Capítulo 35

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Perfeição e excelência, Agatha era a definição de ambas as palavras; claro, também haveria delicadeza, talento, fortuna, beleza e muitas outras para acrescentar em sua essência. A loira sabia que não havia ninguém tão boa quanto ela e não é que ela quisesse ser a melhor, ela simplesmente era.

Ser uma Whitehorse não era fácil, ela tinha que ser o espelho da empresa, era a ela que todos olhavam antes de pensar no próximo passo a se dar, então tinha que saber muito bem como andar.

Agatha aprendeu a andar antes das outras crianças, assim como aprendeu a falar, escrever, ler, dissertar..., no entanto, ela não aprendera como chegar ao fim.

Para a pequena Agatha a vida funcionava de uma forma engraçada, ela tinha que ser uma garotinha perfeita e assim quando atingisse essa perfeição poderia realizar seu proposito e enfim chegaria no final disso tudo, mas a Agatha adulta sabia melhor.

Não existia um fim.

Ao se levantar naquela manhã de segunda-feira, a mulher se banhou, passou seu perfume caro, vestiu sua roupa básica de trabalho, a qual ela sabia valer cerca de um ano de salário de um simples funcionário. Agatha tomou seu café da manhã, uma pitáia com ovos e um chá de cidreira.

Ela arrumou o lenço importado em sua bolsa de grife e respirou fundo antes de trancar a porta da sua cobertura e deixar o apartamento. Ela estava tensa, estava com medo.

Agatha estava com fome, mas ela sempre estava com fome.

"Você não pode engordar mais, se contente." Quem a desejaria se ela estivesse obesa, ele certamente sentiria nojo dela, de novo.

Ela parou na garagem e perdeu a postura por míseros segundos, os quais parou para respirar fundo e controlar a tremedeira das mãos.

"Não seja ridícula, Agatha, você pode fazer isso." Ela sorriu lindamente e acenou para o garagista.

A mulher ordenou que retirasse o seu lindo carro vermelho, o qual combinava com seu belo salto, ela entrou e dirigiu rumo a sua empresa.

O céu estava lindo, o sol estava vívido e os tons de amarelo da manhã a lembravam uma pintura de Van Gogh; Agatha se entristeceu.

Ela sempre estava triste, então como sempre, ela simplesmente fingiu não estar.

Antes de chegar no edifício, ela estacionou para checar o celular, ele não havia mandado nenhuma mensagem, isso fez seus olhos se encherem de lagrimas, ele devia estar bravo com ela.

Chorar não era uma opção, ela faria tudo ficar em perfeita ordem.

— Não me ignora... vou fazer tudo certinho, vou fazer hoje. — Ele visualizou, porém, não respondeu.

As mãos dela continuaram a tremer, ela continuava com fome e mesmo assim não era suficiente, a dor não era suficiente. Agatha pensou em vomitar o café, todavia, não podia; tinha prometido a sua mãe que não faria mais isso.

Ela estava com raiva.

Agatha queria que ele respondesse, "Sei que vai fazer certo, você pode fazer, confio em você, você é a melhor." Ou até um simples "ok". No entanto, a mensagem foi ignorada como as muitas outras antes dela.

Mesmo com a postura perfeita, por dentro ela estava torta e quebrada de tanto se apedrejar pela raiva que a consumia de si mesma.

A mulher chegou ao lugar e se dirigiu a sua sala, não falou com ninguém, a final por que deveria? Todos sabiam quem ela era, ela era quem pagava o salário deles, um valor bom o suficiente para não ser incomodada.

Ao entrar na sala milimetricamente ordenada e incrivelmente limpa, Agatha se permitiu tomar um copo de água.

A bebida pura e impecável foi degustada por ela; Agatha devia ser tão pura quanto aquele líquido, entretanto, não era.

O ódio tem seu tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora