Cedric
Me arrastei para fora da água, sentindo minha mente pesada e meu corpo inteiro dolorido do impacto. O som do trem estava distante, deixando claro que ele estava se afastando para bem longe de onde eu estava. Enfiei a mão no bolso, apertando a safira entre os dedos, enquanto fechava meus olhos com força.
—Ah, não! —Fiquei de joelhos, levando a mão as costelas, vendo a mancha vermelha que havia ali. Me deitei na grama de novo, quando senti que estava cansado demais para sequer ficar de joelhos. A imagem daqueles guardas e daquela mulher ainda giravam na minha mente.
Eles estavam todos mortos. Não importava o que fazíamos, eles não morriam. E a mulher se parecia... se parecia com a minha mãe? Ou pelo menos se parecia comigo, já que eu nem ao certo me lembro da minha mãe. Mas ela também estava morta. Esfreguei a mão no rosto, sentindo meu corpo molhado começar a me deixar com frio.
Fiquei de pé com dificuldade, sentindo meu corpo pesar muito mais do que deveria ser possível. Com um suspiro pesado comecei a caminhar em direção a colina que os trilhos do trem seguiam. Ou eu encontraria guardas no caminho, ou encontraria Trevis. Eu só esperava que ele estivesse bem.
Os trilhos do trem me levaram até a Cidade Outonal. Não encontrei nenhum guarda é muito menos Trevis no caminho. Não sabia se deveria ficar aliviado ou preocupado. Ele estava sem os poderes da safira. Ela ainda pesava no meu bolso, deixando claro que ainda estava presente. Mas eu nem sabia usá-la.
Eu não tinha moedas. Estava morrendo de fome. Estava morrendo de frio. E minha única arma era uma faca escondida na bota. Inevitável fiz o que sabia fazer de melhor enquanto estava nas ruas. Fui até a igreja da cidade, roubei algumas roupas secas no caminho e me escondi lá, esperando o momento certo para conseguir algumas moedas e ir embora.
Não era a primeira vez que eu roubada da igreja. Tudo bem, não era nem um pouco legal. Mas era isso ou morrer de fome. E naquele momento, parecia muito uma questão de vida ou morte. Sai de lá com os bolsos cheios de moedas. Girei a cidade toda, sentindo o machucado na minha costela me deixar cada vez mais fraco. Quando não encontrei nenhum sinal de Trevis, peguei um trem para a Cidade da Esperança, pra onde deveríamos ir desde o início.
[...]
—Não vê? Estamos todos mortos, filho...
Abri os olhos, olhando ao redor como se subitamente fosse ver a mulher ali, na minha frente. Mas a cabine do trem estava vazia. O som da minha respiração pesada se sobressaia ao som do trem parando. Esfreguei a mão no peito, sentindo meu coração acelerado, enquanto revia a mesma cena o tempo todo.
Afastei a jaqueta roubada e vi a camisa escura manchada de sangue. Engoli com dificuldade e coloquei a jaqueta na frente de novo, fechando a mesma. Quando o trem parou, sai o mais rápido que conseguia, evitando qualquer guarda no caminho. Tentei me misturar o máximo que conseguia, enquanto pensava em qual lugar começar a procurar. Não fazia ideia de onde Kayla poderia estar. Isso se ainda estava ali.
Sai da estação de trem e parei por alguns segundos, franzindo a testa para o céu noturno limpo e cheio de estrelas. Meus lábios se curvaram em confusão, ao mesmo tempo que meu rosto se curvava em uma careta ao ver as árvores nas ruas floridas. As lamas que tomavam conta das ruas não existiam mais, com o chão de terra sendo coberto por uma grana verde que estava nascendo. Tudo parecia mais... vivo? Se é que aquilo era possível.
Olhei para o lado, soltando um grunhido de frustração quando vi um grupo de guardas vindo na minha direção. Sai caminhando pela rua parcialmente cheia. Naquele horário deveria estar vazia. Mas com a cidade parecendo mais viva, as pessoas pareceram parar de se importar com os guardas da rainha.
—Merda, merda, merda... agora não! —Rosnei, levando a mão até minhas costelas, enquanto caminhava mais rápido que conseguia, sentindo meu corpo estremecer em reprovação, enquanto eu desviava das pessoas.
Disparei pela rua sem nem olhar pra trás, tendo certeza que eles estavam seguindo a mim e não a qualquer outra pessoa que estava na rua. Ouvi os gritos e assobios dos guardas, enquanto eu virava uma rua, sentindo meu corpo pesado demais pra correr.
Puxei a faca da bota, segurando-a com o punho firme, enquanto virava em outra rua, desviando das pessoas, que gritavam assustadas e finalmente percebiam que algo estava errado. Senti meu braço ser puxado para trás. Me virei, erguendo o punho ao mesmo tempo que meu corpo se chocava contra o do guarda que havia me segurado.
Enfiei a faca na garganta dele, puxando-a de volta ao mesmo tempo que voltava a correr, nem um pouco interessado em saber se ele estaria morto ou não. Depois do trem, acho que não me surpreenderia de vê-lo ficar de pé e correr atrás de mim de novo.
Desviei das pessoas no caminho, virando em outra rua mais estreita. Encarei as paredes das construções ao redor, subindo em uma caixa e pulando para alcançar as pilastras de uma janela. Escalei a janela até chegar a uma varanda, escalando a parede até o telhado. Voltei a correr, escorregando sobre as telhas ao sentir uma fisgada na minha perna.
Olhei para trás um segundo, vendo os guardas surgindo sobre o telhado, correndo atrás de mim. Soltei um grito quando o telhado cedeu e eu caí em cima de um armário, antes de ir para o chão, com o corpo sendo tomado pela dor, latejando em cada ponto.
Gemi de dor, puxando o ar com força ao sentir que não conseguia respirar. Tentei ficar de joelhos, agarrando a safira que estava no meu bolso e a apertando entre os dedos, desejando muito que Kayla aparecesse milagrosamente.
—Prendam ele. —Ergui os olhos para a voz masculina, vendo os guardas entrando no cômodo, desviando da silhueta de alguém que eu conhecia bem. —Sozinho, Cedric? Estava esperando encontrar seus amigos também.
Balancei a cabeça em negação, com os guardas agarrando meus braços e me deixando de joelhos. A safira sumiu da minha mão de repetente, fazendo meus lábios se pressionarem em resignação.
—Podem levá-lo. —Devlon ordenou.
Continua...
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Um Mundo de Sombras / Vol. 2
FantasíaUMA CONJURAÇÃO DE MAGIA: PARTE II A Rainha das Rainhas foi julgada e condenada a uma prisão em seu próprio reino. Vivendo esquecida por séculos, agora ela está livre para governar os quatro reinos do continente. Usando magia das trevas para controla...