Caminhei pela neve macia, vendo os súditos das terras esquecidas fazerem reverências a mim, a medida que eu passava por eles. A maioria parecia feliz agora que sua rainha governava tudo e agora que todos estavam livres daquela barreira.
Subi os degraus de madeira até a varanda da casa, batendo na porta e ouvindo o barulho de passos lá dentro. Não demorou muito pra que a porta fosse aberta, revelando a figura alta de pele morena.
—Gregory. —Abri um sorriso, vendo ele abrir espaço para eu entrar, sorrindo também.
—Por onde você anda, alteza? Faz dias que não o vemos. —Murmurou, fechando a porta atrás de si. Caminhei pela sala até ficar de frente para a lareira, tentando aquecer minhas mãos.
—Kayla arranjou um navio. Estamos em alto mar. Pelo menos até as coisas esfriarem no continente. —Esclareci, vendo ele se aproximar e se sentar no sofá, curvando os lábios, parecendo pensativo. —E a Alissa?
—Foi comprar algumas coisas. —Deu de ombros. —Kayla arranjou muitos problemas matando os outros reis, não é?
—Ela teria arranjado muito mais se os deixasse vivos. Eles estavam atrás das safiras. E se o rei solar foi capaz de tentar casa-lá com o filho. Imagine o que os outros reis não fariam com ela. —Afirmei, engolindo em seco. —Kayla não é um monstro, Gregory. Muitos podem pensar que é. Mas eles não a conhecem de verdade.
—Bem, tenho certeza disso. Ainda me lembro de quando vocês apareceram lá na fazendo, carregando Axel nos braços. —Gregory murmurou, me fazendo olhar pra ele. —Vendo como o continente está hoje, me pergunto se foi uma boa ideia quebrar a barreira, alteza. Nossa rainha está...
Ele parou de falar, parecendo com medo da minha reação. Mordi o lábio para não rir, me sentindo frustrado. Aquela era uma pergunta que eu me fazia todos os dias.
Será que foi uma boa ideia quebrar a barreira? As vezes, penso que não. Mas agora é tarde demais pra se arrepender.
[...]
Subi no navio, ignorando o olhar de Devlon, que estava sobre mim, parecendo julgar cada coisa que eu fazia nessa viagem pra casa. Tentei ignorar também a vontade de dar um soco na cara dele, cada vez que ele sorria, como um maldito cínico.
—Cidade do Sol, Devlon. —Murmurei, virando as costas e me afastando dele.
—Sua mãe pensou que ficaria mais tempo aqui. —Devlon falou, vindo atrás de mim. —O que vocês três tanto fazem naquele navio, no meio do mar, hein?
—Nada que seja da sua conta. —Retruquei, subindo as escadas para alcançar a cabine, querendo me livrar dele o mais rápido possível.
—Qual é, alteza, só estou preocupado com o meu filho. —Afirmou, me fazendo revirar os olhos e rir em desdém.
—Hm, okay. —Abri a porta da cabine e me virei pra ele. —Acho que não preciso dizer onde você deve enfiar essa sua preocupação paternal, né? —Tombei a cabeça de lado, com um sorriso tão cínico quanto o dele. —E quando quiser conseguir informações pra rainha, tente não parecer tão óbvio, entendeu?
—Acha que eu não me preocupo com meu filho? —Indagou, arqueando as sobrancelhas.
—Sinceramente? Não tô nem aí pra você, Devlon, pra achar alguma coisa. Então, por que não some da minha frente e me deixa dormir em paz?
Ele ficou parado, me encarando com os olhos cerrados. Para minha imensa felicidade, ele virou as costas e saiu andando para longe. Entrei na cabine, parando um instante e me virando pra ele.
—E, Devlon? —Ele parou, olhando por cima do ombro. —Eu vi você saindo do quarto dela ontem a noite. Se pensa que isso te da algum poder, é melhor esquecer. —Afirmei, vendo ele se virar completamente pra mim, parecendo surpreso. —Tanto eu, quanto Axel vamos adorar te tirar desse pedestal que você acha que possui.
—Está me ameaçando? —Indagou, curvando os lábios em irritação. Abri um sorriso largo, balançando a cabeça negativamente.
—Sou um príncipe. Não preciso recorrer a ameaças. —Pisquei pra ele, em meio a uma risada sarcástica e fechei a porta na sua cara.
Me virei para a cabine, fechando os olhos com força e encolhendo os ombros. Não durei dois dias com minha mãe. Não era bem isso que eu estava esperando quando quebrei a barreira. Passei tanto tempo pensando nisso, que me sinto frustrado agora.
Espera ver minha mãe e não uma rainha doida por poder, como ela está agora. E pra piorar, ela anda dormindo com Devlon. Não sei quando isso começou e também não quero pensar no fato. Então, com um suspiro de frustração, me joguei na cama pra ter umas boas horas de sono.
[...]
Abri os olhos lentamente, ouvindo o som de vozes altas do lado de fora da cabine e o que parecia ser uma correria sobre o deck. Me sentei na cama no mesmo instante, olhando ao redor e vendo a cabine parcialmente escura. Havia apenas duas velas acesas, dando pouca luminosidade.
Me levantei, olhando ao redor, sentindo uma sensação estranha. Então minha atenção atenção foi até a escotilha, onde eu podia ver o mar, o céu escuro e a silhueta de um navio no horizonte.
Fiquei naquela posição, ouvindo a madeira ranger em algum lugar da cabine. Senti a eletricidade passando por mim, até as minhas mãos. Então me virei e caminhei lentamente até a entrada do escritório, vendo a mesa de madeira cheia de mapas e o espelho no canto da sala, dando o vislumbre de uma lâmina escondida no canto da porta, onde eu estava prestes a passar.
—Pretende usar essa espada contra mim, ou ela é só um enfeite? —Indaguei, dando mais um passo para frente, saindo do quarto. A lâmina apareceu na minha frente, tocando meu pescoço. Virei a cabeça para para o lado, tentando ver quem segurava a espada.
—Vossa alteza. —Murmurou, saindo das sombras e dando um passo na minha direção, empurrando ainda mais a espada contra meu pescoço. Encarei os olhos claros que estavam fixos em mim, com uma expressão séria.
—Ah! —Soltei uma risada sarcástica, erguendo minha mão e tocando a lâmina que estava no meu pescoço, enquanto encarava o rapaz de cabelos loiros, nada estranho. —Cedric, não é? O amigo de rua da Kay.
—Se lembra de mim. —Ele soou um pouco surpreso, mantendo a espada firme contra meu pescoço.
—Difícil esquecer de um rostinho tão bonito quanto o seu. Ainda mais quando você fez tanta questão de quase estragar meus planos, não é? —Afirmei, vendo ele cerrar os olhos. —A que devo a honra da visita? Tenho certeza absoluta que não veio aqui pra me matar.
Ele me encarou por alguns segundos e então abaixou a espada, curvando os lábios, tentando conter a irritação.
—Quero conversar com você. —Afirmou, me fazendo erguer as sobrancelhas e rir.
—Certo. —Mordi o lábio e olhei pra ele de cima a baixo. —Isso vai ser no mínimo interessante.
Continua...
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Um Mundo de Sombras / Vol. 2
FantasyUMA CONJURAÇÃO DE MAGIA: PARTE II A Rainha das Rainhas foi julgada e condenada a uma prisão em seu próprio reino. Vivendo esquecida por séculos, agora ela está livre para governar os quatro reinos do continente. Usando magia das trevas para controla...