Capítulo 6: Pesadelos.

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Kayla

Encarei o mapa na minha frente, marcando as condenadas que estavam no diário do rei dos mares, que eu descobri se chamar capitão Caiden. A história dele estava toda retratada em diários. Soube pelas suas anotações, que ele conseguiu a safira do fogo em uma das várias ilhas desconhecidas que haviam no mundo e não estavam nos mapas.

Ele usou ela pra conseguir seu poder sobre os mares, vencendo outros capitães piratas e fixando seu governo sobre todos aqueles que vencia. Ele descreveu cada batalha em que esteve, cada luta que venceu e cada momento que esteve em terra. A mais histórias ali do que eu jamais poderia imaginar.

—Alguma coisa nova? —Axel indagou, surgindo atrás de mim do meio das sombras. Ergui os olhos para o horizonte a minha frente, abrindo um sorriso fraco.

—Ele era apaixonado por uma mulher. A filha mais nova de um mercador da Cidade do Porto. —Balancei o diário, mostrando pra ele. —Ele descreve todos os encontros que teve com ela. Todos escondidos da família dela, já que eles eram super contra o relacionamento. Quer dizer, ele era um pirata. Mas... essa história é interessante e surpreendente.

—Por que surpreendente? —Axel indagou, puxando o diário das minhas mãos e o abrindo, folheando algumas páginas. —As pessoas fazem coisas impensáveis quando estão apaixonadas. —Arqueei as sobrancelhas e ele sorriu com o canto dos lábios. —Eu, por exemplo, levei três facadas de você e por você.

—Foi, não é? —Ri, puxando uma adaga da minha cintura e deslizando o dedo pela lâmina. —E você parece estar sempre interessado em levar outras. Isso faz de você alguém muito apaixonado.

—Lamentável, não acha? —Zombou, fechando o diário com um baque e olhando pra mim. —E você uma sortuda.

—Sortuda? —Ri, negando com a cabeça e me afastando dele, para poder olhar o mapa de novo.

—Sim, você me tem nas suas mãos. Não é algo a se sentir sortuda. —Olhei pra ele, vendo-o apontar para si mesmo. —Sou um homem e tanto, não acha?

—Metido. —Declarei, vendo ele soltar uma risada, enquanto eu abria um sorriso. —De qualquer forma, estou bem curiosa pra descobrir o que aconteceu pra ele desaparecer. E também, qual o tesouro que ele tanto fala nesses diários, que está por aí, em uma ilha fantasma, como você costuma chamar.

—Ja pensou que ele poderia estar se referindo a outra safira? —Axel arqueou uma das sobrancelhas. —Ele tinha uma em mãos. Poderia estar atrás das outras. Todos sempre estão.

—Não. Tenho certeza absoluta que ele estava se referindo a outra coisa. Se fosse uma safira, ele teria escrito com todas as letras. Ainda mais que ele já tinha uma. —Soltei o ar com força, olhando para o mapa, me sentindo frustrada. —Vou achar. Só preciso de tempo.

—Você está focando muito nisso. —Comentou, me fazendo erguer os olhos até ele de novo. —Não pode fugir da realidade pra sempre, Kay.

—Não estou fugindo. —Afirmei, engolindo em seco. —A realidade me atormenta todas as noites. Você, mais do que qualquer um, sabe disso.

Afirmei, vendo os olhos dele se fecharem por alguns segundos, como se ele não gostasse de tocar no assunto. Bem, eu também não gosto. Mas a verdade está bem ali. Todas as malditas noites, quando tento dormir, tenho pesadelos com meus irmãos.

Pensei que tudo acabaria quando matei minha mãe. Simon já estava morto e não havia mais nada que me ligasse ao passado. Mas ainda estou presa lá. Ainda a algo que me puxa cada vez mais fundo naquelas lembranças.

—Você... você não podia fazer nada, Kay. Você era uma criança, como eles. —Axel afirmou, enquanto eu sentia minha garganta começar a se fechar e meus olhos arderem.

—Não importa mais, não é? Eles estão mortos. —Dei de ombros, engolindo o choro e puxando o diário de volta pra mim. —Tenho outras coisas para pensar agora. O futuro, como todos gostam de lembrar.

—Kay... —Ergui os olhos até Axel e ele mordeu o lábio, parando de falar ao ver a minha expressão séria. —Tudo bem. Não vou tocar no assunto. Só quero te ajudar, okay? Quero te ver bem.

—Só... —Segurei a mão dele. —Só fique comigo. Não posso perder você também. Você, Kenji e... não posso perder vocês.

—Você não vai. —Axel garantiu, apertando a minha mão, abrindo um sorriso pequeno.

Ele ergueu os olhos para algo acima do meu ombro, ficando subitamente sério. Me virei, observando o navio que surgia no horizonte. Puxei a luneta de cima da mesa e o observei, vendo que estavam próximos demais de nós.

—Eles já nos viram? —Axel indagou, enquanto eu observava o navio se aproximar.

—Acho que não. —Joguei a luneta em cima da mesa. —Ainda.

Desci as escadas, desviando dos marujos que corriam, percebendo que tínhamos companhia no mar. Parei, segurando no parapeito do navio e vendo o navio se aproximar cada vez mais. Foquei minha atenção nele, sentindo o navio embaixo de mim começar a balançar quando o mar ficou mais forte e violento.

Deslizei meus dedos pela safira, lançando as ondas em direção aquele navio, fazendo-as se chocarem contra o casco, virando a posição que estava e o lançando para longe de nós. Minha respiração ficou alta, enquanto eu sentia a magia correr pelas minhas veias. O navio virou para o lado oposto, desaparecendo no horizonte da mesma forma que surgiu, a medida que a água o levava.

Quando não consegui mais vê-lo, sumi com a safira, virando as costas e voltando para onde Axel me esperava. Quanto mais tempo eu ficasse nas sombras do mar, mais tempo eu teria para fugir dos meus pesadelos.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora