Capítulo 11

65 9 5
                                    

Sentada em sua cadeira de costume na sala mal iluminada, Agatha sentia o frio do ar condicionado que era exagerado demais, suas unhas quase rasgavam as mãos, tamanha a pressão feita ao mantê-las fechadas. O cheiro das peônias no centro da mesa já a estava irritando, assim como perder tempo com os assuntos de Aurora.

Mas o que mais a irritava era Dylan ter mandado a mensagem de que eles dois precisavam tratar de assuntos com todos, o que Dylan teria a ver com Aurora?

Agatha colocou sua blusa dourada, sua saia branca e fez a maquiagem mais básica que conseguiu naquela manhã, ela sabia que não precisava tentar ser bonita, já era. O seu perfume de mandarina com toques de pimenta rosa exalava pela sala e ela já estava ali a tanto tempo que até as notas de baunilha no fundo da fragrância estava a irritando.

"Nunca vou usar isso de novo enquanto eu viver..."

Toda perturbação passada estava bem distante de ter fim quando a irmã cruzou a porta com o Blackwood e crianças ridículas que claramente eram cópias dos dois ineptos que viviam para atrasar sua vida. Sua irmãzinha, principalmente, Dylan por outros motivos...

"O que essa criatura incapaz fez?" Aurora certamente conseguiu estragar a vida de Agatha de todos os jeitos em todas as épocas do tempo.

"E AINDA OLHA COM ESSA CARA DE VÍTIMA, SONSA E CAPENGA!" Se Agatha pudesse, ela estrangularia o desprazer que chamava de irmã.

A loira levantou os olhos nublados para a ridícula a sua frente e pressionando os dentes com força, ela se segurou para não realizar a visão de sua caneta no pescoço dela. Agatha chegou a tirar a caneta preta que prendia as ondas douradas no topo da cabeça e enquanto elas desmanchavam pelas costas levou todo seu autodomínio para se manter com a expressão fria e calma como o inverno.

Assim que saiu da sala ela correu até seu banheiro e socou o mais forte que podia o espelho de moldura prateada fazendo ele se rachar, o sangue na mão dela escorria e ainda assim não carregava nem 1% da sua frustração, raiva e ódio.

Aquela não era para ser Aurora. Aquela era para ser ela, ela.

Recuperando sua postura e enfaixando a mão, Agatha respirou, Agatha sorriu forçadamente e tentou se concentrar no trabalho que precisava entregar, mas não dava, os fantasmas maldosos que a acompanhavam gritavam em sua mente.

Ela não entendia.

"O que fiz de errado?" Ela não conseguia se responder, já fazia muito tempo que ele havia terminado com ela e desde essa época ela tentou ser melhor, mais bonita, mais talentosa e então... então acontece isso em seu futuro.

As pedras tinham que ser destruídas, as pedras tinham que sofrer tanto quanto o destino que escolheram para ela. "POR QUE NÃO POSSO TER ELE?"

"Mamãe deveria ter perdido o bebê quando pode..."

Agatha não conseguia compreender que Aurora tinha ficado com Dylan sendo que ela o odiava, ele disse que a odiava inúmeras vezes também. O que eles fizeram de errado?

A mais velha não tinha problemas com a mais nova quando menor, além de ciúmes básicos quando pequenas, ela não entendia que precisava que Aurora fosse odiada pelo Blackwood, até entender...

Era começo de outono e os Blackwood estavam no River passando o fim de semana, todas as crianças brincavam de esconde-esconde naquele fim de domingo, havia muitas crianças lá no hotel e naquele dia ela foi convencida a não se esconder sozinha.

Embaixo dos raios violetas que pintavam o céu eles foram para o estábulo e não havia ninguém mais lá além dos majestosos animais, foi o primeiro beijo dele e o primeiro beijo dela. Ninguém foi atrás deles, as roupas dela foram tiradas e com uma sensação de frio ela entendeu que seriam um do outro.

Ela tinha onze anos quando perdeu a virgindade com ele, e não havia nada que pudesse fazer depois disso, ela ara completamente dele e ele... até então, dela. Só dela, ele prometeu.

Mas mesmo assim Blackwood sempre dizia que Aurora era sua preferida, Agatha cansou de ouvir ele dizendo como a irmã era gentil, engraçada, alegre... sempre que estavam longe da mais nova ele falava dela, e ela temia que ele ficasse com a irmã também.

Ele não poderia.

Mais tarde Agatha soube que ele também não poderia ficar com ela, ela contava os dias para ouvir em segredo como ele a amava e mesmo temendo e sentido todo seu corpo reclamar pelo encontro, parecia certo e depois daquele ano ele disse... disse que Blackwood e Whitehorse nunca poderiam ficar juntos, mesmo se quisessem.

"TRÊS, TRÊS CRIANÇAS!"

Ele terminou com ela o que eles "nunca" tiveram. Destruiu ela como uma criança brincando de bem-me-quer-mal-me-quer com uma flor, pétala por pétala, pedaço por pedaço.

Agatha tentou fazer tudo que ele disse, mas ela não conseguia nem comer mais, não queria, não podia, tinha que estar bonita para ele, ela pensava.

Mas ele prometeu "PROMETEU", que nunca teria outra e que futuramente quando as coisas se ajeitassem e eles tivessem a empresa poderiam se casar sem julgamentos; enquanto isso eles viveriam a vida e deixariam as coisas a mercê do tempo que servia a eles.

Ele disse que ela poderia se divertir, ter namorados, ter amantes, e não se preocupar ou culpar, pois ela seria a garota dele sempre...

E Agatha tentou. Tentou namorar, tentou se deitar com outro, mas era impossível. Ela era dele e ele DELA.

"ELE PROMETEU! Prometeu que daria um jeito."

Porém, talvez tudo isso fosse uma armadilha da mente dela.

Depois que os pais a obrigaram a tomar os remédios, ela às vezes duvidava de si mesma.

Mas os beijos, os toques, as promessas sussurradas e pedidos de segredos implorados foram reais... para ela o amor sempre foi real.

"Nós seremos reais! Espero que Aurora conserte o futuro dela, porque senão eu vou consertar. Nem que eu tenha que eliminar peça a peça dessa equação." 

O ódio tem seu tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora