Capítulo 31: Tesouro dimensional.

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Kayla

Por favor...

Por favor...

Por favor....

Por favor...

Se você pedir "por favor", eu prometo que paro, filha...

Me sentei na cama, com o coração martelando no peito e a cabeça explodindo em uma dor de cabeça. Olhei ao redor, para o quarto silencioso, percebendo que Axel não estava ali. Me encolhi, limpando as lágrimas que eu nem percebi que manchavam meu rosto, antes de ficar de pé.

Caminhei até a janela, pressionando meus lábios em reprovação ao ver Devlon no jardim, com um grupo de guardas. Axel estava na frente dele, discutindo alguma coisa, com as sombras revoltadas sobre seus ombros. Sai do quarto, imaginando bem o motivo dele estar ali.

Assim que desci as escadas o cheiro maravilhoso de café me invadiu. Abri um sorriso ao ver a silhueta de Kenji ali, bebericando uma xícara de café, enquanto mexia em alguma coisa dentro de uma panela.

—Olha só, quem é vivo sempre aparece, não é? —Zombei, chamando a atenção dele. Kenji se voltou pra mim, abrindo um sorriso largo com o rosto ficando iluminado.

—Ei, princesa, senti sua falta também. —Ele se aproximou, abraçando minha cintura e deixando um beijo na minha testa. —Tenho um presente pra você.

—Presente? —Indaguei, um pouco desconfiada, vendo ele se afastar e ir até a sala, antes de puxar algo que estava no sofá. Kenji voltou para perto de mim, estendendo o livro de capa dura. Olhei pro livro, abrindo-o antes de folhear e ver o que havia nele. —Você roubou o livro das revelações?

—Hm... tecnicamente, não. Cedric e seus outros amigos esquisitos roubaram o livro. Então, acho que não é roubo, já que pra início de história o livro nem era deles. —Ele deu de ombros, sorrindo pra mim. —De qualquer forma, eles não sabiam lê-lo. Mas eu e o Axel conhecemos a língua dele. Podemos usar pra sabe...

—Saber sobre o tesouro na ilha perdida que o rei dos mares procurava? —Ele assentiu, enquanto eu voltava a olhar pro livro.

—Quer dizer, você ainda está querendo encontrá-lo, certo? —Ele puxou o livro das minhas mãos, deixando sobre a mesa, enquanto pegava uma xícara de café e entravava nas minhas mãos. —A ilha e esse tesouro.

—Quero. —Engoli em seco, fitando a xícara de café fumegante nas minhas mãos. —Se fizer o que ele diz que faz... eu quero, sim.

—Kay, você não acha perigoso mexer com isso? —Kenji hesitou, mas veio até mim de novo. —Sabe, mexer com a morte nunca é uma boa ideia.

—Não vou mexer com ela. Primeiro que nos nem sabemos ao certo o que aquele tesouro dimensional faz e, principalmente, se ele está mesmo nessa tal ilha. —Afirmei, apontando para o livro. —Você vai descobrir isso pra mim daqui a pouco.

—Kayla... —Ele segurou meu rosto entre as mãos. —Cuidado com o que deseja, princesa. Minha mãe desejou poder e hoje ele está tomando conta dela de uma forma perigosa.

—Eu sei. —Abri um sorriso pra ele, que provavelmente soou mais como uma careta. —Se eu surtar de novo, sei que você e o Axel vão fazer de tudo pra me conter.

—Você não vai surtar de novo. —Ele deixou outro beijo na minha testa. —Mas o seu namorado lá fora sim, se ficar tempo demais na presença daquele maldito pai.

—O que ele está fazendo aqui? —Caminhei para perto da janela, vendo Axel ainda conversando com Devlon. Suas expressões estavam sérias e tensas, como se quisessem pular um em cima do outro.

—Ele me encontrou vindo pra cá e insistiu em me escoltar. —Kenji revirou os olhos, como se aquilo fosse uma piada. —Minha mãe não ficou sabendo, não é?

—Falamos pra ele não contar. Se ele obedeceu ou não, eu não sei. —Engoli em seco e olhei por cima do ombro para Kenji. —Ele falou algo sobre a Cidade dos Ossos?

—Que tudo parece mais vivo e limpo por lá? —Kenji me fitou com as sobrancelhas erguidas. —Andou aprontando com o Axel, pelo visto.

—Você estava demorando demais pra aparecer. —Dei de ombros, voltando a olhar pra onde Axel estava, cerrando os punhos e se aproximando mais ainda do pai.

Axel

As sombras ao meu redor estavam irritadas, sussurrando sem parar na minha mente, enquanto eu encarava Devlon com a expressão mais repulsiva que eu conseguia exibir no meu rosto. Mas ele não parecia se importar com isso, já que continuava ali, falando sobre algo que eu não tinha o menor interesse.

—Eu só acho que você deveria pensar nisso. A rainha tem ideias profundas sobre o que fazer com esse mundo. —Ele deu um passo na minha direção, enquanto meu corpo inteiro ficava tenso. —E pra sua segurança e a da Kayla, talvez fosse bom voltar para o castelo. Ficar ao lado dela.

—Você nem se importa com a Kayla, pra falar isso. Só está aqui por causa do Kenji. Mas ele é adulto. Não obriguei ele a ficar longe da mãe. —Afirmei, vendo a expressão de negação no rosto dele. —Não estou interessado no que a rainha está fazendo. Fiz minha parte ao ajudar todos que estavam desse lado a quebrarem a barreira.

—Se a garota não existisse você estaria lá, assim como o príncipe. —Ele retrucou, quase como um rosnado. —O que ela tem de tão especial assim? Sabe que sua rainha poderia fazer um bom uso das safiras e dela, se você deixasse de ser tão sentimen....

Ele ficou em silêncio, com o rosto se curvando em uma expressão dura quando as sombras se enrolaram no seu corpo, ao mesmo tempo que impediam os guardas de ver o que acontecia ali. Tombei a cabeça de lado, vendo ele arquejar, parecendo estar com dor, quanto mais as sombras se enrolavam nele.

—Não fale dela, não olhe pra ela e sequer pense nela. —Me aproximei até estar com o rosto bem próximo ao dele. —Deixei de servir aquele reino no momento que você e sua rainha deixaram minha mãe morrer. Quero que fique bem claro que tudo que fiz antes foi pelo Kenji e só por ele. —Segurei o pescoço dele, sentindo uma vontade absurda de quebrá-lo naquele instante. —Se você ou a rainha voltarem a ameaçar a minha garota, eu mesmo deixarem esse mundo virado do avesso.

Soltei ele, deixando-o desabar no chão, enquanto as sombras regrediam de volta pra mim. Devlon ergueu os olhos e me encarou com uma fúria contida nos olhos.

—Suma daqui. Não quero ficar olhando pra sua cara. Saber que vim de você já é castigo suficiente pra mim. —Afirmei, virando as costas e entrando de volta na casa, com a porta da frente batendo com força atrás de mim.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora