Capítulo 1: Cidade das Máquinas.

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Reino Cinzento, Cidade das Máquinas

Lyra

As nuvens escuras cobriam o céu naquela manhã. Os trovões ecoavam por cada canto daquela cidade barulhenta. Desviei das pessoas que andavam pelas ruas, tentando chegar aos trens que passavam pelo meio da cidade. Diana apertou minha mão, entrelaçando nossos dedos a medida que víamos as crianças correndo pela rua, um pouco magras demais.

—Ei! —Cedric segurou o braço de um garoto que parecia ter uns 10 anos. Estava magro e com as roupas sujas e rasgadas. —Cadê seus pais?

—Eu não tenho. Eles morreram. —O garoto murmurou. Cedric o encarou por longos segundos, antes de enfiar a mão no bolso e puxar um punhado de moedas.

—Use para comprar comida, okay? Esconda onde ninguém possa achar.

O garoto abriu um sorriso radiante e enfiou as moedas no bolso, soltando um "obrigada!" ele saiu correndo pela rua lamacenta. Cedric ficou observando o garoto se afastar, assim como eu. Havia uma rachadura no mundo e precisávamos curá-la antes que fosse tarde demais.

Um mês havia se passado desde que a Rainha das Rainhas tomou conta de todo continente. Ela aproveitou que Kayla havia assassinado todos os reis para tomar conta de tudo. Agora os reinos não passam de meras cortes pra ela. Seus seguidores comandam tudo no continente, enquanto ela reina sobre as terras esquecidas.

Depois que ela chegou, tudo virou caos e escuridão. As plantações começaram a morrer. As terras parecem ter ficado inférteis, já que nada cresce ou dura. As cidades estão ficando mais pobres a cada dia. Até mesmo aqueles que eram podres de rico, vivem na miséria.

O que quer que a rainha suprema tenha feito quando pisou aqui, sua magia das trevas contaminou o mundo todo. Temos lutado para ajudar quem precisa. Para salvar alguma coisa do mundo. Mas nada disso faz diferença enquanto ela ainda está de pé, com a coroa sobre sua cabeça.

—Aqui. —Trevis apareceu na nossa frente, estendo as três fichas para que subíssemos no trem. Apertei a mão de Diana e segui ele e Cedric, tentando ignorar os guardas que passavam pelo meio das pessoas, procurando por qualquer um que deseje ter a cabeça pendurada por uma corda.

Subimos no trem, rumo a Cidade das Estrelas, onde nós escondíamos, naquela caverna onde encontramos Alex. Entrei na cabine atrás deles, me sentando ao lado de Diana e vendo Cedric trancar a porta.

—Aqueles guardas na rua. —Diana chamou nossa atenção. Ela tinha a cabeça escorada no banco e olhava para a rua pela janela, ainda observando as pessoas. —Também tinham marcas de correntes no pulso. Eu vi.

—Estão corrompidos. Todos eles. —Afirmei, sentindo meu corpo doer pelas horas mal dormidas nos bancos dos trens que viajamos até aqui.

—Deveríamos fazer alguma coisa. —Trevis murmurou, escorando a cabeça no ombro de Cedric, enquanto se encolhia, pronto para cochilar.

—Precisamos das safiras, Trevis. E sabe que agora é praticamente impossível consegui-las. —Cedric afirmou, enquanto o trem começava a se mover, deixando toda Cidade das Máquinas para trás. —Segundo o Lusion, Kayla está no meio do oceano. Ela não pisa em terra firme desde o assassinato dos reis.

Haviam muitas coisas que havíamos descoberto sobre Kayla no último mês. Arrancamos todas as informações que conseguimos do Lusion. Ela está com Axel, um Portador das Sombras das terras esquecidas e Kenji, o príncipe e filho da Rainha das Rainhas. Ela escolheu seu lado, afinal.

Também ficamos sabendo sobre a história da família dela. Uma história que me dá calafrios e faz meu estômago embrulhar só de lembrar. Kayla estava quebrada de verdade. Estava tão quebrada que usou isso como uma arma contra todo o mundo. Seu padrasto havia sido assassinado pelos seus novos amigos das terras esquecidas. E ela, pessoalmente, foi até a casa da mãe para matá-la.

E por último, a Rainha das Rainhas havia dado a imortalidade a ela, como fez com todo seu povo. Isso foi como um balde de gelo caindo sobre nossas cabeças. Porque agora, teríamos a eternidade toda para correr atrás de Kayla se ela resolvesse continuar se escondendo. E isso não era nada bom.

Agora ela está no meio do oceano, longe de qualquer possibilidade de conseguirmos chegar até ela. Havíamos tentado por uma semana, embarcando no navio do capitão Henry e navegado por todo lado. Mas não havíamos encontrado-a. E acho que se encontrássemos, ela não ficaria muito feliz.

Agora estamos tentando sobreviver, enquanto buscamos algo que nos ajude a vencer a rainha suprema. Fizemos nossa primeira tentativa na Cidade do Sol, roubando da maga Astrid. Se tivermos sorte, conseguiremos algo tão com quanto as safiras.

—Acham que ela vai vir atrás de nós? —Eles olharam pra mim. —Astrid, quero dizer.

—Não tem como ela saber que fomos nós que roubamos o livro. Mas aposto que ela está super irritada agora. —Diana afirmou, abrindo um sorriso preguiçoso. —Nada que não estamos acostumados, não é? A maioria das pessoas poderosas nos odeiam e dariam tudo pra nós verem mortos.

—Mal sabem eles que estão caçando a última rainha viva do continente. —Trevis murmurou. —Quando vencermos a Rainha das Rainhas, voto em você para a rainha suprema.

—Bom saber. Não esperava menos de vocês, meros súditos. —Diana afirmou, erguendo o queixo com uma falsa presunção que me fez rir.

—Ah, vossa majestade. —Cedric colocou a mão no peito, abaixando a cabeça em uma meia reverência. —Pra você.

Ele ergueu a mão e mostrou o dedo do meio pra ela. Explodi em uma gargalhada junto com Trevis, enquanto Diana mostrava a língua pra ele e fingir estar ofendida.

—Você vai ser o primeiro a morrer quando eu for rainha. —Ela apontou pra ele, tentando não rir. —Pode me aguardar, pirata.

—Estou me sentindo honrado. —Ele zombou, rindo. —Teremos ótima rainha no trono, tenho certeza.

—Espero que sim. —Diana sussurrou, olhando para a paisagem que passava pela janela. Apertei a mão dela, sentindo ela apertar a minha de volta. Ela seria uma excelente rainha. Eu tinha plena certeza disso.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora