Capítulo 41: Façamos uma troca.

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Sai da linha das árvores junto com Axel, vendo a fazenda logo a nossa frente. Os três ainda estavam seguindo nós dois, em completo silêncio. Mesmo parecendo não gostar, Axel também havia parado de debater sobre quão ruim tudo isso é. Caminhamos até a casa, subindo a pequena varanda. Antes que eu abrisse a porta, Kenji já havia feito isso, olhando diretamente para os três atrás de nós.

—Hm... parece que andaram bastante ocupados. —Comentou, passando a mão nos cabelos, enquanto eu erguia as sobrancelhas. —Lembra do diário do capitão?

—Sim? —Gesticulei para que ele falasse, já que ele parecia não ter interesse de sair da frente da porta e nos deixar entrar.

—Lembra que ele tinha uma namorada... esposa ou sei lá o que ela era? —Indagou de novo, umedecendo os lábios com a língua. Não respondi, o que o fez ficar em silêncio, arrancando um bufar de Axel.

—Da pra falar logo, Kenji? Estamos encharcados até os ossos! —Exclamou, fazendo o melhor amigo revirar os olhos.

—Sim, sim... está bem. —Ele soltou uma risada nervosa. —Ei, vocês três, acho que vão querer ouvir isso também. —Ele olhou por cima do meu ombro, fazendo uma careta. —Bem, pelo que parece ele tinha um filho também. Com ela, quero dizer. E... ao que tudo indica esse filho era o Cedric.

Inclinei minha cabeça pra frente, enquanto ninguém dizia absolutamente nada. Kenji sorriu pra mim, parecendo um pouco sem graça.

—Como?

—Ah, princesa, achei que sabia como filhos eram fei... —Dei um soco no ombro dele, que o fez cambalear para trás e sair da frente da porta. —Caramba, Kay. Eu só estava tentando aliviar o clima. —Chiou, fazendo uma careta. —Ele achou o diário e viu um desenho da mulher que teoricamente é a mãe dele e que teoricamente é a mulher do capitão.

—E como ele sabe que ela é mãe dele se nunca a conheceu? —Lyra indagou, fazendo Kenji olhar pra ela, ficando mudo.

—É uma longa e estranha história. —Kenji se aproximou de Trevis e bagunçou os cabelos dele, que sorriu. —Ele está lá em cima. Não quer conversar comigo. Por que não sobe lá? Talvez com você ele converse.

Trevis fez isso, deixando todos nós pra trás. Fiquei ao lado de Axel, enquanto Kenji se virava para as duas mulheres desconfiadas na porta. Deixei que ele mesmo contasse o que havíamos descoberto, enquanto tentava processar essa nova informação.

[...]

Enfiei as coisas dentro da mochila, escutando o som da porta se abrindo e se fechando. Sempre sabia quando Axel estava no mesmo cômodo que eu por conta das sombras e por já conhecê-lo o suficiente para saber como ele agia e se movia.

—Os quatro estão trancados no quarto conversando. —Comentou, parando ao meu lado. —Acha que podemos confiar neles? —Olhei pra ele, soltando um suspiro pesado. —Só gostaria de lembrá-la que você matou todos os reis, Kay. E o pai daquela princesa foi um deles.

—Ela não vai me atacar. —Afirmei, vendo ele estalar a língua. —Se quisesse fazer isso, já teria feito. E também, ela não estaria errada, não é? —Ele não respondeu, porque sabia o que eu queria dizer. —Eu só estaria recebendo a conta das minhas ações.

—Você estava tentando sobreviver! —Ele rebateu, me fazendo engolir o nó que se formou na minha garganta.

Sim, eu estava tentando sobreviver. Naqueles dias, eu estava tão confusa, tão sufocada e furiosa com todo mundo que só queria me livrar de qualquer problema. Explodir na Cidade dos Ossos foi tão fácil. Eu podia simplesmente usar as safiras que meus problemas sumiam. Não estava pensando direito naquela época, eu estava apenas tentando sobreviver, como sempre estive.

Axel me levou para as terras esquecidas depois daquilo. Cuidou de mim. Quando acordei, estava tão bem, tão viva e forte. Sabia que poderia fazer qualquer coisa. Mas então lá estávamos. Ele um portador das sombras imortal, com séculos de vida, e eu, uma conjuradora que iria envelhecer.

Façamos uma troca. —A rainha das rainhas disse, quando Axel praticamente implorou para que ela me desse a imortalidade também. Para que permitisse que eu também fosse como ele. Eu não tinha nada além daquilo. Nada além de Axel e um futuro confuso em que eu provavelmente morreria, já que todos ainda queriam as safiras. Tudo que eu tinha foi tirado de mim da pior forma possível. Se Axel era a única coisa sólida que eu conseguiria ter, então iria lutar por isso.

E lá estava eu, entrando em cada castelo, falando com cada rei e rainha. Não deveria matá-los. Eu deveria subjulgá-los. Fazer com que cada um deles se ajoelhasse perante a rainha das rainha e a reconhecesse como sua soberana. Mas eles estavam cheios de pensamentos perversos. Todos eles, da mesma forma que o rei solar e o príncipe, queriam as safiras. Achavam que com elas não precisariam aceitar a rainha naquelas terras de novo.

Eu não ataquei primeiro. Eu me defendi. Fiz isso em cada reino por onde passei. E quanto mais eles tentavam contra mim, mais escolhas por instinto eu precisava fazer. Matar cada um deles foi uma escolha muito fácil, porque eles tomaram isso muito fácil. Poderiam simplesmente ter se ajoelhado a rainha.

Sem eles no caminho, ela mesma colocou outros para governar os reinos e torná-los cortes. Em troca disso, ganhei minha imortalidade. Não me orgulho do que fiz. Mas não faria nada diferente. O mundo não fez absolutamente nada por mim, além de me machucar a cada passo do caminho.

—O que quer que eu faça? —Indaguei, olhando para Axel. —Vamos voltar para o mar e achar aquela ilha. Vamos resolver essa situação, Axel. E então vamos ser eu e você de novo. É isso que quer, certo?

Ele soltou um suspiro frustrado, como se não fosse aquilo que ele queria ouvir. Mas era aquilo que eu tinha para dar no momento. Ele me puxou para um abraço, parecendo querer se fundir a mim, enquanto seu coração martelava na minha cabeça quando pressionei meu rosto no seu peito.

—Vou seguir você pra onde você for, mesmo não concordando. —Ele beijou o topo da minha cabeça. —Você é a única rainha que existe pra mim.


Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora