Kayla
Haviam muitos motivos que me levariam a crer que as coisas estavam ficando piores a cada instante. A tensão no ar era palpável, a medida que eu e Axel saímos do bar de Astrid para irmos a fazenda que foi de Alissa e Gregory, quando eles ainda viviam na Cidade da Esperança.
A maioria dos guardas, que antes sequer prestava atenção em nós dois, quando chegamos a cidade, agora nos observavam de longe, analisando e observando como gaviões. Eu odiava isso, porque me lembrava da época que eu estava nas ruas da Cidade dos Ossos. Não era uma época muito boa para fazer amizade com guardas e agora parecia mil vezes pior.
Parei de caminhar ao chegar ao cemitério, respirando fundo e caminhando pela grama úmida até as duas lápides dos meus irmãos. Me ajoelhei na frente delas, sabendo que Axel estava um pouco mais atrás, me dando o espaço que eu precisava para respirar de verdade.
Não sei quanto tempo fiquei ali, olhando para aquelas lápides como se elas fossem uma tábua de salvação. Mas tive que me afastar quando Axel que aproximou, colocando a mão no meu ombro e me fazendo levantar. Segui ele pelas ruas da cidade, deixando que ele nos atravessasse para o início da floresta, antes de seguirmos pela floresta até a fazenda, em uma caminhada silenciosa.
O pomar atrás da casa estava feio e abandonado, com as árvores sem qualquer flor ou folhas, virando apenas em troncos e galhos retorcidos. A grama ao redor da casa estava alta e quando entramos na sala, encontramos tudo coberto de poeira.
Não fazia muito tempo que Alissa e Gregory tinham ido embora. Mas tempo suficiente para aquele lugar parecer uma ruína. E agora, eu e Axel precisávamos por tudo em ordem.
[...]
Continuei lendo o diário do rei dos mares, prestando atenção em cada passo dele pelo mundo, enquanto se apaixonava por aquela mulher, filha de um mercador. Eu nem precisava estar presente para saber o quanto ele a amava, apenas lendo aquelas páginas manchadas e silenciosas.
Ele ainda vagava pelo mundo no Rainha Vermelha, enquanto pensava numa forma de levá-la com ele, sem que o pai dela descobrisse. O romance deles era muito mais do simplesmente proibido. Era como a ruína da família dela.
Era incrível como ele sempre a descrevia como uma alma livre e bela, um pássaro engaiolado que precisava ser libertado, se não iria se desmanchar, se continuasse sendo obrigada a viver aquela vida que não a pertencia, por mais que tivesse nascido nela.
Fechei o diário, encarando um ponto fixo na cama. Todas as vezes que lia ele falando sobre ela, sentia que os conhecia cada vez mais, como se fosse pessoalmente. Além disso, podia entender perfeitamente o que ele queria dizer com o passei engaiolado. Era como eu me sentia, antes de fugir de casa.
—Um pássaro livre. —Murmurei para mim mesma, porque era o que eu havia me tornado. E não deixaria ninguém me aprisionar de novo. Nem mesmo meu próprio coração quebrado.
[...]
—Não tem uma só bebida nessa casa. —Axel resmungou, entrando no quarto e fechando a porta com um pouco de força desnecessária. —Como Gregory vivia aqui sem nada pra beber?
—Talvez ele só preferisse beber algo que não o deixasse de cabeça para baixo. —Afirmei, vendo ele estalar a língua e cruzar os braços na frente do corpo, olhando ao redor como se estivesse perdido. Então ele ergueu os olhos até mim e curvou os lábios em um sorriso travesso. —O que foi?
—Já sei o que vou fazer pra passar o tempo então. —Ele se aproximou da cama. —Você parece disposta o suficiente pra me responder de forma debochada, então não vai se importar se eu fizer isso...
Ele agarrou minhas pernas e me puxou pela cama, me fazendo soltar um gritinho de surpresa. Axel ficou de joelhos entre minhas pernas e abriu o botão da minha calça, puxando ela pra baixo com tudo, me deixando nua da cintura pra baixo.
