Capítulo 25

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Sentado no sofá ao lado de Aurora, Dylan se sentiu mais leve. Ele riu e deixou que a sensação aconchegante e calma o dominasse, mesmo sabendo o quanto gostava de estar ali, o orgulho o permitiu ignorar o sorriso bobo que estampava no rosto.

Quando notou a cicatriz da mulher no tornozelo, ele logo puxou assunto, Dylan falaria sobre o que conseguisse, pelo tempo que pudesse; ele só não queria que o encanto entre eles quebrasse e nem queria pensar sobre esse tal encanto que parecia surgir do nada e ser complicado demais para enfrentar.

No entanto, quando Aurora o encarou e o olhou como se seu azul varresse a alma dele, o homem entendeu que a conversa estaria em outro tom, seria densa, mas ele não se importou, a vontade de ouvir o que ela diria o fez respirar fundo e olhá-la atentamente.

— Eu meio que odeio essa cicatriz e meio que amo ela; sei lá. Ela me lembra que eu te devo desculpas. Me desculpa, sinto muito por demorar para te pedir isso. — O coração dele chacoalhou e o ar que respirou estava tão frio, a sensação de respirar fundo era agonizante. "Desculpas? Por que isso agora?"

— Essa marca nasceu num dia muito ruim e sinto muito pelo que fiz. — "Aurora, não ouse."

Ela não podia se desculpar por isso agora, ele pensou. Ela não poderia se mostrar arrependida pelo ato cruel que cometeu anos atrás, pois, o que restaria para Dylan se tivesse que a perdoar? O que restaria para o ódio que carregava por ela? No que o sentimento se agarraria? "Não ouse Aurora." Os pensamentos foram implorados em vão, pois a mulher continuou sua fala.

— Sei que nunca vou conseguir mudar..., mas eu sinto muito, sinto muito mesmo por perder seu melhor amigo... eu queria tanto ter chego a tempo... — Assim que ouviu a referência ao cãozinho amado, a garganta se fechou.

"Como assim chegar a tempo? Você estava lá!"

— Chegar? — A palavra de seis letras saiu com tanta dificuldade.

— É, não consegui. Não sei se te contei, mas você provavelmente sabe da depressão que tive e com ela eu tinha alguns, bem... traumas, escuro e tempestades me faziam... bem... naquele dia ficou escuro muito cedo e começou a chover rápido demais...

"Então você correu!" O rosto dele se nublou e ele se lembrou da sensação; a água o encharcando, o frio, a falta de ar.

— Quando vi seu cachorrinho sangrando, eu sabia que precisávamos suturar o ferimento para ele ter uma chance de chegar até o veterinário, eu... eu estava com muito medo; mas ninguém merece perder um amigo. Eu corri até o estábulo para pegar o kit de primeiros socorros que tinha lá...

O homem lembrou do seu próprio medo, lembrou da agonia de não poder correr. Aurora não fazia sentido e a sensação de que algo estava prestes a mudar o cercava, e arrepiava cada pelo em seu corpo enquanto roubava seu fôlego.

— Mas dá quase um quilômetro de onde a gente estava... — Dylan pensou alto sem entender o que estava ouvindo.

— Menos que isso. Não foi fácil chegar lá... não pela distância, mas a chuva e o escuro... era como se estivessem me matando aos poucos... — Enquanto imaginava o rostinho de uma pequena Aurora aterrorizada na chuva, o ódio que permeava a lembrança vacilava. O coração dele vacilava junto.

— Quando eu cheguei, eu... bem, eu não peguei e sai pois... eu vomitei algumas vezes e não conseguia parar de chorar; eu não conseguia voltar para chuva, eu juro que tentei, porém, meus pés não obedeciam... então eu demorei muito... quando eu consegui entrar na chuva e correr o caminho de volta... quando cheguei vocês já não estavam mais lá...

O silêncio da noite contrastava com a mente barulhenta dele, o moreno só pensava em como queria voltar até aquele memento e embalá-la em seus braços e dizer que estava tudo bem. "Não foi sua culpa, não implore perdão."

O ódio tem seu tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora