ser caçadas e interrogadas sobre as pedras do tempo.
Para fazer todos acreditarem que era só uma lenda, as famílias responsáveis mudaram seus sobrenomes e se misturaram ao máximo para confundir sua fisionomia.
A família dela seria nomeada Kavajutinga, porém os antigos Tinga mudaram seu nome para White e os Kavaju para Horse. Quando essas famílias se uniram, elas fizeram questão que seus filhos escolhessem para casar dentre os povos das montanhas do norte, o que fez com que o preto dos cabelos escorridos se misturasse ao vermelho-alaranjado, os tornando únicos.
E na família de Dylan isso também ocorreu, os Úna se tornaram Black e os Ybyrá se tornaram Wood, assim quando se uniram em vez de Ybyraúna eles se chamaram Blackwood. Diferente dela, a família dele entrelaçou os laços com os guerreiros das planícies africanas.
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O ódio tem seu tempo
RomanceOs Whitehorse e os Blackwood são magnatas no ramo da arquitetura e engenharia, devido a grande amizade entre as famílias ambas se uniram criando a empresa Time Home, que se tornou a maior e melhor do segmento através dos anos. Porém a era da amizade...