—Axel... —Arfei, deixando o diário cair no chão, quando ele me puxou pra cima, me deixando sentada na cama. Ergui os braços quando ele puxou minha camiseta, passando-a por entre minha cabeça. —O que está fazendo?
—Estou te despindo. Depois vou te dar um banho. E então vou fazer amor com você. —Afirmou, com uma voz rouca que me fez morder o lábio pra não gemer.
—Você não costuma ser assim. —Murmurei, ficando com os cotovelos escorados na cama, enquanto observava ele tirar as próprias roupas agora. —Tão... tão...
—Tão? —Ele arqueou as sobrancelhas, ficando completamente nu na minha frente, o que me fez perder um pouco a fala. —Deixei você sem fala, amor?
Ah, sim, ele tinha me deixado sem fala. Era difícil encara-lo em toda sua glória na minha frente, perfeito e me olhando como se fosse me devorar, sem ficar completamente ofegante e sem fala.
—Venha, me deixei cuidar de você hoje. —Pediu, me puxando para o seu colo e depositando um beijo na minha testa.
—Carinhoso e fofo. —Afirmei, conseguindo terminar a frase de antes.
—Eu sei ser fofo quando quero. —Ele chutou a porta do cômodo ao lado, revelando a banheira já cheia. —Mas agora estou mais pra safado.
—Meu Deus! —Chiei, quando ele me depositou na água morna e se sentou atrás, me puxando para o seu colo. —Você já tinha pensado nisso quando foi lá no quarto, reclamar da bebida. Já havia deixado a banheira cheia.
Ele não respondeu, apenas encostou os lábios no meu ombro, fazendo toda minha pele se arrepiar com o contado dos lábios gelados na minha pele febril.
—Você está sempre tão tensa. —Deixei que ele puxasse meu cabelo para o lado, beijando meu pescoço, me fazendo fechar os olhos.
Aquele lugar era a minha destruição antigamente. Eu odiava ser tocada naquele ponto. Mas depois de um tempo com Axel, cada vez que ele me beijava ali, eu gostava. Porque eu sabia que era ele. Apenas ele me beijaria ali.
—Axel? —Chamei, quando ele ficou em silêncio, soltando um suspiro pesado.
—Em todas essas décadas, fiquei ao lado de Kenji, correndo atrás de algo que pudesse nos levar de volta pra casa. Quando chegamos às safiras, comecei a me perguntar o que faria depois que tivéssemos nossos planos concluídos. —Ele me abraçou, deixando o queixo escorado no meu ombro. —Eu sentia que ficaria sem rumo, porque nada parecia fazer sentido. Sei que Kenji estaria comigo. Mas ainda sim... era estranhamente solitário pensar no futuro.
Me virei com cuidado, olhando pra ele, vendo seus olhos fitarem os meus, antes de ele erguer a mão e tocar meu rosto, acariciando minha bochecha com o polegar.
—Mas isso mudou quando te conheci, Kay. Você me deu algo a seguir, algo a lutar. Não por ninguém, mas por mim mesmo. Você. —Ele deixou um beijo nos meus lábios, escorando a testa na minha. —Vou lutar por você e até mesmo morrer por você, se isso for o suficiente para deixá-la segura. Estarei do seu lado quando esse mundo se tornar sombras e ruína. E ficarei do seu lado quando tudo virar calmaria e se acertar.
Segurei o rosto dele e o beijei, me respeito ajeitando dentro da banheira para sentar em seu colo, com uma perna de cada lado do seu quadril. Axel me abraçou pela cintura, me beijando com a mesma sofreguidão que eu o beijava.
—Diga. —Pedi, com os lábios ainda colados nos dele.
—Amo você. —Afirmou, abrindo um sorriso. —Está ouvindo, Kay? Amo você, com tudo que você tem aí dentro. Bom ou ruim. Amo você.
Continua...
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Um Mundo de Sombras / Vol. 2
FantasyUMA CONJURAÇÃO DE MAGIA: PARTE II A Rainha das Rainhas foi julgada e condenada a uma prisão em seu próprio reino. Vivendo esquecida por séculos, agora ela está livre para governar os quatro reinos do continente. Usando magia das trevas para controla...